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Apostar na investigação clínica exige dar mais autonomia aos serviços de saúde

Debate contou com a participação de Susana Correia (Comissão de Saúde), Heitor Costa (Apifarma), Isabel Magalhães (Pulmonale) e Luís Costa (Centro Hospitalar Lisboa Norte)
Debate contou com a participação de Susana Correia (Comissão de Saúde), Heitor Costa (Apifarma), Isabel Magalhães (Pulmonale) e Luís Costa (Centro Hospitalar Lisboa Norte)
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Peritos defendem mais capacidade de decisão em cada organização do sistema para potenciar aposta na investigação. Grupo de especialistas no sector debateu, esta terça-feira, seis recomendações para melhorar acesso dos doentes à inovação em Portugal

Francisco de Almeida Fernandes

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Profissionais de saúde motivados, mais autonomia para os centros clínicos e uma estratégia nacional. Estas devem ser três prioridades para impulsionar a área da investigação clínica em Portugal, defenderam esta tarde um conjunto de peritos em saúde. “É preciso haver uma estratégia bem definida que identifique onde estamos e onde queremos chegar”, afirmou Catarina Resende Oliveira, presidente da Agência para a Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB), durante a conferência “Investigação clínica e acesso à inovação: das recomendações à prática”.

Para a presidente da AICIB, Portugal deve seguir o exemplo espanhol de apoio à investigação e inspirar-se para a criação de um modelo coeso que permita ao país tornar-se um centro de excelência neste campo. “Para aprender como é que se criam os centros de investigação clínica nas unidades de saúde temos de olhar para como os outros que estão próximos de nós fizeram”, reforçou. Do lado da indústria farmacêutica, representada no debate por Heitor Costa, uma maior organização das entidades públicas na saúde permitirá mostrar ao exterior “um país mais amigo da inovação”. Este é um aspeto “fulcral” para atrair mais investimento direto estrangeiro, nomeadamente dirigido à realização de ensaios clínicos, considera o responsável da Apifarma.

Joaquim Cunha, da Health Cluster Portugal, pediu mais aposta na digitalização da saúde e na atração de investimento estrangeiro para a investigação clínica
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A ideia é partilhada por Joaquim Cunha, diretor-executivo da associação Health Cluster Portugal, que garante que o “potencial” do sistema nacional de saúde “só pode dar o salto” se for capaz de conquistar investidores externos. Sérgio Alves, presidente da AstraZeneca Portugal, não tem dúvidas de que está feito o diagnóstico sobre os desafios que o país tem pela frente, mas diz ser necessário “passar à concretização e à mudança”. “Este documento tornou-se num estudo mais atual, mais completo, que permitiu fazer o diagnóstico e perceber o que fazer”, sublinhou.

Depois de ter apresentado, em dezembro, um conjunto de 43 recomendações para o reforço do sector, a Parceria para Sustentabilidade e Resiliência dos Sistemas de Saúde (PHSSR) – que junta a London School of Economics, o Fórum Económico Mundial e a AstraZeneca – debateu seis sugestões para esta motivar o desenvolvimento da investigação clínica. As propostas são de um conjunto de decisores, médicos e outros especialistas e reuniram, garantiu a coordenadora do projeto, mais de 75% de consenso. “Todas as medidas tiveram um consenso muito alargado dentro do grupo”, assegurou Mónica Oliveira, professora catedrática do Instituto Superior Técnico.

Potenciar a "discussão alargada" dos desafios e das oportunidades da inovação no país é o objetivo do projeto PHSSR, sublinhou Sérgio Alves, presidente da AstraZeneca Portugal
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Conheça, abaixo, as principais conclusões:

Recomendações

  • Assegurar a proximidade no acesso aos medicamentos hospitalares e garantir a entrega dos fármacos no domicílio do doente ou em farmácia próxima da residência. “Poupa-se na deslocação do doente [ao hospital] e não há interrupção de tratamento”, explicou Aida Isabel Tavares;
  • Garantir que a adoção de tecnologias em saúde e novos medicamentos adotados pelo sistema tem como base a análise custo-efetividade. A professora associada do Instituto Superior de Economia e Gestão diz que desta forma é possível “ter ganhos” e tornar a gestão mais racional;
A coordenadora do projeto, Mónica Oliveira (Instituto Superior Técnico), destacou o "consenso muito alargado" dos peritos na elaboração das recomendações hoje debatidas
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  • Diminuir o tempo entre a aprovação de um novo medicamento e o momento em que chega ao doente deve ser uma prioridade, defende o documento. Atualmente, Portugal precisa de quase 700 dias até à disponibilização de novas terapêuticas, enquanto na Alemanha esse período não chega aos 200 dias;
  • Promover Portugal como um centro de excelência para a investigação clínica e inovação biomédica, nomeadamente por via do aumento dos ensaios clínicos e da investigação translacional;
  • Criar um sistema de dados integrados para a gestão de medicamentos e dispositivos, bem como o reforço da avaliação das tecnologias de saúde;
  • Rever o sistema português de comparticipação de medicamentos.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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