Projetos Expresso

Vacinas, saúde mental e médicos do futuro: estes são os temas que marcam a semana na presidência

Apesar das dúvidas dos últimos dias, a ministra da Saúde Marta Temido garante que a confiança no processo de vacinação e no regulador europeu não deve sair "beliscada"
Apesar das dúvidas dos últimos dias, a ministra da Saúde Marta Temido garante que a confiança no processo de vacinação e no regulador europeu não deve sair "beliscada"
Getty Images

Projetos Expresso. Além da decisão da Agência Europeia do Medicamento sobre a AstraZeneca, a agenda da presidência portuguesa da UE para a saúde é ainda dominada por várias discussões em torno dos desafios e oportunidades nos próximos anos. Até julho, o Expresso seleciona os principais temas em debate no projeto Mais Saúde, Mais Europa

Francisco de Almeida Fernandes

A guerra declarada pela ciência à covid-19 encontrou esta semana um novo campo de batalha, que obrigou a reunir as tropas e a reavaliar a estratégia de combate. Após dezenas de relatos sobre uma eventual ligação entre a administração da vacina da AstraZeneca e o surgimento de casos de tromboembolismo em vários países europeus, o Comité de Segurança da Agência Europeia do Medicamento (EMA) vai voltar a analisar, esta quinta-feira, a segurança do fármaco. “A nossa confiança no processo de vacinação e na comissão e nas agências europeias não sai em momento nenhum beliscada”, garantiu Marta Temido esta terça-feira no final do encontro entre ministros da saúde europeus na presidência portuguesa da União Europeia.

Em causa estão os cerca de 30 doentes vacinados que apresentaram coagulação sanguínea e que, em alguns casos, acabaram por morrer. Contudo, e apesar da suspensão provisória da utilização da AstraZeneca, as entidades reguladoras europeias e nacionais garantem não existir, para já, uma relação causa-efeito comprovada. A opinião generalizada dos cientistas segue no mesmo sentido, apoiando-se na proporção entre possíveis efeitos secundários graves, cerca de três dezenas, e o universo de 17 milhões de pessoas já vacinadas.

No projeto Mais Saúde, Mais Europa, o Expresso - com o apoio da Apifarma - vai acompanhar até julho, e em permanência, a atividade da presidência portuguesa da UE nos temas ligados à saúde – desafios e oportunidades para um futuro mais resiliente, digital, justo e sustentável. Além de selecionarmos os principais pontos em debate, à sexta-feira publicamos uma análise desses momentos-chave.

Os principais destaques da semana:

Quinta-feira, 18

  • O mundo, e a Europa em particular, vai estar esta quinta-feira de olhos postos no que sair da reunião extraordinária do Comité de Avaliação do Risco em Farmacovigilância da Agência Europeia do Medicamento (EMA), que se realiza à porta fechada. É desta discussão entre cientistas e especialistas que sairá a decisão de renovar, ou não, a confiança na segurança da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e AstraZeneca.
  • Apesar dos eventos tromboembólicos detetados em cerca de 30 pessoas vacinadas, não está ainda comprovado que tenham sido causados pelo fármaco. De forma generalizada, especialistas têm alertado que os efeitos secundários fazem parte de todos os medicamentos disponíveis, sublinhando que os benefícios são, normalmente, muito superiores aos riscos. Caso se confirme a ligação entre os casos de coagulação sanguínea e a vacina da AstraZeneca, estas situações representam casos extremamente raros dada a sua incidência – 30 doentes em 17 milhões de pessoas vacinadas.
  • Para se ter uma ideia do que está, de facto, em causa basta atentar aos riscos inerentes à toma da pílula contracetiva, por exemplo. Neste medicamento, amplamente utilizado por mulheres de diferentes faixas etárias, existe um risco de 0,05% para a formação de tromboses. A verificarem-se as alegações sobre esta vacina, a probabilidade de um doente sofrer uma trombose seria de 0,0002%.

  • A Fundação para a Saúde – SNS organiza também um webinar dedicado ao tema quente da semana, a segurança das vacinas contra a covid-19. Apesar da preocupação que atinge, por estes dias, a população europeia, dados da Escola Nacional de Saúde Pública mostram que a confiança dos portugueses na segurança das vacinas tem vindo a aumentar desde o final de 2020, com cerca de 75% das pessoas a admitir que tomariam o medicamento assim que lhes fosse disponibilizado.
  • “Covid-19: Eficácia/Efetividade e Segurança das diversas vacinas. Como monitorizar?” será o tema do debate virtual, agendado para as 21h, moderado por Victor Ramos e António Leuschner, da Fundação para a Saúde – SNS. No painel de oradores marcam presença três nomes do Infarmed: António Faria Vaz, vice-presidente do Conselho Diretivo, Marta Marcelino, responsável da Direção de Avaliação de Medicamentos, e Fátima Ventura, diretora da Unidade de Avaliação Científica.
  • A participação no evento é gratuita, mas requer inscrição prévia em plataforma digital.

  • Ansiedade, stress e depressão foram alguns dos principais sintomas sentidos pelos enfermeiros portugueses na primeira fase da pandemia. A conclusão é do estudo liderado pelo CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, que entrevistou mais de 800 profissionais de saúde entre março e maio de 2020. A pressão a que estão submetidos, e que aumentou consideravelmente nos últimos meses, pode provocar doenças mentais a longo prazo, alerta o investigador Francisco Sampaio.
  • Os resultados desta auscultação vão estar no centro do debate “Saúde Mental dos Profissionais de Saúde em tempos de pandemia”, organizado esta quinta-feira, 18, pela Associação de Unidades de Cuidados na Comunidade (AUCC). A conversa contará, a partir das 18h, com o responsável pela investigação já citado, mas também com Carlos Sequeira (presidente da ASPESM), Rita Costa (UCC Senhora da Hora) e outros profissionais da Escola Superior de Saúde de Santa Maria. A participação é gratuita para sócios da AUCC e da Associação Portuguesa de Cuidados de Saúde Primários (APCSP), tendo um custo de €5 para o público em geral.

  • Ainda esta quinta-feira, destaque para a conferência internacional “Que tipo de médico queremos para o futuro?”, organizada pela Federação Europeia das Academias de Medicina (FEAM) em parceria com a Academia Nacional de Medicina de Portugal (ANMP). Entre as 08h30 e as 11h30, os oradores vão debater perspetivas para a saúde da próxima década e as novas exigências para os profissionais do sector. Entre os participantes contam-se os portugueses ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Manuel Heitor, Maria do Céu Machado (FEAM), Fausto Pinto (ANMP) e Manuel Sobrinho Simões (ANMP).
  • O evento, associado à presidência portuguesa da UE, será aberto ao público e de participação gratuita. Pode inscrever-se através deste link.

Sexta-feira, 19

  • A fechar a semana está o Digital Day 2021, o certame organizado pela Comissão Europeia com a presidência portuguesa da UE procura acelerar o desenvolvimento digital da Europa, que afetará de forma transversal toda a sociedade, incluindo a saúde. Com um futuro cada vez mais online, especialistas e políticos reúnem-se esta sexta-feira para discutir os desafios e as oportunidades da Europa, procurando alcançar compromissos rumo a uma crescente partilha de dados entre estados-membros; e à procura de soluções verdes e digitais.
  • A conferência acontece entre as 09h e as 16h (hora de Portugal Continental), com participação sujeita a inscrição prévia.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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