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Governo afasta administração da Parpública nove meses depois de ter sido eleita

Governo afasta administração da Parpública nove meses depois de ter sido eleita
André Kosters/Lusa

Joaquim Miranda Sarmento comunicou a demissão à administração da Parpública esta manhã, numa reunião no ministério das Finanças. Executivo não explica, para já, razões que levaram ao afastamento dos gestores

O Governo decidiu demitir a administração da Parpública, entidade que gere as participações do Estado em empresas, nove meses depois de ter sido eleita e a um ano de terminar o atual mandato. A notícia foi avançada pelo Jornal de Negócios, na tarde desta quinta-feira, e confirmada pelo Expresso.

Contactado, o Ministério das Finanças não prestou qualquer declaração sobre o que levou à demissão, dizendo que os esclarecimentos iram ser prestados em breve.

A demissão foi comunicada esta manhã, numa reunião que teve lugar no Ministério das Finanças, onde estavam presentes o ministro, Joaquim Miranda Sarmento, e os gestores da Parpública abrangidos por esta decisão do Governo.

O Jornal de Negócios diz que o que provocou esta decisão foi a postura mais reativa e menos preventiva da Parpública, em lidar com os dossiês.

O atual presidente da sociedade gestora era José Realinho de Matos, eleito em novembro do ano passado para o mandato 2023-2025. Os restantes lugares executivos da administração eram ocupados pelo vice-presidente Marco Neves, que estava na administração da Lisgarante, por Elisa Cardoso, antiga diretora da Carris, e por João Marcelo, ex-chefe de gabinete de João Nuno Mendes, antigo secretário de Estado das Finanças.

Da anterior administração tinham transitado José Azevedo Rodrigues e Maria João Pessoa de Araújo, mantendo-se como vogais não executivos até aqui.

Inapa terá sido o gatilho?

A insolvência da Inapa, empresa que o Estado com uma participação de 45% por via da Parpública, pode ter prejudicado a relação entre as Finanças e a administração da Parpública. Miranda Sarmento só terá tido informações sobre a real situação financeira da empresa em julho e as Finanças confirmaram que apenas tiveram conhecimento da situação da Inapa após a suspensão de ações da empresa.

O atual Governo acabou por negar qualquer ajuda para salvar a empresa, depois da Parpública sempre ter aprovado as contas da distribuidora de papel, mesmo com todos os alertas e críticas dos restantes acionistas.

A compra feita pela Inapa na Alemanha em 2019, que deu um peso ainda mais relevante à geografia na estrutura da distribuidora e levou a empresa a esta situação, foi criticada por acio­nistas ao longo dos anos nas assembleias-gerais (AG), mas nunca pela entidade liderada desde novembro por José Realinho de Matos. Aholding estatal validou a compra e sempre propôs e validou anualmente os votos de con­fiança à gestão.

A gestão da Inapa trocou mais de 50 contactos com a empresa estatal, entre 2020 e 2023, para indicar que precisava de uma solução mas sempre sem resposta positiva. A informação consta da carta que a gestão da Inapa, presidida por Frederico Lupi, enviou aos trabalhadores. Lupi deixa claro que a Parpública esteve a par dos problemas, mas que não os resolveu.

Governo continua limpeza

Em maio, o primeiro-ministro Luís Montenegro garantiu que não estava em curso qualquer "purga" na administração pública e recusou as acusações de estar a tentar "colonizá-la". E nesse mesmo dia, quando o líder do Executivo marcou presença no seu primeiro debate quinzenal, foi conhecida uma nova exoneração, desta feita na Agência para a Modernização Administrativa (AMA).

O antigo presidente, João Dias, que estava no cargo desde janeiro de 2023, através de concurso público, foi substituído por Sofia Mota, que já era diretora de uma das unidades da AMA e, entretanto, acusou o Governo de se ter apropriado de ideias suas, sem respeitar os direitos de autor.

Antes disso, Montenegro tinha exonerado Ana Jorge, antiga provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, numa das demissões que mais tinta fez correr. Foi substituída no cargo por Paulo Sousa, que já entregou o plano de reestruturação, apesar de o Governo ter dito que não o tencionava divulgar.

Outro organismo público a ser reestruturado foi a AICEP(Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), com o afastamento do anterior líder Filipe Santos Costa, que estava há cerca de um ano no cargo. Ricardo Arroja foi o escolhido para novo presidente da entidade. Numa entrevista ao Expresso, Filipe Santos Costa admitiu que "há uma orientação geral de substituição dos dirigentes da Administração Pública que estejam há menos de um ano em funções" e que era a primeira vez que há uma "politização o mandato da AICEP".

Com o atual Governo, houve ainda mudança de liderança na PSP (troca de José Barros Correia para Luís Carrilho). Na educação, foi exonerada a diretora-geral da Administração Escolar, Susana Castanheira Lopes. A Unidade Técnica de Acompanhamento e Monitorização do Setor Empresarial do Estado despediu-se de Fernando Pacheco, na presidência há dez anos.

No Instituto de Informática da Segurança Social Paula Barrocas Salgado foi substituída por Sérgio Bruno de Carvalho, da Deloitte, e no Instituto da Segurança Social foi Ana Vasques, antiga líder, que se demitiu por considerar que o atual governo demonstrou “falta de confiança”.

Na saúde, o antigo presidente-executivo do Serviço Nacional de Saúde, Fernando Araújo acabou por sair, e a liderança do INEM, após algumas confusões, também mudou de rosto.

Na Cultura, Dalila de Carvalho também não perdeu tempo, e nomeou um novo diretor da Museus e Monumentos e Portugal e substituiu o diretor do Instituto do Património.

Outra saída, esta pelo próprio pé, aconteceu na Águas de Portugal, com a demissão de José Furtado para abraçar novos desafios profissionais, após quatro anos na empresa pública.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: galmeida@expresso.impresa.pt

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