Economia

Pedro Soares dos Santos sobre novo imposto sobe lucros inesperados: "Distribuição está a ser alvo de punição do Governo"

Pedro Soares dos Santos, presidente da Jerónimo Martins
Pedro Soares dos Santos, presidente da Jerónimo Martins

"O que estes senhores estão a fazer é tributar a recuperação das empresas”, assume o presidente do grupo Jerónimo Martins (Pingo Doce) à margem da inauguração a loja mil da ARA na Colômbia

No que respeita à taxa sobre lucros inesperados, Pedro Soares dos Santos, presidente do grupo Jerónimo Martins, ainda aguarda “para ver a lei aprovada no Parlamento, com todos os ses, pontos e vírgulas, para saber exatamente o que está em causa”, mas do que já conhece deste tema não tem dúvidas: “Na distribuição está em causa uma punição do governo sobre as empresas bem geridas”.

Em declarações ao Expresso em Cartagena, à margem da inauguração da loja número mil da Ara na Colômbia, o empresário aceitou falar sobre o tema, admitindo ter já uma opinião formada: “O que estes senhores estão a fazer é a tributar a recuperação das empresas do sector e é isso que me revolta.

“Ainda nem há um ano saímos do covid. O Pingo Doce perdeu 80% do resultado em ano e meio de pandemia. Gastou 60 milhões de euros para prevenir os seus efeitos, teve horários limitados, não despediu ninguém nem gastou um tostão do Estado. E agora, quando luta para recuperar e ajudar as pessoas a enfrentarem outra crise, o que é que o Estado faz? cria um imposto”, justifica.

Se o cálculo for mesmo feito na base da média dos últimos quatro anos, o Pingo Doce terá de pagar imposto sobre lucros inesperados? “Sim, teremos algo a pagar”, admite.

É verdade que sobre este novo imposto, ainda não se sabe tudo. No entanto, do que foi possível entender, tudo indica que nas contas a fazer para determinar eventuais lucros extraordinários da distribuição, o governo vai considerar o ano e meio de perdas do sector por causa da covid-19 e isso “é grave e tem um nome que não é imposto”.

E qual é esse nome? “Extorsão”, responde simplesmente.

Regresso a 2018

Sobre os resultados do terceiro trimestre do Pingo Doce, admite que a insígnia, segunda no ranking do retalho alimentar em Portugal, atrás do Continente (grupo Sonae) “está a voltar à normalidade, aos números de 2018 /2019”. Mas se os lucros cresceram quase 30% isso ficou a dever-se mais ao desempenho da Biedronka, na Polónia, e à redução dos prejuízos da operação na Colômbia, do que aos números de Portugal.

Neste ponto, acusa o ministro das Finanças, Fernando Medina, de “falta de senso”, e acusa o Governo de “má fé”, até porque os custos estão a subir, “as margens das empresas do sector, de uma forma geral, estão a baixar” e na Jerónimo Martins a margem Ebitda caiu de 7,5% para 7,3% entre janeiro e setembro face a período homólogo e vai continuar a descer. “Não é possível passar toda a inflação para o consumidor”, garante.

O empresário acredita que “se o governo está preocupado com o consumidor faria mais sentido deixar as pessoas viverem as suas vidas”, o que neste caso significa descer a carga fiscal , designadamente o IVA, como outros países fizeram.

O exemplo polaco

“A Polónia desceu o IVA nos bens essenciais e isso ajudou efetivamente as pessoas com menos posses”, diz Pedro Soares Santos, que tem a cadeia Biedronka neste país, certo de que o anunciado imposto sobre lucros inesperados vai acabar a pesar no bolso dos portugueses”.

E em questões fiscais não esquece que Portugal já tem a fiscalidade mais pesada da Europa na distribuição e taxas únicas, como a taxa sobre a segurança alimentar imposta em 2012 com um caracter transitário que parece estar a tornar-se definitivo. Esta é uma questão que está a aguarda decisão judicial porque o seu grupo contesta a legalidade da medida.

Aliás, considerando estar a respeitar o espírito da lei, adianta que o grupo não pagou até ao momento esta taxa em dinheiro, mas apresentou as garantias bancárias devidas e está confiante na justiça.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mmcardoso@expresso.impresa.pt

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