As teleconsultas são uma das ferramentas da digitalização
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Projetos Expresso. A pandemia mostrou que, no que toca a vírus, não existem fronteiras e que é urgente agir de forma universal para superar os desafios sanitários. O tema marcará a discussão no evento organizado pela Presidência Portuguesa da UE, quinta-feira, transmitido a partir do CCB. O projeto Mais Saúde, Mais Europa - iniciativa do Expresso com a Apifarma - reúne os momentos que marcam a agenda da semana
Francisco de Almeida Fernandes
“Mente sã em corpo são”. A perspetiva arcaica sobre a importância do equilíbrio entre a saúde física e o bem-estar mental é ainda hoje vista como essencial para um estilo de vida saudável. Porém, se é mais acessível cuidar do corpo em países com sistemas públicos de saúde, em países com menos recursos ou sem um serviço nacional o acesso é menor e mais caro. Além da solidariedade, países como Portugal e regiões como a Europa olham cada vez mais para nações emergentes como a chave para manter o mundo de boa saúde. Este será o tema principal da conferência Reforçar o papel da UE na Saúde Global, organizada esta quinta-feira pela Direção-Geral da Saúde (DGS) e pelo Ministério da Saúde na Presidência Portuguesa da UE.
Os dados mostram a importância do debate. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), metade da população mundial não tem os cuidados médicos de que precisa. Entre as que têm, cerca de 100 milhões de pessoas são levadas à pobreza pelos custos dos tratamentos e da medicação. A consequência está à vista com a pandemia: para atingir uma imunidade global contra o novo coronavírus será necessário garantir que todas as zonas do mundo têm acesso à vacinação. Aliás, neste campo Portugal já anunciou a intenção de enviar 5% das vacinas adquiridas para os PALOP e Timor, num total de cerca de um milhão de doses, a partir do segundo semestre do ano.
100 milhões
de pessoas em todo o mundo são levadas à pobreza por despesas relacionadas com cuidados de saúde e medicamentos (Fonte: OMS)
Na União Europeia, a presidência portuguesa do conselho “está a trabalhar nos dossiers de preparação para uma UE mais resiliente e mais bem preparada para ameaças de saúde”, diz ao Expresso a eurodeputada Sara Cerdas. A representante do PS no Parlamento Europeu – que participará na conferência de quinta-feira – dá como exemplo “a proposta legislativa que visa preparar a UE para futuras ameaças transfronteiriças” e “o aumento de competências do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC)”. Adicionalmente, refere que a Comissão Europeia e a comitiva nacional estão a implementar a HERA – Autoridade Europeia de Preparação e Resposta a Emergências de Saúde para, numa primeira fase, enfrentar as novas variantes do SARS-COV-2. A nova instituição, que deverá estar em funcionamento até ao final do ano, tem previsto um pacote de €120 milhões para financiar projetos de I&D, nomeadamente para a criação de infraestruturas de partilha de dados e de um cluster de saúde. Trabalhar em equipa no espaço comunitário a 27 permitirá garantir uma capacidade de reação mais ágil e eficaz, acredita. “Importa ter uma boa aposta científica que resulte em mais dados em saúde”, defende.
“A Presidência Portuguesa está a trabalhar nos dossiers de preparação para uma Europa mais resiliente e melhor preparada para futuras ameaças de saúde”. Sara Cerdas, eurodeputada
Além da segurança sanitária, a defesa da saúde global passa por maior cooperação entre países, regiões e instituições para a erradicação das doenças infeciosas e pelo fortalecimento dos sistemas de saúde em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Para isso, contudo, há que apostar na investigação e na inovação científica na Europa, aumentando a resiliência do velho continente e diminuindo a sua dependência de cadeias de valor extracomunitárias.
