A história dos 10 fugitivos mais procurados (dos quais já não faz parte “o maior criminoso do século XX”)
Os mais procurados, os mais perigosos, os mais difíceis de capturar: são dez e são todos homens. Mataram, roubaram, violaram. São todos procurados pelo FBI. No dia em que o narcotraficante “El Chapo”, considerado pela Justiça norte-americana como “o maior criminoso do século XX”, foi condenado a prisão perpétua, contamos a história dos 10 (e outros dois) fugitivos mais procurados” pelas autoridades
“Perigoso e possivelmente armado.” O alerta em maiúsculas azuis salta à vista nos cartazes divulgados pelo FBI de Alejandro Rosales Castillo, Yaser Abdel Said, Jason Derek Brown, Rafael Caro-Quintero, Alexis Flores, Eugene Palmer, Santiago Villalba Mederos, Robert William Fisher, Bhadreshkumar Chetanbhai Patel e Arnoldo Jimenez. São dez homens e os seus rostos estão em cartazes porque cometeram crimes graves: mataram ou roubaram ou violaram ou raptaram ou traficaram. Pior: alguns fizeram tudo isto. Eles são os “toughest guys”, aqueles que as autoridades norte-americanas mais querem apanhar. Eles são os “dez homens mais procurados”.
Na forma como são apresentados naquela lista dos FBI (Departamento Federal de Investigação dos EUA) diferem apenas pela ausência ou não do adjectivo “extremamente” que antecede o “perigoso”. Por vezes, lê-se ainda “risco de de fuga” ou um alerta para “tendências violentas”.
A história de Rafael Caro-Quintero é provavelmente aquela que é mais semelhante a uma outra que esta quarta-feira foi notícia em todo o mundo: a do narcotraficante Joaquín “El Chapo” Guzmán, que foi condenado a pena perpétua. Rafael Caro-Quintero é considerado o avô de tráfico de droga no México e, tal como “El Chapo”, estará ligado ao cartel de Sinaloa e a outras organizações de narcotráfico, incluindo à fundação do cartel de Guadalajara. É também suspeito de ter ordenado a tortura e a morte de um agente do FBI em 1985.
Informações que levem diretamente até à sua detenção podem ser recompensadas com recompensas até 20 milhões de dólares (cerca de 17 milhões de euros).
Diz-se que Rafael Caro-Quintero nasceu a 24 de outubro de 1952 e também a 3 de outubro de 1952, a 24 de novembro de 1952, a 24 de outubro de 1955, a 24 de novembro de 1955 ou até em 9 de março de 1963. Pouco se sabe sobre este homem que em tempos era identificado pelos cabelos negros e que a eficácia da sua fuga já fez com as autoridades alterassem a sua cor de cabelo nos registos para “cinza/branco”. É uma das figuras retratadas na série da Netflix “Narcos”.
Tem 11 irmãos, é o mais velho dos rapazes. Ainda durante a adolescência criou pequenas plantações de canábis. Esteve preso e mesmo aí continuou a gerir os seus negócios. Havia de ser imediatamente libertado após decreto de uma juíza mexicana, que considerou que o julgamento tinha sido mal conduzido. Então Caro-Quintero foi libertado. E, suspeita-se, voltou ao seu negócio. Provavelmente, continuará a geri-lo. Onde e como?
Mataram filhas, namoradas. Assassinaram desconhecidos que estavam no lugar errado
Ainda mal completara 18 anos e Alejandro Rosales Castillo já era procurado pelo FBI. Terá matado a ex-namorada, que era também sua colega de trabalho. Estará algures no México, foi visto pela última vez em território norte-americano a atravessar a fronteira: pode estar a viver em San Francisco de los Romo ou em Pabellón de Arteaga ou em Guanajuato , no centro do país, ou ainda bem mais a sul, em Veracruz.
Usava - talvez ainda use - o cabelo curtinho, com as laterais rapadas, descreve o FBI. O crime que acreditam que Castillo tenha cometido aconteceu a 15 de agosto de 2016, em Charlotte, no estado norte-americano da Carolina do Norte. A rapariga foi morta com um tiro na cabeça. O corpo só seria encontrado um par de dias depois e o seu carro a mais de três mil quilómetros de distância: em Phoenix, no estado do Arizona.
Yaser Abdel Said era um taxista em Irving, no Texas. Nascido no Egito e vivido nos EUA, onde casou e foi pai. É suspeito do homicídio das suas duas filhas adolescentes, Amina e Sarah. Terá disparado sobre ambas mais que uma vez até as matar.
