Projetos Expresso

Os candidatos a próximo unicórnio mundial #3

A Goterra já produziu 240 toneladas de larvas desde a fundação
A Goterra já produziu 240 toneladas de larvas desde a fundação
D.R.

Cinco dos 22 candidatos ao Global Tech Innovator 2022 estão na Índia, Austrália, Canadá, Arábia Saudita e no Kuwait. A iniciativa da KPMG, a que o Expresso se associa, pretende dar a conhecer as mais promissoras e inovadoras startups tecnológicas. Já apresentámos 15

João Queiroz

Sabia que já se gera água potável através da atmosfera? Que já há robôs e larvas a trabalhar no processamento de resíduos alimentares, a transformá-los em fertilizantes e, posteriormente, em ração animal? Ou que já se começam a construir pequenas cidades inteligentes? Desta vez, vamos à Índia, à Austrália, ao Canadá e ainda à Arábia Saudita e ao Kuwait, onde a transformação digital acelera a fundo em sectores tão diferentes como o da educação ou da logística.

Depois de na semana passada termos andado por Espanha, Israel, África do Sul, México e Japão, hoje partimos à descoberta de mais cinco startups distinguidas pela KPMG em cada país, em função do nível de disrupção e inovação, potencial de mercado, adesão do cliente, tração e marketing do mercado, potencial a longo prazo e qualidade do pitch (apresentação).

É com base nesses seis critérios que será escolhido o vencedor entre as 22 empresas finalistas da segunda edição do Global Tech Innovator, iniciativa da KPMG, a que o Expresso se associa, e que se propõe descobrir e divulgar os principais inovadores tecnológicos e os futuros tech titans. Tudo acontecerá a 2 de novembro, na Web Summit, em Lisboa.

MAITHRI Aquatech: água do ar

O Meghdoot já chegou a 27 países. Na Índia foi instalado em espaços públicos, como estações ferroviárias, e em várias comunidades
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Sensivelmente 2,1 mil milhões de pessoas no mundo vivem em stress hídrico, sem acesso a água potável e segura. Ainda segundo as estatísticas, até ao final de 2025, 50% da população mundial estará nessa situação. Trata-se de um problema à escala planetária para o qual esta startup indiana, fundada em 2016, diz ter encontrado uma solução: um gerador de água através da captação de humidade na atmosfera.

“O Meghdoot [mensageiro do céu, em sânscrito] gera água limpa a partir do ar e aproveita o aumento humidade diretamente associado ao aumento da temperatura. Converte vapor de água no ar em água, filtra-o através de um processo em várias fases, adiciona minerais essenciais à água, que é disponibilizada após o tratamento UV”, descreve o CEO da MAITHRI Aquatech, alertando para um “facto provavelmente desconhecido: há seis vezes mais água no ar do que em todos os rios do planeta.”

“Tendo em conta que a água Meghdoot não entra em contacto com o solo, ela é limpa e segura, livre de micróbios e enriquecida com minerais, tornando-a uma opção saudável”, assegura Naveen Mathur

Naveen Mathur defende que esta é “uma solução ecológica diferente de todas, pois pode ser implementada em qualquer lugar, independentemente da disponibilidade regional de água, reduzindo a pegada de carbono e plástico associada ao transporte de água”. Além disso, sublinha, “é autossustentável se alimentada por energia renovável” e ainda “é escalável, capaz de satisfazer as necessidades de água de milhões de litros por dia”. E garante: “Cada copo de água Meghdoot ajuda a poupar dois copos de água para a próxima geração.”

11,7

mil milhões de milhões de litros de água estão disponíveis na atmosfera

Goterra: robôs e larvas em ação climática

Entramos num mundo onde a automação e a biologia se unem, onde robôs e larvas trabalham lado a lado no combate aos resíduos alimentares, ajudando a reduzir as emissões. Estamos na Goterra, startup australiana que criou a Infraestrutura Modular para Serviço Biológico (MIBS), que processa os resíduos alimentares e produz uma proteína sustentável que recicla os nutrientes para voltarem à cadeia alimentar.

Trata-se de um robô que funciona com cápsulas automáticas, cheias de larvas, que transformam os resíduos alimentares em fertilizantes, antes de serem transformadas em ração animal rica em proteínas. “Para os nossos clientes, isso significa reduzir os custos de transporte, armazenamento e eliminação dos seus resíduos alimentares. Para os agricultores, significa cortar nos custos das rações e reduzir o seu impacto ambiental”, explica a CEO Olympia Yarger sobre uma infraestrutura que “consome dióxido de carbono de forma tão rápida que reduz em 98% as emissões de CO2”.

“Esta é uma inovação que mudou tudo sem perturbar nada - é a mudança de que precisamos”, defende Olympia Yarger

Desde a fundação, em 2016, a Goterra já processou mais de 18 mil toneladas de resíduos alimentares, produziu 240 toneladas de larvas e a MIBS evitou mais de dois milhões de emissões de CO2. “Estamos a dois anos e meio da década decisiva e a nossa inovação já melhorou a vida dos australianos. Em 2023, vamos lançar-nos nos Estados Unidos, na Ásia e na Europa”, assegura.

