Projetos Expresso

Paulo Portas: “Falta mais investimento privado e público em investigação e desenvolvimento”

Ao longo de três horas, a conferência Inovação em Saúde procurou recordar as principais lições aprendidas pela UE com a pandemia, mas também apresentar soluções para desafios atuais e futuros para os doentes e para a inovação europeia
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Projetos Expresso. O antigo governante defendeu maior cooperação europeia no sector das ciências da vida, mas também a criação de um ambiente mais atrativo para a inovação da indústria. Acesso dos doentes aos cuidados de saúde e o reforço da investigação científica na Europa foram temas centrais na conferência “Liderança Europeia na Saúde”, promovida pelo Expresso com o apoio da Apifarma

Francisco de Almeida Fernandes Fotos: José Fernandes

Mais anos de vida e um percurso com maior qualidade são objetivos comuns às sociedades e à indústria farmacêutica, mas ainda existem obstáculos à inovação no sector da saúde em território europeu. Para Denis Ostwald, diretor executivo do WifOR Institute, um dos primeiros passos é reconhecer que “a saúde é um investimento e não um custo”, contrariando o impulso dos governos para cortar despesa nesta área. “Precisamos de investimento sustentável em investigação e desenvolvimento (I&D)”, defendeu hoje durante a conferência “Inovação em Saúde: Não deixar ninguém para trás”, organizada pelo Expresso com o apoio da Apifarma.

O especialista sublinha a importância de “medir o impacto social do investimento em saúde” para que seja possível aos decisores políticos reconhecer as mais-valias de novos projetos científicos, medicamentos ou dispositivos médicos. O eurodeputado Manuel Pizarro acredita que a carga burocrática é um dos problemas no ecossistema de inovação científica na Europa. “Temos um sistema regulatório muito difícil, como estamos a ver no processo de autorização de vacinas”, diz. Já o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, concorda que “falta mais investimento privado e público em I&D”, mas que para o multiplicar será fundamental discutir “políticas de impostos, de trabalho e de cooperação entre ciência, universidades e empresas”.

“Se a pandemia nos ensinou alguma coisa, é que de facto é necessário colaborarmos”, afirma João Almeida Lopes. O presidente da Apifarma defende, por isso, a criação de um fórum europeu de alto nível que junte peritos e responsáveis de todos os países para “discutir soluções”, invertendo o cenário atual de desvantagem da União Europeia em relação aos EUA. “As vacinas acabaram por ser aprovadas mais depressa nos EUA do que na Europa”, lamenta. Rui Santos Ivo, que liderou o grupo de trabalho sobre Avaliação de Tecnologias de Saúde no espaço comunitário, diz que para a Presidência Portuguesa é prioritário “tudo o que tem a ver com o acesso sustentável, universal e equitativo ao medicamento”, algo que está intimamente ligado à capacidade de cooperação entre estados-membros nos processos de avaliação e disponibilização de inovação em saúde.

Participaram na conferência especialistas de todo o mundo para discutir o futuro do velho continente na saúde global. João Almeida Lopes (Apifarma), Diogo Serras Lopes (secretário de Estado Adjunto da Saúde), Manuel Pizarro (eurodeputado), Paulo Portas (CCIP), Alexandre Lourenço (APAH), Cláudia Furtado (Infarmed), Graça Carvalho (eurodeputada), Maria do Carmo Fonseca (IMM), Rui Santos Ivo (Infarmed) e João Neves (secretário de Estado Adjunto da Economia) ofereceram uma perspetiva europeia com sensibilidade nacional. Entre os convidados internacionais estiveram Denis Ostwald (WifOR), Tim Wilsdon (CRA), Nathalie Moll (EFPIA), Antonella Cardone (ECPC), Richard Barker (Metadvice), Yann Le Cam (EURORDIS) e Andrzj Rys (DG Sannte).

Conheça as principais conclusões do primeiro evento associado ao projeto Mais Saúde, Mais Europa, promovido pelo Expresso com o apoio da Apifarma:

Desigualdades no espaço europeu

  • Tim Wilsdon, vice-presidente da Charles River Associates, analisou as principais causas e consequências de uma Europa fragmentada no que à saúde diz respeito. De acordo com o especialista, “há muitos países em que existe um longo período entre a aprovação e a decisão sobre reembolso”, prejudicando o tempo que o cidadão tem de esperar até conseguir aceder ao medicamento ou tratamento.
  • No velho continente, o atraso até à decisão de reembolso é de 13 meses, enquanto que nos EUA o processo demora, em média, sete meses. Uma das origens deste problema, defende, está nas diferentes exigências que os estados-membros fazem à indústria sobre as evidências científicas que têm de apresentar. “Isto atrasa o processo”, diz.
  • Cláudia Furtado, do Infarmed, admite que o método podia ser melhorado, mas alerta que, em Portugal, existem avaliações que podem durar apenas dois meses e outras que podem ir até um ano pela diferença na qualidade de evidências que as empresas apresentam. Sugere, por isso, uma harmonização dos requisitos para a análise de novos medicamentos.
  • “Para ninguém ficar para trás, temos de aprender a trabalhar melhor em conjunto”, sublinhou Diogo Serras Lopes, secretário de Estado Adjunto da Saúde, apelando a um percurso em direção ao “acesso sustentável e universal aos medicamentos”.

Mais cooperação e investigação

  • Para a eurodeputada Graça Carvalho, é fundamental promover “a cooperação na investigação biomédica a nível europeu, em especial nas doenças raras”. De todas as que se conhecem, apenas 5% tem tratamento aprovado e disponível no mercado. Encontrar uma vacina para a covid-19, lembra, só foi possível “porque investimos em investigação básica” vários anos antes da pandemia chegar, o que mostra que “temos de continuar a investir” nesta área.
  • “Temos de assegurar que a Europa se mantém líder em investigação fundamental e para isso temos de manter atenção ao investimento dos diferentes Estados-membros e da UE”, pede a cientista e líder do Instituto de Medicina Molecular, Maria do Carmo Fonseca.
  • Paulo Portas, atualmente vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, acredita ser preciso criar “uma aliança entre a ciência e o capital”, porque, considera, a “inovação é uma fonte crítica para o crescimento económico”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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