Sistema financeiro

Depois de se afundar 24% em bolsa, Credit Suisse pede demonstração de apoio ao Banco Nacional da Suíça

Depois de se afundar 24% em bolsa, Credit Suisse pede demonstração de apoio ao Banco Nacional da Suíça

O Credit Suisse, entre uma crise institucional, terá apelado aos supervisores suíços que demonstrassem o seu apoio publicamente ao banco. O BCE, entretanto, solicitou aos bancos europeus dados sobre a exposição à instituição suíça, avança o Financial Times

No mesmo dia em que as ações do banco chegaram a cair mais de 30%, provocando a suspensão momentânea da negociação, o Credit Suisse apelou a que o banco central da Suíça fizesse uma demonstração pública de apoio para mitigar a crise nesta instituição financeira, a 17.ª maior da Europa em montante total de ativos. O Banco Central Europeu (BCE), entretanto, terá pedido aos bancos europeus que reportassem a sua exposição ao banco suíço.

Fontes avançaram ao Financial Times esta quarta-feira, 15 de março, que o pedido de apoio público foi feito não só ao Banco Nacional da Suíça, mas também ao supervisor suíço dos mercados financeiros Finma. As duas instituições ainda não decidiram se farão alguma demonstração pública de apoio.

Também de acordo com fontes do jornal britânico, o BCE - um dia antes da reunião de decisão de política monetária que deveria, se os planos não se alterarem, aumentar as taxas diretoras em 50 pontos-base - solicitou aos bancos europeus que reportassem a sua exposição ao Credit Suisse e só o medo de poder ter um efeito negativo fez com que optasse por não fazer um anúncio público a afirmar o seu compromisso com a estabilidade do setor bancário europeu.

A crise bancária norte-americana da semana passada, que teve como resultado a liquidação voluntária de um banco e da resolução de outros dois pelos supervisores financeiros dos EUA fez com que as ações do setor da banca europeia fossem fortemente penalizadas nos últimos dias devido a temores de contágio.

O Credit Suisse, afetado por uma série de escândalos nos últimos anos como as perdas relacionadas com o colapso do fundo de investimento Archegos e do fundo Greensill. O banco, o 16.º maior da Europa segundo o ranking da S&P Global Market Intelligence, fechou o ano passado com fortes prejuízos, de 7,4 mil milhões de euros, os mais altos desde a crise financeira de 2008, imputando-os aos custos relativos à reestruturação do banco, que implica o despedimento de 9000 trabalhadores.

O banco não teve estabilidade na gestão de topo. Em janeiro de 2022, perdeu o chairman António Horta-Osório, por ter quebrado um confinamento da pandemia da covid-19; meses mais tarde, em abril, sairia Severin Schwann, vice-presidente; e Thomas Gottstein, presidente executivo, em julho. Em novembro, batia com a porta o diretor de compliance, Rafael Lopez.

O banco, que chegou a estimar a fuga de capitais nos 85 mil milhões de euros em outubro do ano passado, que à época classificou como “estancada”, angariou 4 mil milhões de francos suíços (cerca de 4,1 mil milhões de euros ao câmbio atual) num aumento de capital concluído no início de dezembro do ano passado e que atirou o Saudi National Bank para o 1.º lugar na lista de maiores acionistas individuais do banco.

Na semana passada, o Credit Suisse disse que adiou a apresentação do relatório e contas relativo a 2022 depois do regulador norte-americano dos mercados de valores mobiliários ter contactado o banco, depois de uma análise periódica das contas, com dúvidas relativas a rubricas financeiras de anos anteriores.

Hoje, o presidente do Saudi National Bank, Ammar Al Khudairy, recusou, em declarações à Bloomberg, um novo aumento de capital no Credit Suisse. O responsável máximo da instituição dona de 9,88% do banco suíço foi taxativo: “a resposta é absolutamente não, por muitas razões além das simples - que são de ordem regulatória e estatutária”.

O presidente do banco, Axel Lehmann, reafirmou a sua confiança no banco graças ao processo de reestruturação em curso. O Credit Suisse “tem rácios de capital fortes e um balanço forte”, afirmou, citado pelo FT.

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