Projetos Expresso

Os candidatos a próximo unicórnio mundial #4

A representante de Taiwan aposta no eye tracking, moderna tecnologia com múltiplas aplicações
A representante de Taiwan aposta no eye tracking, moderna tecnologia com múltiplas aplicações
Getty Images

Contam-se 22 startups na corrida ao prémio da segunda edição do Global Tech Innovator, iniciativa que junta o Expresso à KPMG, e que procura conhecer os principais inovadores tecnológicos. Hoje contamos a história dos representantes da China, de Taiwan, do Qatar, do Reino Unido e da Irlanda

João Queiroz

Na quarta viagem pela descoberta do que de mais inovador se faz nos quatro cantos do mundo, visitamos dois continentes para conhecer mais cinco finalistas do Global Tech Innovator 2022. Começamos na Ásia, e pela China, para abrir as portas de um dos primeiros laboratórios a detetar o novo coronavírus. Vamos ali ao lado, a Taiwan, para espreitar os últimos avanços da moderna tecnologia de rastreio ocular, ou eye tracking, e terminamos o périplo asiático no Qatar, prestes a receber o Campeonato do Mundo de Futebol, e onde a medicina já marca golos no campo da inteligência artificial.

Seguimos para Ocidente e para a Europa a norte. No Reino Unido foi coroada uma solução de baixo custo, zero emissões e escalável, para a produção de hidrogénio, e na Irlanda, uma plataforma que deteta, prevê e previne acidentes rodoviários em tempo real.

Depois de na semana passada termos viajado até à Índia, à Austrália, ao Canadá, à Arábia Saudita e ao Kuwait, chegamos aos 20 candidatos já apresentados pelo Expresso, que se junta à KPMG, organizadora desta iniciativa que tem por missão descobrir, divulgar e promover as startups tecnológicas mais promissoras e inovadoras. Na segunda-feira contamos-lhe a história dos representantes de Portugal e Brasil para completar o lote de 22 finalistas que, dois dias depois, vão apresentar os seus projetos a um painel de jurados internacional, no segundo dia da Web Summit, em Lisboa.

Vision Medicals: na esteira do covid

O SARS-CoV 2 foi identificado pelo laboratório da Vision Medicals, na China, em dezembro de 2019
Matt Anderson Photography

A manhã de 26 de dezembro de 2019 teria sido igual a tantas outras naquele laboratório privado, em Guangzhou, no sul da China, não fosse o alarmante resultado de um teste a uma amostra de fluido pulmonar de um homem de 65 anos, hospitalizado com uma doença respiratória, semelhante à pneumonia, na cidade de Wuhan. As análises indicavam o pior dos cenários: uma infeção desencadeada por um vírus semelhante ao que causa o SARS, ou síndrome respiratória aguda grave.

Pouco depois de ter desempenhado um papel fundamental na identificação rápida de um surto de peste em Pequim, a Vision Medicals – na altura com apenas um ano e meio de existência - integrou a task force para a deteção precoce e análise do genoma novo coronavírus, que alertou as autoridades chinesas para um problema cuja gravidade só seria reconhecida pelo governo semanas mais tarde – tarde demais, como relataram o The New York Times e o The Washingotn Post. Três meses depois, a empresa concebeu um kit de deteção do vírus de ácido nucleico.

Também conhecida pelo nome em chinês, Weiyuan Gene Technology, a Vision é uma empresa hi-tech centrada no desenvolvimento da tecnologia genética e da medicina de precisão, tendo-se especializado no sequenciamento de última geração, chamado NGS, disponibilizando aplicações que podem identificar num único teste a maioria dos agentes infeciosos – vírus, bactérias e outros. Hoje tem laboratórios em Beijing, Shangai, Nanjing e Zhengzhou, e relações com mais de 800 hospitais e institutos de investigação em toda a China, como o Peking Union Medical College Hospital e a Academia Chinesa de Ciências Médicas.

