O antigo presidente do conselho de administração da TAP, Miguel Frasquilho, considera que a transportadora deve ser privada, ainda que assuma que possa haver manutenção de capital público – como se antecipa no atual processo de privatização.
Na audição da Comissão Parlamentar de Inquérito desta quinta-feira, 4 de maio, Frasquilho lembra que “sempre” defendeu “que a TAP devia ser privada”. “Pode, ou não, ter participação pública, mas, mesmo tendo, acho que deve ser minoritária”, declarou aos deputados, acrescentando que “há determinados serviços e condições que devem ser asseguradas para o país”.
Não indicou quais, ainda que, por exemplo, tenha referido que “a diáspora é muito importante para a TAP, mas a TAP tem de ser sustentável”. “No ponto a ponto [sem utilização do hub para voos intercontinentais, por exemplo], a TAP nunca vai ser competitiva com uma low cost”, considerou.
“O que espero é que seja possível às forças sindicais, aos trabalhadores, e à administração da TAP, trabalharem de forma a garantir que a TAP tem pernas, asas, para voar sozinha”, disse Miguel Frasquilho, que esteve na companhia aérea entre 2017 e 2021, saindo quando o Estado era já o acionista maioritário – ainda que até estivesse disponível para continuar, como revelou.
Aos deputados, o também ex-deputado admitiu que o desaparecimento seria prejudicial para o país: “Se a TAP desaparecesse íamos apanhar os voos a Madrid ou Paris. Seria uma situação muito danosa”. Aliás, Frasquilho já o tinha dito em relação à eventual insolvência que teria acontecido caso o Estado não colocasse 3,2 mil milhões de euros após a pandemia: “Sem o plano [de reestruturação] aprovado, a TAP teria acabado em 2020”, sentenciou, reafirmando que não foi com gosto que decidiram fazer os cortes salariais.
Tendo ido para a TAP pelas mãos dos privados (David Neeleman e Humberto Pedrosa) – que admitiu que não quiseram colocar dinheiro após a pandemia –, Miguel Frasquilho defendeu que a estratégia delineada de troca de aviões fazia todo o sentido.
Sem limitações de relação com Governo
Sobre uma empresa que está no centro da polémica devido à forma como ali é exercida a liderança, o antigo presidente da administração da TAP disse que, quando ingressou na empresa, em 2017, encontrou uma “TAP que tinha regras de governance muito fracas”, com uma gestão com pouco controlo de fiscalização.
Mas sobre o seu período, nunca teve problemas na ligação com o Governo (até recusou qualquer tipo de condicionamento). “Não consegui reunião com o ministro das Finanças João Leão, mas tive sempre canal aberto com o secretário de Estado do Tesouro, Miguel Cruz, com quem falava. Nunca tive limitação de contacto quer com Finanças, quer com Infraestruturas. Sempre tive a vertente sectorial, como vertente financeira, com Diretora-Geral do Tesouro e Finanças, com o presidente da Parpública, nunca tive nenhuma limitação”, disse.
Aviões acima do valor de mercado não são financiados por lessors
Sobre o montante pago pela TAP pelos aviões da Airbus, negociados por David Neeleman, cujo valor está a ser investigado pelo Ministério Público por suspeita de estarem a ser comprados por preços acima do mercado, Frasquilho diz desconhecer o assunto. "Nunca tive informação de que os aviões estivessem mais caros do que os concorrência", frisou o ex-chairman da TAP.
E defendeu que consideraria pouco provável já que não acredita que houvesse algum lessor (fiador de empréstimo para comprar aviões) que fosse financiar uma aeronave cujo valor estivesse 10 ou 20% acima do valor de mercado.
Questionado sobre a parceria da TAP com a Azul de David Neeleman, Frasquilho adiantou que o que lhe diziam os técnicos da companhia é que a aliança entre as duas companhias "era superpositiva" tanto para a TAP como para a Azul.
Esclareceu ainda que praticamente só a Azul é que usa o aeroporto de Campinas, e que este é o seu hub principal.
Afastou a ideia de que pudesse haver um conflito de interesse pelo facto de a Vieira de Almeida ter estado a assessorar a TAP e agora estar, segundo foi noticiado, a assessorar um interessado, alegando que existem chinese walls. E esse interessada é a Ibéria, de acordo com o Eco. A Vieira de Almeida assessorou a Parpública, e nessa sequência a TAP, nas negociações do plano de reestruturação em Bruxelas.
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