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Consenso entre peritos: saúde precisa de melhor gestão e mais planeamento

O debate contou com Maria do Rosário Zincke (Plataforma Saúde em Diálogo), Maria do Céu Machado (Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa), António Araújo (Centro Hospitalar Universitário do Porto), Maria de Belém Roseira (ex-ministra da Saúde) e Álvaro Beleza (SEDES)
O debate contou com Maria do Rosário Zincke (Plataforma Saúde em Diálogo), Maria do Céu Machado (Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa), António Araújo (Centro Hospitalar Universitário do Porto), Maria de Belém Roseira (ex-ministra da Saúde) e Álvaro Beleza (SEDES)
Nuno Fox

Foram apresentadas 43 recomendações para melhorar a sustentabilidade e a resiliência do sistema de saúde português a partir do debate entre quatro dezenas de especialistas. “Estabilidade das políticas é essencial”, garantiu Maria de Belém durante o evento organizado pela AstraZeneca a que o Expresso se associou

Francisco de Almeida Fernandes

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Consenso foi a palavra de ordem na base do relatório da Parceria para Sistemas de Saúde mais Sustentáveis e Resilientes (PHSSR) apresentado esta quarta-feira, em Lisboa. A iniciativa internacional – que junta a London School of Economics, o Fórum Económico Mundial e a AstraZeneca – tornou públicas as 43 recomendações de peritos em saúde, com diferentes experiências e cores partidárias, que defendem melhor gestão e mais planeamento no Serviço Nacional de Saúde (SNS). “Para nossa surpresa houve um grande número de recomendações com elevado grau de concordância [entre os participantes]”, apontou a coordenadora Mónica Oliveira, do Instituto Superior Técnico, durante o evento no Centro Cultural de Belém.

A professora catedrática refere-se ao modelo de participação adotado que permitiu garantir para cada recomendação um grau de concordância de, no mínimo, 75%. Em análise estiveram sete domínios ligados ao sector da saúde, dos quais se destacam a governança, o financiamento e a saúde populacional. “É inevitável promover maior autonomia e a responsabilização das nossas administrações”, destaca Mónica Oliveira, que acrescenta, ainda ao nível da gestão, uma maior “articulação das entidades” dentro e fora do SNS, nomeadamente os sectores privado e social.

Maria de Belém Roseira, uma das oradoras no debate que seguiu a apresentação do relatório, elogiou a capacidade de consenso conseguida por este projeto e lembrou que “o problema” não é perceber o que fazer para melhor o sistema de saúde, mas sim como fazê-lo. Um dos caminhos, aponta a ex-ministra da Saúde, passa por maior estabilidade nas decisões. “Esta estabilidade das políticas é essencial”, acredita. O presidente da SEDES, Álvaro Beleza, concorda e diz que “a primeira coisa [a fazer] é saber não atrapalhar”. “Acabar com qualquer coisa é muito fácil, fazer é que é difícil”, diz, em referência à mudança constante de orientação política pelos sucessivos governos.

Mónica Oliveira, professora do Instituto Superior Técnico, e Aida Isabel Tavares, professora do Instituto Superior de Economia e Gestão, coordenaram o projeto que envolveu quatro dezenas de peritos em saúde
Nuno Fox

A gestão, e sobretudo uma gestão mais eficiente e organizada, é fundamental, concordaram os presentes. António Araújo, diretor do Serviço de Oncologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto, não tem dúvidas de que é preciso garantir mais “autonomia das instituições”. O médico pede ainda mais atenção às carreiras dos profissionais de saúde, em especial na melhoria das condições de trabalho e na motivação dos recursos humanos. “Falta repensar a questão dos recursos humanos e de como vamos tornar o SNS mais atrativo”, reforça.

O documento está disponível para consulta no site do projeto internacional PHSSR, onde é possível aceder aos relatórios das outras duas dezenas de países que participam na iniciativa. A versão portuguesa será entregue ao Ministério da Saúde e a outros decisores políticos. “Parece-me que é uma excelente base não só para a discussão, mas para aquilo que todos desejamos, a ação”, considera Sérgio Alves, presidente da AstraZeneca em Portugal.

Rosário Trindade, membro do conselho de administração da AstraZeneca, acredita que "as crises significam também oportunidades" e que o "consenso alargado" dos peritos será "fundamental" para melhorar o sistema de saúde
Nuno Fox

Conheça as principais conclusões do evento:

  • Ao nível financeiro, uma das propostas é que o orçamento do SNS passe a ser plurianual para permitir melhor planeamento. “O horizonte financeiro tem de ser muito mais longo. O que vemos é que, de uma forma geral, os orçamentos estão alinhados com os ciclos políticos”, critica Dan Gocke, da London School of Economics.
  • Além das questões do financiamento e da gestão, a aposta na melhoria dos cuidados de saúde prestados é outro dos pontos em destaque nas recomendações. Maria do Rosário Zincke, presidente da Plataforma Saúde em Diálogo, pede que as associações de doentes tenham maior envolvimento na prevenção e na promoção da saúde. “Podem desempenhar um papel fundamental”, diz.
  • Para a presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, Maria do Céu Machado, Portugal deve investir mais na realização de ensaios clínicos para aumentar o acesso dos doentes à inovação. Para isso, porém, é preciso ter “estratégia”, mas também “visão e continuidade política”, defende.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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