Assassinos de Khashoggi usaram aviões de uma empresa anexada um ano antes pelo príncipe da Arábia Saudita
ERDEM SAHIN/EPA
Os aviões privados em que os assassinos do jornalista Jamal Khashoggi viajaram até Istambul são parte da frota de uma empresa detida pelo fundo soberano saudita, que o próprio príncipe herdeiro terá mandado anexar ao portefólio de empresas estatais menos de um ano antes da morte violenta de Khashoggi no consulado saudita em Istambul
É mais uma ligação difícil de explicar entre o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, e a morte do jornalista Jamal Khashoggi. Novos documentos aos quais a CNN teve acesso mostram que os dois aviões privados usados pelos homens acusados de o matar no consulado da Arábia Saudita em Istambul, em outubro de 2018, faziam parte da frota de uma companhia aérea apreendida pelo príncipe Mohammed bin Salman menos de um ano antes da morte do jornalista - que se tinha tornado demasiado crítico da monarquia saudita.
"O príncipe estaria de certo a acompanhar todos os movimentos da companhia aérea e saberia para que propósitos é utilizada. É mais uma prova de que saberia dos planos, o que sempre foi um ponto controverso nesta história”, disse à CNN Dan Hoffman, antigo diretor da divisão da CIA responsável pelas operações no Médio Oriente. Mas um ano depois do assassínio, o príncipe defendeu-se assim dessa mesma suspeita: “Temos 20 milhões de pessoas no país e três milhões de funcionários públicos”, disse no programa de investigação Frontline, da PBS.
Estas novas informações fazem parte de um caso que está a ser ouvido num tribunal do Canadá, estão classificadas como “muito secretas” e mostram que o ministro que aprovou a tomada da empresa por parte da monarquia agiu mediante ordens diretas do poderoso príncipe, que apesar de não ser oficialmente líder do país é-o de facto. “De acordo com ordens de Sua Majestade o Príncipe, executem imediatamente os passos necessários para este fim”, lê-se nos documentos entregues em tribunal.
No fim de 2019 a empresa Sky Prime Aviation foi transferida para a orla governamental, mais precisamente para o fundo soberano saudita, também conhecido como Fundo para o Investimento Público e que tem um valor total de 400.000 milhões de dólares. Esse fundo é controlado diretamente pelo príncipe Mohammed bin Salman.
Estes documentos vieram a público não por causa de qualquer investigação diretamente ligada com a morte de Khashoggi mas porque fazem parte de uma queixa movida por várias empresas públicas sauditas contra um dos principais dirigentes das secretas sauditas, Saad Aljabri, por suspeitas de fraude. Mas o rasto judicial é ainda mais complexo. Este caso de suspeita de fraude está ligado a um outro, movido pelo próprio Aljabri num tribunal distrital de Washington D.C. contra o príncipe herdeiro, que o chefe dos espiões acusa de ter enviado uma equipa de assassinos para o matar no Canadá poucos dias após a morte de Khashoggi.
Não muito depois de o jornalista saudita ter sido morto no consulado saudita em Istambul, a CIA escreveu, num relatório sem grandes rodeios, que Mohammed bin Salman ordenou pessoalmente o assassínio. A investigação das Nações Unidas concluiu uma coisa muito parecida, em 2019: que era "inconcebível" que o príncipe não tivesse conhecimento da operação.