€107

milhões (aproximadamente) foi o total de investimento captado pela startup asiática desde a fundação, em 2018, o que corresponde a $106,73 milhões

GANZIN TECHNOLOGY: olhos nos olhos

A representante de Taiwan aposta no eye tracking, moderna tecnologia com múltiplas aplicações
Getty Images

Em Taiwan, a finalista é uma empresa de eletrónica de consumo que fornece soluções para democratizar a adoção da eye tracking em dispositivos wearable. Trata-se de uma tecnologia de rastreio ocular que mede os movimentos e as posições dos olhos e os pontos de vista, ou seja, identifica e monitoriza a atenção visual em termos de localização, objetos e duração.

Com sede em Nova Taipé, a Ganzin concentra-se no desenvolvimento da próxima geração de módulos de rastreio ocular que possam ser facilmente integrados em módulos de Realidade Aumentada (AR) e Realidade Virtual (VR), para ajudar a desbloquear o potencial do olho como uma interface sem falhas para o mundo da realidade aumentada.

“O eye tracker pode capacitar os óculos AR (realidade aumentada), VR (realidade virtual) ou Smart a corresponder mais corretamente ao comportamento e a intenção do utilizador, o que pode reduzir o consumo de energia do dispositivo e proporcionar uma experiência mais imersiva ao utilizador (como a redução da sensação de tontura, interação intuitiva, expressão facial vívida no ambiente virtual, etc”, pode ler-se no site da startup taiwanesa, que nasceu no Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Nacional de Taiwan.

"Na Ganzin, estamos a trazer o rastreio ocular para as massas como uma interface natural para o mundo", diz o fundador e CEO da empresa, Shao-Yi Chien

O mais recente produto é a Aurora, “uma solução de rastreio ocular concisa, com o menor esforço de integração e o menor fator de forma [o tamanho, configuração ou disposição física de um dispositivo] do mercado”. “A nossa solução desbloqueia o potencial dos olhos como a interface definitiva para o mundo digital”, assegura Shao-Yi Chien, fundador e CEO da Ganzin.

€97,8

mil milhões em receitas serão geradas em 2022 pelos dispositivos wearable. É a previsão de um estudo da GlobalData que indica também que este tipo de dispositivos representa 46% do mercado de IoT (Internet das Coisas) de consumo

AVEY: saúde digital

A Avey é uma aplicação móvel de medicina digital criada para "ajudar a mudar vidas" no Qatar
Getty Images

No Qatar há uma aplicação móvel que disponibiliza uma avaliação médica personalizada, permitindo o autodiagnóstico de forma imediata e precisa, o agendamento de uma consulta presencial ou à distância, ou a encomenda de medicamentos. A Avey propõe-se “ajudar a mudar vidas” e garantir a todos o acesso aos cuidados de saúde, transformando a experiência do doente desde o momento em que se sente indisposto até à sua cura.

A equipa liderada por Mohammed Hammoud, fundador da startup e professor de Informática da Universidade Carnegie Mellon naquele país, desenvolveu um ecossistema médico baseado na inteligência artificial (IA) de ponta a ponta, que aborda os desafios no diagnóstico de doenças e condições de saúde com precisão e em tempo real.

Além de fornecer diagnósticos diferenciados, com uma taxa de precisão, em média, de 93%, a Avey permite o contacto com os médicos mais indicados para cada caso, especialmente se exigir exames físicos, testes laboratoriais, ou exames radiológicos. “A característica interessante da Avey é que acumula informação sobre médicos em hospitais e clínicas. Com base nos dados recolhidos sobre o doente e o médico, faz aquilo a que chamamos "correspondência personalizada", através da qual faz a correspondência do caso do doente com os médicos certos e classifica-os em conformidade”, frisou Hammoud, em declarações à imprensa catari.

“Um dos grandes desafios que os doentes enfrentam são os erros de diagnóstico. A investigação mostra que, entre 10 a 11% das pessoas nos EUA morrem todos os anos por causa de erros de diagnóstico”, observa o fundador e CEO da Avey

Esta app também permite, com um clique, marcar uma consulta, virtual ou física “e com um tempo de espera reduzido utilizando algoritmos inteligentes”. E caso o médico prescreva um medicamento, ele pode ser entregue em casa do doente em menos de duas horas, acrescenta.

