Economia

Presidente do Santander sobre as 600 rescisões: “Ter lucro em Portugal é extremamente difícil”

Pedro Castro e Almeida, presidente executivo do Santander em Portugal
Pedro Castro e Almeida, presidente executivo do Santander em Portugal
Nuno Fox

CEO do Santander diz que objetivo do processo no banco ficará abaixo dos 600 trabalhadores e não nos 685 projetados. “Para sobreviver, tem de se tomar medidas corajosas e difíceis”, defende

Presidente do Santander sobre as 600 rescisões: “Ter lucro em Portugal é extremamente difícil”

Diogo Cavaleiro

Jornalista

O presidente executivo do Santander em Portugal considera que é necessário tomar medidas como o processo de reestruturação, para assegurar a sobrevivência. No Parlamento, Pedro Castro e Almeida referiu que, nesse dossiê, será necessário eliminar menos de 600 trabalhadores, face aos 685 postos de trabalho recentemente anunciados. Aos deputados, deixou um aviso: “Ter lucro em Portugal é extremamente difícil”.

“Para sobreviver, tem de se tomar medidas tão corajosas quanto difíceis”, declarou o líder da instituição de capitais espanhóis na comissão parlamentar de Trabalho e de Segurança Social, na audição desta quinta-feira, 29 de julho, exemplificando com a indústria relojoeira suíça, que não se adaptou a tempo da concorrência digital. “Estamos sobre-dimensionados”, declarou.

A reestruturação no Santander Totta, que a gestão pretende concluir até ao final do ano, será por revogações por mútuo acordo e reformas antecipadas, mas há a ameaça de despedimento se não for alcançada a meta pretendida. “Não é o Santander Totta que está em reestruturação, é o sector bancário”, defendeu Castro e Almeida, referindo outros bancos europeus que estão a seguir processos este ano: “o que está em causa é uma corrida contra o tempo, para não perder o desafio e o comboio da digitalização; e uma corrida para não perder os nossos clientes para os novos concorrentes tecnológicos”.

Os “motores imparáveis” são a “mudança comportamental dos clientes e a concorrência das empresas de base tecnológica”, disse. “Temos um banco, como todo o sistema bancário português, sem capacidade e sem as habilitações de base que a atividade atual exige. Vai depender de conseguir trazer novas gerações”, continuou o CEO. Para isso, é preciso uma renovação geracional, justifica.

Para Castro e Almeida, “ter lucro em Portugal é extremamente difícil, um país que não cresce”, exemplificando que as receitas na banca nacional resvalaram 30% na última década, quando na Europa foi possível manter.

Pedro Castro e Almeida contestou todas as acusações da comissão de trabalhadores (entidade com que admite uma má relação, ao contrário dos sindicatos), que fala em pressões, assédio e discriminação.

“Não é verdade que esteja a reduzir trabalhadores para os substituir no todo ou parte”, contestou, adiantando que no próximo ano o outsourcing (contratação externa) operacional vai representar menos de 1% dos custos operacionais do banco. “Nunca subcontratamos a atividade bancária direta”.

O Santander - cujos lucros caíram para metade no primeiro semestre - está a ser atacado por discriminação de mulheres, inclusive na rejeição de reformas antecipadas face aos trabalhadores homens. “O Santander não discrimina mulheres, nem permitiremos que alguém faça. Temos vindo também a perseguir o reforço da sua presença em lugares de direção do banco”, disse, argumentando que a proposta de reformas antecipadas para “todos” acima de 55 anos.

Castro e Almeida foi ouvido depois de Miguel Maya, que também recusou as acusações dos sindicatos e das estruturas representativas dos trabalhadores, e após os sindicatos, que até falam em concertação dos bancos, já que os dois bancos estão a usar a mesma sociedade de advogados, a CMS Rui Pena & Arnaut.

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