Projetos Expresso

Colaboração é “fundamental para construir um espaço europeu mais capaz de fazer inovação tecnológica”

Uma das soluções para mudar o subfinanciamento da I&D passa por criar mais laboratórios colaborativos entre universidades e empresas da indústria
Uma das soluções para mudar o subfinanciamento da I&D passa por criar mais laboratórios colaborativos entre universidades e empresas da indústria
José Fernandes

Projetos Expresso. As palavras são de João Carlos Lima, subdiretor adjunto de investigação na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, que defende uma maior ligação entre a academia e as indústrias. À sexta-feira, o ‘Mais Saúde, Mais Europa’ resume os momentos-chave da semana, numa iniciativa do Expresso com o apoio da Apifarma

Francisco de Almeida Fernandes

“Temos de assegurar que a Europa se mantém líder em investigação fundamental, mas para isso temos de ter em atenção o investimento dos diferentes Estados-membros e da UE”, disse Maria do Carmo Fonseca durante a conferência Inovação em Saúde, no dia 14, promovida pelo Expresso com o apoio da Apifarma. A presidente do Instituto de Medicina Molecular (IMM) referia-se à fase mais básica do processo, que, considera, está na origem de “toda a inovação científica”. O exemplo que dá corpo a esta ideia está na pesquisa relacionada com o RNA, cujo trabalho permitiu, no último ano, acelerar a produção de vacinas contra a covid-19. Contudo, por ser um método lento que pode demorar décadas até dar origem a aplicações concretas, não é merecedor de financiamento suficiente, denunciam os especialistas.

“A investigação básica não pode ser descurada e é importantíssima, só investindo muito nela é possível depois resolver problemas aplicados”, atesta João Gonçalves. O professor do Instituto de Investigação do Medicamento da Universidade de Lisboa (iMED) sublinha que o investimento em ciência “é um problema crónico em Portugal” e lamenta a falta de uma estratégia nacional nesta área. “Quando olhamos para o Japão, os EUA ou Inglaterra, vemos que são países muito pragmáticos e que pensam a longo prazo”, refere. Em todos estes países, a taxa de investimento em investigação é muito superior à registada em território português.

“Fundamentalmente, o nosso investimento em ciência é parco e, muitas vezes, sem orientação estratégica”, aponta João Gonçalves, investigador do iMED

“A verdade é que temos uma investigação científica com uma qualidade muito superior ao financiamento que temos disponível”, diz João Carlos Lima. O subdiretor adjunto da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa aponta as “muito baixas” taxas de aprovação nos concursos promovidos pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) como sinal deste subfinanciamento – na última edição, por exemplo, apenas cerca de 5% dos projetos submetidos receberam luz verde. “São taxas comparáveis aos concursos mais competitivos da comunidade europeia”, afirma.

A colaboração entre instituições, academia e indústria é, por isso, uma das soluções para aproveitar o capital disponível de forma eficiente, algo que ficou patente na conferência digital "Universidades Europeias: na vanguarda da transformação na educação, na investigação e na inovação", promovida pelo Instituto Politécnico de Leiria com a Presidência Portuguesa do Concelho da UE, na última quarta-feira. Neste evento, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, defendeu que as “parcerias entre regiões, universidades e instituições de ensino superior são particularmente críticas”. A atividade da presidência continua a ser acompanhada, em permanência até julho, pelo projeto ‘Mais Saúde, Mais Europa’, do Expresso com o apoio da Apifarma. Além de dois artigos semanais, à segunda e sexta-feira, a iniciativa fomenta o debate em torno das principais questões ligadas à ciência e à saúde com o evento Cancro: Cada Dia Conta, a 26 de maio.

7%

é o aumento percentual anual do investimento em I&D pelo governo chinês, cujo orçamento para a inovação é já superior ao da União Europeia

Grandes desafios da investigação

  • João Gonçalves acredita que só será possível a Portugal desenvolver uma capacidade inovadora forte com mais investimento público e privado em investigação e desenvolvimento (I&D), obrigatoriamente complementado por “uma ação mais estratégica”. Devem, defende, ser definidas áreas prioritárias a médio-longo prazo para melhor orientar os cientistas na hora de desenhar projetos.
  • Com muita competição e pouco orçamento disponível, os investigadores queixam-se da falta de programas de financiamento para a renovação de equipamentos científicos. “Posso ter comigo tipos excelentes a trabalhar, mas se vão concorrer com tipos da Alemanha ou de Inglaterra, não há hipótese”, diz.
  • A colaboração em I&D é “fundamental para construir um espaço europeu mais capaz de fazer inovação tecnológica”, refere João Carlos Lima, que olha para os laboratórios que juntam universidades e empresas como o caminho a seguir para conseguir maior investimento na ciência. “Aqui o financiamento é sobretudo para recursos humanos altamente qualificados, que possam fazer investigação que produza tecnologia para ser transferida para as indústrias”, revela.

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