A resiliência é um dos quatro principais objetivos traçados pela Comissão Europeia e pela Presidência Portuguesa do Conselho da UE, a par com mais justiça social – em que se inclui o acesso à saúde -, digitalização e sustentabilidade. O projeto Mais Saúde, Mais Europa, do Expresso em parceria com a Apifarma, vai acompanhar em permanência as atividades da presidência até julho e fomentar a discussão através de dois eventos – “Liderança Europeia na Saúde”, a 7 de abril, e “Cancro: Cada Dia Conta”, a 26 de maio. À segunda-feira, reunimos os eventos que vão marcar a semana e, à sexta-feira, apresentamos as conclusões dos momentos-chave.
Os destaques da semana:
Segunda-feira, 22
Hoje reúnem-se, via videoconferência à porta fechada, os ministros europeus responsáveis pela competitividade no encontro COMPET – Mercado Interno e Indústria, numa organização do Ministério da Economia e da Transição Digital. No debate participam ainda Margrethe Vestager, vice-presidente da Comissão Europeia (CE), e o comissário Thierry Breton.
Os líderes políticos vão discutir a autonomia estratégia da UE para promover maior resiliência e competitividade da economia europeia, sob a perpestiva de reforço do mercado único, promoção de condições equitativas de concorrência e abertura da UE ao mundo.
Sendo o digital um dos pilares da estratégia comunitária, será ainda apresentada a comunicação da CE sobre “Orientações para a Digitalização até 2030: a via europeia para a Década Digital”.
Quarta-feira, 24
À semelhança do evento “Cancro: Cada Dia Conta”, organizado pelo Expresso com o apoio da Apifarma a 26 de maio, também a presidência incentiva o debate em torno do tema com a conferência “Roteiro dos Cancerígenos: Prevenir o cancro relacionado com o trabalho”. No evento participam Maria Fernandes Campos, inspetora-geral da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), o secretário de Estado Adjunto do Trabalho e da Formação Profissional, Miguel Cabrita, e Jukka Takala, presidente da Comissão Internacional de Saúde Operacional, entre outros.
Além das intervenções individuais dos diferentes oradores, a iniciativa guarda espaço para um debate que reúne o olhar da CE, do Governo, dos trabalhadores e dos empregadores sobre um tema fundamental para a saúde dos europeus. As doenças oncológicas associadas à atividade laboral são responsáveis pela morte de cerca de 100 mil pessoas por ano na Europa.
Com transmissão a partir do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a conferência é de acesso livre a partir da página de Facebook ou Instagram da ACT entre as 09h30 e as 15h.
Ainda na quarta-feira, acontece a “Cimeira Social Tripartida”, cujo tema principal será “Como alcançar uma recuperação justa e sustentável na Europa”, numa organização conjunta entre Conselho Europeu, Comissão Europeia e Presidência Portuguesa, representada desta vez pelo primeiro-ministro António Costa.
A gestão da crise sanitária, económica e social será um dos pontos da reunião, assim como a recuperação pós-covid e a preparação da Cimeira Social do Porto, que a 7 de maio analisará a ação europeia com base nos quatro pilares essenciais – resiliência, justiça social, digital e sustentabilidade. A videoconferência será realizada à porta fechada a partir das 15h.
Quinta-feira, 25
«Reforço do papel da União Europeia na Saúde Global» é o mote para a conferência organizada pela DGS e Ministério da Saúde, no âmbito da presidência, em que vão participar nomes como Marta Temido (Ministra da Saúde), Graça Freitas (DGS), Artur Paiva (Programa Nacional de Prevenção e Controlo de Doenças Infeciosas) ou Sara Cerdas (eurodeputada). Objetivo é discutir a cooperação mundial em temas de saúde pública.
Haverá, além dos debates ao longo do dia, discursos da presidente da CE, Ursula von der Leyen, do presidente da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus e de Durão Barroso, entre outros responsáveis internacionais.
A eurodeputada Sara Cerdas vai moderar um debate sobre a abordagem da UE à saúde global, que contará com representantes do ECDC, da Agência Europeia do Medicamento e do grupo de trabalho da estratégia da Direção Geral de Saúde e Segurança dos Alimentos (DG SANTE)