As autoridades têm conhecimento de várias mensagens enviadas pelas duas jovens aos amigos e em que os abusos eram denunciados. “Ele trata-me como uma prostituta”, escreveu Amina uma vez. De acordo com os jornais locais que em 2008 acompanharam o desenrolar da investigação, Said acreditava que as jovens “desonravam a família”. “Ele mete-se em tudo, ele sabe de tudo”, podia ler-se numa outra mensagem.
O homem teria arranjado casamentos para as filhas, que rejeitaram os pretendentes. Quando Amina, a mais velha das duas, começou a namorar, Said levou a família para outra cidade. Amina planeava fugir com o namorado e casar em Las Vegas.
Tem 62 anos e sabe-se que se anda sempre armado. Desde que chegara ao Estados Unidos procurara manter-se próximo das comunidades egípcias das cidades em que morou. Além do Texas, tem ligações a Nova Iorque, Virgínia e Canadá. “Dizia ser um apaixonado por cães, sobretudo pastores alemães de pelo acastanhado e com manchas pretas”, sublinha o FBI. “Frequenta os restaurantes Denny e IHOP e fuma cigarros Marlboro”, pode ainda ler-se.
Também Robert William Fisher matou os filhos. Matou-os aos dois, matou a mulher de quem se estava a divorciar e, por fim, fez explodir a casa da família, em Scottsdale, no Arizona. Foi em abril de 2001, pouco faltava para as 09h.
Depois desapareceu. Perderam-lhe o rasto dias depois, quando a polícia encontrou o carro habitualmente conduzido pela mulher e cão da família, Blue, na Floresta Nacional de Tonto, a pouco mais de 150 quilómetros da cidade onde viviam.
O FBI descreve-o como um homem em forma, caçador e pescador. “Tem uma coroa dourada num dente. Pode andar com um postura exageradamente direita, com o peito puxado para a frente devido a uma lesão que têm no fundo das costas.” Estará armado.
Arnoldo Jimenez é procurado por ter matado a mulher, de 26 anos, três anos após o casamento. Tê-la-á esfaqueado nas costas, a partir dos bancos de trás do seu carro, em Burbank, no Illinois. Em seguida, levou o corpo para casa e deixou-o na casa de banho, dentro da banheira. Tinham saído para jantar, mas acabaram por discutir e Jimenez tornou-se violento.
No dia seguinte, a mulher não apareceu para ir buscar os filhos. Quando a encontraram ainda tinha usava o vestido que usara na noite na anterior para celebrar.
"Por causa deste horrível crime, a família perdeu para sempre uma mãe, uma filha, uma irmã. As nossas equipas têm trabalhado incansavelmente nesta investigação e agora pedimos ajuda à população para assegurar que Jimenez é levado à Justiça”, dizia Jeffrey Sallet, responsável pela investigação do caso, em declarações à NBC. É suspeito de ter embarcado ilegalmente num voo para Durango, no México.
Bhadreshkumar Chetanbhai Patel foi incluído na lista dos “10 mais procurados” pelo FBI há pouco mais de quatro anos. Acusam-no de ter matado a mulher.
Nascido na Índia, procurou emprego nos EUA. Quando tudo aconteceu trabalhava numa loja de donuts, em Maryland, emprego que partilhava com a mulher. Terá sido durante o horário de trabalho que a agrediu com um objeto não identificado pelas autoridades.
De acordo com as imagens das câmaras de vigilância a que a CBS Baltimore teve acesso, o casal desapareceu por uns momentos e, quando Patel regressou, estava sozinho. Desligou o forno e saiu da loja.
Além do crime de homicídio está também em causa o crime de fuga do país para evitar a acusação.
Alexis Flores é procurado pelo crime de homicídio. E também por rapto e, possivelmente, violação. Mas vamos por partes: o homem cuja idade varia entre os 36 e 44 anos foi detido pelas autoridades norte-americanas por estar ilegalmente no país, após um vizinho se queixar do barulho que vinha do apartamento de Flores. Mostrou documentos falsos e foi de imediato levado. Acabou condenado a 60 dias de prisão e deportado para as Honduras.
Entretanto, durante esse período de encarceramento, a política recolheu o ADN de Flores, que mais tarde se veio a revelar compatível com o ADN de “Carlos”, um homem que desapareceu e que na cave do seu apartamento foi encontrado o cadáver de Iriana de Jesus, um criança de cinco anos. Fora violada, estrangulada e enrolada num saco do lixo. Mas a descoberta foi tardia: o homicida já tinha sido entretanto deportado.