93%

é a taxa de precisão da avaliação médica disponibilizada pela Avey

HiiROC: hidrogénio é o futuro

A HiiROC concebeu uma solução tecnológica de baixo custo para acelerar a produção de hidrogénio
Getty Images

Foi a vencedora entre as mais de 250 tech titans em concurso na competição organizada pela KPMG no Reino Unido. A HiiROC desenvolveu uma solução tecnológica de baixo custo, zero emissões e escalável, para a produção de hidrogénio. A mais pequena e abundante molécula do universo “produz zero gases com efeito de estufa quando queimado, e contém três vezes a energia da gasolina, tornando-se o combustível verde do futuro”.

“O hidrogénio limpo poderá transformar a produção de energia, o transporte e o armazenamento de energias renováveis, desempenhando um papel importante na descarbonização do sistema energético global e no combate ao aquecimento global. Contudo, os atuais métodos de produção limitam significativamente o seu potencial”, pode ler-se no site da empresa britânica.

“Estamos a trabalhar para ter impacto na rede Zero Carbono, que é um problema de todos, pelo que a perspetiva de poder mostrar o HiiROC, em Lisboa, a uma audiência global é uma oportunidade de ganhar algum impulso real em torno de novas formas melhoradas de produzir hidrogénio”, afirmou o CEO, Ted Davies

Trabalhando em colaboração com a Universidade de Hull, cidade onde está sedeada, a HiiROC desenvolveu a Eletrólise Térmica de Plasma para acelerar a produção de hidrogénio com uma boa relação custo-benefício e amiga do ambiente, utilizando unidades de produção que ela própria também concebeu, desenvolveu e construiu. “Este método envolve custos operacionais mais baixos do que outras tecnologias e oferece uma solução mais eficiente em termos energéticos, produzindo mais hidrogénio por kW de eletricidade e com a utilização de unidades de produção no local, remoção de custos de transporte e custos reduzidos de armazenamento e compressão”; explicou o CEO, Tim Davies, aos media do Reino Unido.

€140

mil milhões é atualmente o valor aproximado do mercado global de hidrogénio

PROVIZIO: combate à sinistralidade rodoviária

A startup irlandesa recorreu a sensores de radar de longo alcance e à Inteligência Artificial para construir a plataforma plataforma que deteta, prevê e previne acidentes rodoviários em tempo real
Bernie DeChant

Nasceu com uma meta ambiciosa: contribuir para um futuro com zero mortes na estrada. E para isso desenvolveu a Provizio, uma plataforma que deteta, prevê e previne acidentes rodoviários em tempo real para além da linha de visão, recorrendo a sensores de radar de longo alcance e à inteligência artificial de última geração.

Com uma equipa formada por especialistas em robótica, IA, visão computacional e desenvolvimento de sensores de radar, esta startup irlandesa, com sede em Limerick, garante que os atuais sistemas de travagem de emergência só podem calcular, aproximadamente, 40 metros à frente - o equivalente a um segundo de tempo de reação - a velocidades de autoestrada. E que precisam de ser dez vezes mais eficazes para proteger os passageiros de um veículo.

“A IA é o futuro da prevenção de acidentes de automóveis e os radares Provizio 5D são o primeiro passo para esse objetivo", afiançou o CEO, Barry Lunn, em declarações à imprensa irlandesa

Em 2020, um ano após a fundação da empresa, a proposta Provizio conquistou os investidores e levou a uma ronda de financiamento seed (semente) de €5,2 milhões, depois de ter sido uma das oito PME da República da Irlanda a receber fundos europeus para continuar a desenvolver as suas tecnologias e inovações.

€84

mil milhões é a estimativa de crescimento do mercado do sistema avançado de assistência ao condutor até 2030. Em 2020 cifrava-se nos €27 mil milhões

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas