Projetos Expresso

Portugal deve triplicar investimento em investigação e desenvolvimento nos próximos dez anos

Aposta na inovação científica na área da saúde poderá gerar milhares de empregos e aumentar exportações nacionais para 5 mil milhões de euros por ano
Aposta na inovação científica na área da saúde poderá gerar milhares de empregos e aumentar exportações nacionais para 5 mil milhões de euros por ano
Jose Fernandes

Projetos Expresso. A meta será, diz a Health Cluster Portugal, atingir os €1000 milhões anuais em investigação e criar mais 20 mil empregos na indústria. O plano marca a agenda da saúde, cujos destaques o “Mais Saúde, Mais Europa” reúne à segunda-feira, num projeto do Expresso com apoio da Apifarma

Francisco de Almeida Fernandes

Seja na Ásia, na América ou na Europa, os investimentos em investigação e desenvolvimento (I&D) estão diretamente ligados ao crescimento económico e à competitividade das indústrias em cada país. Se olharmos para os números a nível comunitário, percebemos que a União Europeia (UE) gastou, em 2019, cerca de 2,19% do PIB em despesas relacionadas com a inovação, enquanto países como os EUA (2,82%) ou o Japão (3,28%) apostam consideravelmente mais em I&D. Porém, é este cenário que a Europa quer ver invertido nas próximas décadas, nomeadamente com a ajuda da estratégia de reindustrialização do velho continente, tarefa para a qual todos os Estados-membros podem contribuir.

É o caso de Portugal, que na semana passada viu ser anunciado o Plano de Desenvolvimento da Saúde (PDS) 2021-2030 pela Health Cluster Portugal (HCP). A plataforma de competitividade na saúde pretende “multiplicar por três os atuais valores” afetos à investigação científica ao longo da próxima década, atingindo a meta dos €1000 milhões em 2030. Em comunicado, a HCP refere ainda que obter “um forte salto no investimento em I&D” é um dos seus “objetivos estruturantes”.

João Gonçalves, professor e investigador no Instituto de Investigação do Medicamento (iMED), defende que a “investigação em Portugal anda muito aos solavancos, não é estratégica” e que essa falta de orientação está à vista quando olhamos para países como a Alemanha ou o Japão. Em qualquer uma destas nações, a despesa com I&D está acima dos 3% do PIB. “Tem de haver apostas claras, mas não daquelas que desaparecem daqui a dois ou três anos”, alerta.


“A ciência tem de estar coordenada com o ensino superior, não basta estarem no mesmo ministério”, defende João Gonçalves, investigador do Instituto de Investigação do Medicamento (iMED)

Segundo a HCP, para que seja possível aumentar os gastos em atividades de investigação na saúde será imperioso apostar em seis áreas estratégicas – medicamentos inovadores, medicamentos essenciais, dispositivos médicos, ensaios clínicos, valorização do conhecimento e smart health. “Existe a necessidade de desenho de um plano de ação que reconheça em definitivo a importância estratégica do ecossistema da saúde e fomente o aumento da sua atratividade e competitividade no contexto europeu e mundial", diz a plataforma. O montante do investimento deverá rondar entre €2500 e €3500 milhões e aumentar as exportações nesta área até €5000 milhões anuais. Já os postos de trabalho devem ganhar 20 mil pessoas até 2030.

As questões ligadas à investigação científica, à inovação e à falta de investimento estratégico fazem parte das prioridades em saúde, numa altura em que a UE procura dar o estímulo necessário para a sua reindustrialização. A Presidência Portuguesa do Conselho da UE deu o seu contributo com o lançamento do Horizonte Europa, o programa que vai disponibilizar cerca de €95 mil milhões para I&D até 2027. À segunda-feira, o projeto “Mais Saúde, Mais Europa” reúne os eventos que vão marcar a agenda e, à sexta-feira, faz um resumo dos momentos-chave da semana. Adicionalmente, o projeto do Expresso com o apoio da Apifarma vai ainda potenciar o debate com o evento “Cancro: Cada Dia Conta”, a 26 de maio.

35 mil

é o número de empregos industriais na área da saúde em 2030, de acordo com a estratégia apresentada pela Health Cluster Portugal que pretende criar 20 mil postos de trabalho até lá

Conheça a agenda da semana:

Segunda-feira, 19

  • A semana começa com um evento organizado pela Presidência Portuguesa da UE sobre a Semana OSH Non Stop, que inclui sessões de discussão nos dias 19, 21 e 23 de abril. Desenhado pela Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT), o programa abordará temas como “Novas Formas de Trabalho” (dia 19), “Riscos Psicossociais Relacionados com o Teletrabalho” (dia 21) e “Riscos Musculoesqueléticos Relacionados com o Teletrabalho” (dia 23), depois de um ano repleto de alterações à realidade laboral da maioria da população.
  • São muitos os especialistas que têm vindo a alertar para o aumento de doenças psicológicas em período de covid-19, devido a uma escalada nos níveis de ansiedade e a um maior desequilíbrio entre vida profissional e pessoal.
  • As três sessões de webinar são de acesso livre, mediante inscrição prévia na página oficial.

Quarta-feira, 21

  • A importância das parcerias público-privadas na investigação científica e o reforço de investimento em I&D serão temas centrais no webinar “New Innovation Opportunity for CCSI”, organizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior com o Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT).
  • João Gonçalves, do iMED, aponta ao Expresso a colaboração entre empresas e universidades em questões como ensaios clínicos ou investigação clínica por ser “essencial para captarmos financiamento da indústria farmacêutica, que está à procura de locais onde possa testar as suas moléculas”. “É daí que vem o dinheiro todo [para a I&D]”, diz.
  • Nesta sessão de debate vão participar, entre outros, o ministro da pasta Manuel Heitor e o presidente do EIT Martin Kern. O evento internacional arranca às 13h (hora de Portugal) e tem participação livre, mediante inscrição prévia através deste link.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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