"Nenhum país está preparado para enfrentar sozinho uma pandemia"
Nuno Fox
Filipe Froes, pneumologista e coordenador do Gabinete de Crise para a Covid-19 da Ordem dos Médicos, deixa o alerta numa altura em que a China mostra alguma relutância em partilhar todos os dados relacionados com a pandemia no país, no debate que ocorreu hoje à noite na SIC Notícias
A China esteve na origem da pandemia e parece que também vai estar no fim da mesma. A verdade é que segundo Filipe Froes, “enquanto as questões na China não estiverem resolvidas, não poderá ser decretado o fim da pandemia”.
A exigência de teste a viajantes que entram em Portugal provenientes da China tem associadas duas mensagens: uma científica e uma política. A primeira, no sentido de controlar e identificar infeções e novas variantes e, a segunda, que pretende mostrar a importância daquilo que todos os países - sobretudo os que foram mais fustigados pela pandemia - aprenderam: “nenhum país está preparado para enfrentar sozinho uma pandemia”, diz Filipe Froes, sendo que todos dependem uns dos outros e há por isso que ser mais exigente e vigilante com quem não partilha informação.
Além da atualidade da situação pandémica no país e no mundo ter estado no centro do debate, analisou-se - em paralelo - a mais recente sondagem sobre covid-19 feita em exclusivo para o Jornal Expresso que reflete a perceção dos portugueses sobre a pandemia.
Ana Peneda Moreira, jornalista da SIC Notícias, moderou o debate que além de ter contado com Filipe Froes, pneumologista e coordenador do Gabinete de Crise para a Covid-19 da Ordem dos Médicos, teve a presença de Luís Goes Pinheiro, presidente dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, Miguel Arriaga, chefe de divisão de Literacia, Saúde e Bem-Estar da DGS e Pedro Morgado, coordenador regional de Saúde Mental do Norte.
O debate "Covid-19: o que pensam os portugueses?" ocorreu em direto, na SIC Notícias, às 20h
Nuno Fox
O debate "Covid-19: o que pensam os portugueses?" ocorreu em direto, na SIC Notícias, às 20h
Nuno Fox
13
Saiba quais foram as principais conclusões do debate:
Vacinação
Hoje, o portal de vacinação relacionado com a covid-19 foi reaberto e já pode agendar a sua vacina através do site do SNS 24. Luís Goes Pinheiro considera que esta ação irá incrementar a taxa de vacinação. Não obstante, por agora só está a funcionar para pessoas a partir do 45 anos. Para fazer o seu agendamento clique AQUI
Segundo o estudo, 76% tencionam cumprir o futuro plano de vacinação
96% foram vacinados contra a covid-19
Filipe Froes acredita que apesar de haver alguma saturação por parte da população relativamente à vacinação (que se deve a vários fatores: a variante em circulação é mais benigna; a maior parte das pessoas já está vacinada com várias doses e já esteve infetada o que lhes confere uma imunidade híbrida), as pessoas não devem descurar a toma da vacina porque mesmo que a infeção seja ligeira, o doente pode desenvolver Long Covid
20% das pessoas que tiveram covid-19 têm queda de cabelo, outras podem ter fadiga, falta de ar, entre outros, 12 semanas após a infeção. “A maior parte destas situações evolui para a normalidade, mas enquanto isso não acontece estas pessoas têm necessariamente de ser apoiadas”, refere Filipe Froes, apontando, inclusive a necessidade de se criar um programa nacional dedicado à Long Covid. Saiba mais AQUI sobre a Long Covid
Saúde mental
As medidas que obrigaram ao confinamento deixaram sequelas, assim como a própria infeção, e acabaram por trazer para cima da mesa a importância de tratar da saúde mental;
42% das pessoas inquiridas admite que sentiu impacto na sua saúde mental, embora 80% não tenha feito nada para que o sofrimento passasse. Pedro Morgado afirma que este não é o dado que mais o preocupa, visto que grande parte dessas pessoas, tendo em conta o contexto, poderão ter experienciado sofrimento de forma normal. O dado que mais preocupa Pedro Morgado é a percentagem de pessoas que se automedicou (4%), ou seja, 1 em cada 5 pessoas. “Temos que incentivar mais à literacia do consumo de psicofármacos”, lembra o especialista
É preciso aproximar os cuidados das pessoas e já há caminho feito nesse sentido. Nos últimos dois anos, por exemplo, foram criadas 20 equipas comunitárias de saúde mental que fazem a interface entre os cuidados hospitalares e cuidados de saúde primários. Mas não é suficiente, é preciso continuar este investimento
Médicos de família são os principais especialistas que identificam e tratam problemas de saúde mental em Portugal, segundo Pedro Morgado
Futuras pandemias
Os especialistas acreditam que o SNS está hoje muito melhor preparado do que estava há três anos para enfrentar futuras pandemias
A União Europeia encarou a pandemia como uma oportunidade de desenvolver - através da tecnologia - mais e melhores terapêuticas que poderão ser cruciais na reposta a novas situações do género da que ainda vivemos
Miguel Arriaga garante que “as pessoas confiam nas instituições”. E isso é corroborado pelo estudo que mostra que a generalidade dos inquiridos está satisfeito com o serviço prestado. “Não podemos deixar ninguém para trás, queremos estar próximos das pessoas”, acrescenta, sendo que para isso saber comunicar bem é crucial
Hoje as pessoas já estão habituadas a usar máscaras, se necessário, praticam a etiqueta respiratória e - caso aconteça uma situação semelhante no futuro - Portugal estará mais forte e preparado a este nível
Preparação do país para futuras pandemias preocupa a maior parte dos inquiridos
Acompanhe a edição em papel do Jornal Expresso de dia 20 de janeiro - amanhã nas bancas - se quiser saber mais sobre o “Estudo sobre covid-19”
Esteja atento aos restantes conteúdos realizados no âmbito do projeto “Repensar a Saúde” - que contou com o apoio da Sociedade Portuguesa de Doenças Infecciosas e Microbiologia Clínica e da Gilead - como por exemplo, os consultórios publicados nas duas últimas semanas dedicados à covid-19:
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes