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Reino Unido. Polémica com ministra do Interior domina primeiro debate semanal de Sunak

Rishi Sunak debate com o líder da oposição, o trabalhista Keir Starmer (ao centro), no seu primeiro debate semanal enquanto primeiro-ministro
Rishi Sunak debate com o líder da oposição, o trabalhista Keir Starmer (ao centro), no seu primeiro debate semanal enquanto primeiro-ministro
Parlamento do Reino Unido/Getty Images

Oposição acusa novo primeiro-ministro de ter desconsiderado a segurança nacional a troco do apoio de Suella Braverman na eleição para chefe dos conservadores. Sunak insiste que a ministra “reconheceu o seu erro”

A nomeação de Suella Braverman para ministra do Interior, seis dias após a sua demissão por ter violado regras de segurança, esteve no centro do primeiro debate semanal de Rishi Sunak enquanto primeiro-ministro, na Câmara dos Comuns. Com a visada a assistir, o seu chefe chutou para canto.

Keir Starmer, chefe do Partido Trabalhista, celebrou a chegada ao n.º 10 de Downing Street do “primeiro britânico asiático”, referindo-se às origens de Sunak. “O Reino Unido é um lugar onde pessoas de todas as raças e crenças podem realizar os seus sonhos.”

Mas não tardou a perguntar: “A ministra do Interior fez bem em demitir-se na semana passada?” Sunak preferiu desvalorizar a quebra do código de conduta ministerial por Braverman, que “reconheceu o seu erro”. Indicou em seguida as prioridades do ministério da regressada, como “combater o crime e proteger as fronteiras”.

Starmer acusou-o de ter posto o partido à frente do país. “Vendeu a segurança nacional por ter medo de perder outra eleição para a liderança”, afirmou. Ou seja, Sunak, que em julho perdeu a disputa interna contra Liz Truss, só nomeou Braverman a troco do seu apoio na recente corrida a chefe dos tories.

Sobre Braverman, o Partido Trabalhista agendou para a tarde desta quarta-feira uma “pergunta urgente” na Câmara dos Comuns. Pretende que a ministra esclareça as circunstâncias da sua demissão e readmissão e por que motivo seis dias bastaram para eliminar as razões do seu afastamento. Mas Braverman ausentou-se, deixando um secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros a responder em seu lugar.

“Dois pesos e duas medidas”

“Dada a decisão do primeiro-ministro de renomeá-la para o cargo governamental responsável pela segurança nacional é vital para a opinião pública que haja transparência”, exigiu a trabalhista Yvette Cooper, ministra-sombra do Interior. “Deve abranger a âmbito do uso pela ministra do Interior de contas de email particulares para divulgar documentos do Governo e até que ponto documentos oficiais foram enviados para fora do Governo.”

Também os Liberais Democratas exigem uma investigação, após a “grave quebra de segurança” indicada pelo Governo de Liz Truss como motivo para a queda de Braverman. “Caso se confirme que Suella Braverman violou repetidas vezes o código de conduta ministerial e ameaçou a segurança nacional, tem de ser demitida”, frisou o porta-voz Alistair Carmichael. “Um ministro do Interior que viola as regras não serve para um Ministério do Interior que mantém as regras.”

O sindicato da administração pública FDA acusou Sunak de “dois pesos e duas medidas”. O seu presidente, Dave Penman, disse que um funcionário público que tivesse comportamentos como os de Braverman “enfrentaria, e bem, a penalização mais dura, perdendo as suas autorizações de segurança”. A seu ver, o sinal dado é que “os ministros podem agir com impunidade se der jeito ao primeiro-ministro”.

Gavin Barwell, que foi chefe de gabinete de Theresa May e é do Partido Conservador de Sunak, afirmou que não teria incluído Braverman no Governo. “Foi um bom começo, acho que o discurso esteve no tom certo, a nomeação de Suella foi provavelmente a nota mais contestável.”

Compromisso ambiental, que não social

No Parlamento, Starmer também atacou Sunak por manter o regime fiscal dos não-residentes, que em tempos permitiu à mulher do primeiro-ministro, a milionária Akshata Murthy, pagar menos impostos (acabou por pagar mais do que a lei exigia, voluntariamente, uma vez rebentado o escândalo).

O trabalhista lamentou que o custo da crise caia sobre os mais pobres e acusou Sunak de ter defendido o desvio de investimentos de zonas pobres para outras mais ricas. “Finge estar do lado do povo trabalhador, mas em privado diz coisas muito diferentes.”

Exortou-o, uma vez que diz não temer o veredicto popular, a convocar eleições. “Liderança não significa vender contos de fadas, antes enfrentar desafios”, contrapôs Sunak, recordando que antes de chefiar a oposição, Starmer teve por chefe Jeremy Corbyn.

Ainda antes do debate semanal, o Executivo fez saber que o ministro das Finanças, Jeremy Hunt, apresentará um programa orçamental a 17 de novembro, em vez da data prevista, a próxima segunda-feira.

Outra referência às famílias desfavorecidas veio de Ian Blackford, líder parlamentar dos nacionalistas escoceses. Reiterou as críticas a Braverman — que quer mandar candidatos a asilo para o Ruanda — exigiu garantias de que o orçamento de Sunak permitirá que as prestações sociais subam em linha com a inflação. O primeiro-ministro não se comprometeu.

A única deputada dos Verdes, Caroline Lucas, pediu a Sunak que mantivesse a proibição da fraturação hidráulica (fracking), que a antecessora Truss queria revogar. “Já disse que defendo o programa eleitoral [que bania o fracking]”, respondeu o governante, orgulhoso da proteção ambiental promovida pelo Executivo conservador.

Empate técnico

Nos jornais britânicos considerou-se, regra geral, que Sunak não esteve mal, mas ainda não deu o impulso necessário para inverter a má tendência dos tories nas sondagens. “Se fosse um jogo de futebol, teria sido um empate”, escreveu “The Telegraph”, próximo dos conservadores. O primeiro-ministro e Starmer estiveram bem, mas “nenhum conseguiu o momento chave que lhe assegurasse uma vitória clara”.

“Não muda o fundamental. O Partido Conservador ainda está num buraco”, escreveu o comentador Dan Hodges, do tabloide “Mail on Sunday”. A seu ver, Starmer tem tudo para ganhar as próximas eleições. “Ainda assim, foi um massacre. Rishi Sunak estava preparado para Keir Starmer em todas as questões. Os deputados trabalhistas estarão preocupados.”

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