Projetos Expresso

Olhar a ciência e a saúde como “áreas de excelência em termos económicos”

Olhar a ciência e a saúde como “áreas de excelência em termos económicos”
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Projetos Expresso. Depois da discussão em torno da vacinação para a covid-19, os especialistas injetaram uma elevada dose de confiança no sistema regulatório europeu e na produção científica. À sexta-feira, o Expresso e a Apifarma fazem um apanhado dos momentos que marcaram a semana no âmbito do projeto Mais Saúde, Mais Europa

Francisco de Almeida Fernandes

Apesar da perda progressiva de autonomia estratégica na área da saúde, ao longo das últimas décadas, a União Europeia está a trabalhar para inverter a tendência e aumentar a sua competitividade científica. No final do ano passado, a líder comunitária Ursula von der Leyen deixava claro que a Europa precisa de desenvolver soluções e antecipar as dificuldades de futuras crises sanitárias. Isto é possível através do reforço do apoio público ao investimento em inovação que permita aos estados-membros tornarem-se mais resilientes. “Este é um pensamento extremamente inteligente”, afirma João Almeida Lopes. O responsável pela Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma) não tem dúvidas de que a pandemia lembrou os europeus que não podem estar dependentes de mercados externos, quer na produção de conhecimento, quer no fabrico de fármacos, sejam eles quais forem. Contudo, o robustecimento da competitividade europeia depende diretamente da implementação dos quatro pilares essenciais que orientam a presidência portuguesa do Conselho da UE e os objetivos comunitários – resiliência, justiça social, digitalização e sustentabilidade.

“É fundamental garantir acompanhamento e apoio da economia nestas áreas de excelência da saúde, que são também áreas de excelência em termos económicos”, diz. É por isso que considera “altamente meritórios” programas como o Horizonte Europa, apresentado pela presidência em fevereiro, que vai colocar €95 mil milhões ao serviço da inovação científica até 2027. A intenção é atingir a meta de 3% do PIB europeu em investimento, público e privado, em investigação e desenvolvimento, recuperando a competitividade industrial da união. Portugal, que tem discutido a possibilidade de vir a ser um produtor de vacinas, “tem muita competência e muitos cientistas” que podem ser colocados ao serviço do país e da economia, assinala Almeida Lopes.

“É fundamental garantir acompanhamento e apoio da economia nestas áreas de excelência da saúde, que são também áreas de excelência em termos económicos”, diz João Almeida Lopes

Até julho, o Expresso, com o apoio da Apifarma, vai acompanhar em permanência a atividade da presidência portuguesa do Conselho da UE no âmbito do projeto Mais Saúde, Mais Europa e lançar a discussão através de dois eventos - "Liderança Europeia na Saúde", a 7 de abril, e "Cancro: Cada Dia Conta", a 26 de maio. Os principais desafios, as oportunidades e os momentos-chave dos próximos três meses de liderança serão reportados e analisados para lhe dar conta de como está a UE a trabalhar para um futuro mais resiliente, socialmente justo, digital e sustentável.

Recolocar a Europa na liderança da inovação científica global permitirá torná-lo mais resiliente, mas também trará consigo o fortalecimento de uma sociedade mais coesa e justa em que os cidadãos têm acesso fácil, livre e igualitário a medicamentos e cuidados de saúde. Além do I&D, a digitalização da medicina e da ciência deverá servir como motor para acelerar a transformação, aumentar a cooperação entre estados-membros através da partilha de dados e fomentar a sustentabilidade – ambiental, económica e social. Esta é a discussão dos europeus hoje na preparação de um amanhã mais forte.

€95 mil milhões

é o valor que o Horizonte Europa, apresentado pela presidência em fevereiro, vai colocar ao serviço da inovação científica até 2027

Presidência Portuguesa da UE anunciou, em fevereiro, a disponibilização de um programa de apoio à inovação e investigação europeia no valor de 95 mil milhões de euros até 2027
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Confiar na ciência

  • Esta quinta-feira, a Agência Europeia do Medicamento – bem como outras congéneres nos diferentes estados-membros – reafirmou confiança nas vacinas disponíveis para combater a pandemia. “Os benefícios de uso superam os possíveis riscos”, defendeu Emer Cooke, diretora da EMA, depois da reavaliação científica da segurança das vacinas a propósito das dúvidas levantadas ao longo da semana.
  • A análise foi feita pelo comité de segurança da instituição, composto por cientistas e especialistas que, todos os anos, avalia a eficácia de todos os novos medicamentos em aprovação para utilização no espaço europeu. Não foi comprovada qualquer ligação entre as vacinas e os cerca de 30 casos de coagulação sanguínea.
  • A Organização Mundial de Saúde reconfirmou, também esta semana, a importância de manter o processo de vacinação contra a covid-19. Alertou ainda que a proteção destes medicamentos é dirigida ao novo coronavírus, mas não contra outras doenças e maleitas que continuam a existir.
  • Após meses de estudos – assentes em investigações e trabalho que já vinha sendo desenvolvido nos últimos anos – e de uma colaboração sem precedentes entre empresas e instituições, foi possível criar fármacos para salvaguardar a saúde mundial e combater a covid-19. A fiabilidade do processo está garantida não apenas pelas autoridades reguladoras, mas também pelos milhares de cientistas, investigadores e especialistas que estiveram, direta ou indiretamente, envolvidos.
  • Recuperar o atraso na vacinação da população mundial, e em particular na portuguesa, é essencial para proteger a saúde pública e iniciar um período de recuperação económica e social pelo qual cidadãos e governos anseiam.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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