“Carlos” e Flores são, sempre foram, a mesma pessoa.
É conhecido como Pucho. Chama-se, na verdade, Santiago Villalba Mederos. Está envolvido numa série de crimes na zona de Tacoma, em Washington. Faz parte de um gangue que se apresenta como ELS - e alguns dos seus membros já foram detidos, julgados e condenados por homicídio.
Pucho é suspeito da morte de Camille Love, uma rapariga de 21 anos que foi atingida a tiro enquanto conduzia - ela e o irmão (que ficou gravemente ferido) foram confundidos com membros de um gangue rival do ELS. Um mês depois, na sequência de uma cena de pancadaria com três outros homens, Pucho fugiu a pé e, no caminho, disparou sobre Saul Lucas-Afonso, que acabaria por morrer. A polícia não encontrou qualquer ligação entre as vítimas e gangues.
O suspeito terá já deixado os Estados Unidos.
Jason Derek Brown tem o perfil daquilo a que o FBI habitualmente não consideraria “um criminoso em fuga”: é mestre em relações internacionais, fluente em francês, praticava golfe, snowboard, ski e motocross. “Gostava de ser o centro das atenções e era sabido que gostava de ir a discotecas e exibir os carros, barcos e outros brinquedos de custos elevados.” Era mórmon e tinha feito missão nos arredores de Paris - daí que as autoridade ainda apontem ligações de Brown a França.
Em novembro de 2004, Brown, então com 35 anos, atingiu um funcionário que conduzia uma carrinha de valores, que estava estacionada junto à entrada de um cinema na cidade de Phoenix, Arizona. Depois levou o dinheiro e fugiu.
“No passado, viajou para França e México. Pode ainda ter em sua posse uma Glock 9mm e uma pistola de calibre 45”, alerta o FBI.
Norte-americano, 80 anos. Eugene Palmer está em fuga por ser suspeito de disparar e matar a sua nora em setembro de 2012, em Nova Iorque. Ambos teriam discutido.
“É conhecido pelo seu interesse em corridas de automóveis e por ser um apaixonado por carros. Tem experiência como caçador”, refere o FBI.
A família acredita que o homem morreu no parque, pouco depois de ter cometido o crime. As autoridades têm outra teoria e já este ano acrescentaram o nome de Palmer à lista. Ele é o homem procurado mais velho de sempre.
Os outros dois: o mais rápido e o mais demorado
A história de Billy Austin Bryant na lista dos fugitivos mais procurados conta-se apenas em duas horas. Escapou às autoridades quando saiu pela janela do seu apartamento em Maryland e desceu por uma árvore nas traseiras da casa. Tinha acabado de matar dois agentes do FBI que lhe tinham batido à porta.
O crime inicial de Bryant foi roubo. Primeiro, roubou um Maroon Cadillac vermelho muito pouco discreto e, em seguida, foi assaltar um banco que habitualmente frequentava. Já estava debaixo de olho das autoridades por outros roubos e a frequência dos seus crimes levou a que o FBI pegasse no caso. Corriam os primeiros dias de 1969 quando três agentes foram até casa da namorada do suspeito. Assim que a porta se abriu, Bryant disparou e atingiu mortalmente dois homens.
O resto da história já conhece: fuga, janela, árvore, duas horas, detenção, julgamento e prisão. Billy Austin Bryant foi condenado a duas penas de prisão perpétua sem possibilidade de sair em liberdade condicional, que só seriam cumpridas após completar os outros tantos anos de prisão pelos crimes de roubo. “Irá morrer na prisão, mas no momento em que Deus decidir”, decretou o juiz.
Ao contrário da proeza de Bryant, Victor Manuel Gerena conseguiu ser a pessoa que mais tempo demorou a ser detida. Por ele o FBI chegou a oferecer um milhão de dólares como recompensa: o norte-americano, hoje com 61 anos, assaltou um empresa de segurança no Connecticut, fez alguns reféns e levou sete milhões de dólares.
Nesse dia - 12 de setembro de 1983 - deixou a namorada a tratar de uns papéis para que em breve os dois se casassem. Foi trabalhar e, no final do dia, empunhou a arma e algemou os colegas. Arrumou os maços de notas na bagageira do carro e desapareceu. Desde então é quase como um fantasma.
Embora retirado da lista dos mais procurados em 2016, continua fugido. Acredita-se que estará algures em Cuba. E ninguém sabe como apanhar Gerena.