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trilião de toneladas de alimentos por ano são desperdiçadas no mundo. A Austrália produz, por ano, mais de 7,3 milhões de toneladas de resíduos alimentares, das quais 3,2 milhões seguem para aterros

SmartONE Solutions: cidades do futuro

No Canadá desenvolve-se uma tecnologia que permite a implementação e gestão de casas inteligentes em comunidades multifamiliares. “As redes de base de prédios são estendidas para ligar as casas entre si, e um servidor local é instalado para gerir tudo e garantir o seu funcionamento. Os habitantes destas comunidades desfrutam de todas as funcionalidades das casas inteligentes: iluminação e controlo cegos, deteção de fugas e fumo, termostatos e fechaduras inteligentes. Podem também controlar o acesso às entradas dos prédios, visualizar câmaras de área comum, carregar veículos elétricos ou ativar partilhas de carros e estacionamento inteligente”, afirma Ted Maulucci, presidente e cofundador da empresa.

Esta solução tecnológica da SmartONE Solutions é comercializada pelas empresas de telecomunicações, permitindo-lhes assegurar contratos de serviços de Internet com prédios inteiros, gerando novas receitas. Já está contratada por duas das maiores operadoras de telecomunicações do Canadá e implantada em mais de 160 comunidades.

“Estamos no início de um futuro empolgante, que irá alavancar redes, dispositivos IOT [Internet das Coisas], e estratégias de dados que irão permitir o ‘machine learning’ e a Inteligência Artificial, para ajudar a resolver os problemas mais prementes da sociedade”, afirma Ted Maulucci

“As comunidades multifamiliares onde esta tecnologia está implantada são, efetivamente, pequenas cidades inteligentes. A maior comunidade é composta por mais de três mil casas, em nove edifícios com uma pegada partilhada. Os serviços e conceitos implantados são os mesmos que eventualmente se propagarão através das cidades do futuro”, adianta Maulucci.

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edifícios, com mais de três mil casas, constituem a maior comunidade onde a tecnologia da SmartONE está implementada

OTO: gerir entregas

Os fundadores da OTO, Mohammad Al-Razaz e Furkan Uzar
D.R.

O crescimento exponencial do comércio eletrónico tem revelado mercados emergentes para as empresas de entregas, mas também lhes coloca novos desafios para responder às necessidades de um mercado sem fronteiras. Na Arábia Saudita, a OTO tenta assumir um papel nesta transição, disponibilizando uma plataforma digital, que possibilita aos retalhistas e às empresas de e-commerce assumir o controlo das operações de entrega – o envio, a gestão, o rastreamento e a devolução de encomendas.

“O nosso software de gestão de entregas por multitransportadores disponibiliza uma plataforma integrada, adaptável e de fácil utilização. Acomodámos os requisitos logísticos de qualquer empresa, respondendo aos desafios da gestão de encomendas e de armazéns, gestão de entregas last mile, de devoluções e de frotas. Num só local, convertendo métodos manuais longos num processo sem esforço, em apenas um clique”, afirma Mohammad Al-Razaz, um dos fundadores desta startup, que reivindica ser hoje “a maior integradora de serviços de transporte no MENA”, ou seja, região do Médio Oriente e Norte de África.

As empresas que contrataram a OTO - que já está integrada em mais de 150 serviços de correio e empresas de entregas regionais e internacionais - notaram “a redução dos tempos de operação e entrega, o aumento da eficiência das equipas, a eliminação de erros, e a melhoria da produtividade e da satisfação do cliente”.

“Está provado que a OTO poupa às empresas cinco reais sauditas [1,36 euros] por cada um real saudita [27 cêntimos] pago por cada encomenda entregue com sucesso”, conta Mohammmad Al-Razaz

Bounce: creche digital

É uma plataforma que serve como meio de comunicação mobile first e um software de gestão para pré-escolas, ligando administração, professores e pais, proporcionando uma experiência colaborativa de aprendizagem precoce. Esta app nasceu no Kuwait, em 2020, para apostar na digitalização e automatização das tarefas diárias dos educadores de infância, como a elaboração de relatórios ou a gestão de faltas, de forma a proporcionar a melhor a qualidade de educação das crianças.

Recorrendo a ferramentas de gestão 360, a Bounce ajuda os estabelecimentos de ensino a fazer o acompanhamento da matrícula, a gerir as presenças e receber os pagamentos, a fornecer soluções de faturação digital e de pagamento online. “Melhora a experiência de comunicação com notícias personalizadas, chat ao vivo, partilha de relatórios diários e de eventuais lesões. Tudo se processa de forma instantânea, para que os pais não percam nada do dia do filho. E a aplicação é comandada por posts, imitando as experiências noutras plataformas, encorajando assim a colaboração entre pais e educadores”, descreve Noor Boodai, a primeira mulher árabe a fundar uma startup na região do MENA (Médio Oriente e Norte de África).

“A comunicação entre o educador e a criança é essencial na idade pré-escola, e isso está no cerne do desenvolvimento da Bounce”, afirma Noor Bodai, a fundadora

A Bounce propõe-se acelerar a transformação digital do sector da aprendizagem pré-escolar, fornecendo soluções digitais para a gestão e comunicação de creches. “A nossa plataforma reduzirá o tempo despendido em tarefas operacionais, identificará eficiências, aumentará o acesso aos dados para que a gestão possa proporcionar uma melhor experiência ao cliente e concentrar-se no que é importante: ajudar a crescer e educar numa idade em que a aprendizagem é essencial para o desenvolvimento cognitivo”, acrescenta a responsável da empresa que, depois de nos primeiros anos se ter centrado no MENA, promete lançar-se nos mercados de língua inglesa.

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países do Médio Oriente onde a Bounce atualmente opera. A lista crescerá em 2023 com a expansão para os mercados de língua inglesa

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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