Economia

Miguel Maya e as 800 rescisões no BCP: "Acredito que o que estamos a fazer é o melhor para o banco"

Miguel Maya e as 800 rescisões no BCP: "Acredito que o que estamos a fazer é o melhor para o banco"
ANTÓNIO PEDRO SANTOS/Lusa

Presidente executivo do Millennium BCP recusa o assédio de que falam os trabalhadores. Admite que tem havido mais horas extraordinárias, mas que apenas sazonais e que o banco tem de atuar agora para ser competitivo

Miguel Maya e as 800 rescisões no BCP: "Acredito que o que estamos a fazer é o melhor para o banco"

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Depois de acusações dos sindicatos de assédio e de um clima de terror, o presidente executivo do BCP foi à comissão parlamentar de Trabalho desmitificar aquilo que diz serem “mal entendidos”, elencar dezenas de justificações para o processo de redução de pessoal, que vai abranger entre 800 e 900 trabalhadores até ao final do ano, e recusar que haja transferência para outsourcing (contratação externa). E ainda para Miguel Maya relembrar que o BCP continua a pagar pelo Novo Banco.

“Só trabalhamos três trimestres [para o banco] porque o outro é” para os trabalhadores do BCP pagarem o mecanismo de capitalização do Novo Banco, referiu Miguel Maya, na sua intervenção na audição desta quinta-feira, 29 de julho. Não contestando a decisão de criação do mecanismo, para o qual o BCP só contribui menos que a Caixa Geral de Depósitos, o líder repetiu que é “inexplicável” que continue a ser-lhe imputado esse encargo.

“Não podemos hoje ter a República Portuguesa a defender uma intervenção na União Bancária e, no momento seguinte, trabalhar o sistema financeiro como se tivesse fronteiras”, defendeu o responsável pelo banco, mas apontando para outros fatores que obrigam aos cortes de custos, como a “ameaça efetiva das bigtech”, as grandes tecnológicas que também prestam serviços financeiros.

Há “baixa rendibilidade em função das reduzidas taxas de juro”, há “custos elevadíssimos com a recuperação do crédito”, há “limitações específicas nacionais ao tema do comissionamento” e há a “impossibilidade de cobrar a grandes depositantes”, especificou.

Por isso, o BCP tem em mente dispensar pelo menos 800 trabalhadores, mas o número poderá subir aos 900, se não saírem os profissionais que a instituição pretende. “Isto tem muito pouco que ver com a pandemia em si, embora a pandemia tenha sido um acelerador fortíssimo da tendência”, começou por responder Miguel Maya.

Apesar das queixas dos sindicatos e da comissão de trabalhadores sobre insensibilidade social, Miguel Maya desmentiu: “Não passa pela cabeça do BCP qualquer violação dos direitos”. Recusou que haja assédio ou chantagem, mas diz não prescindir de dizer aos trabalhadores que efetivamente quer reduzir postos de trabalho. Aliás, o líder do banco relembra que já tinha anunciado a intenção de cortar pessoal, mas que adiou, no ano passado, por causa da pandemia. Mas agora, sublinha, é o momento.

“Não podemos ver o dia de hoje apenas. O banco só pode criar emprego se for competitivo no espaço da União Bancária”, declarou. “Acredito que o que estamos a fazer é o melhor para o banco”, continuou, dizendo que se não se tornar competitivo, praticamente deixará de haver bancos portugueses – ainda na conferência de imprensa de segunda-feira frisou que o BCP não quer entrar nessas operações mas, se entrar, não quer ser o menu, mas sim sentar-se à mesa.

Recusa de outsourcing em excesso

Nas respostas aos deputados, Maya recusou a ideia de que esteja a haver uma transferência para o outsourcing, como tinha sido acusado pelo bloquista José Soeiro (e como acusam os sindicatos). Dos 75 milhões de euros para serviços externos, quantificou que mais de metade (54%) são para empresas tecnológicas, 3% para advogados, e que os call centers consomem 4,2 milhões, havendo uma parcela para trabalho com entidades terceiras inferior a 1 milhão. “Desmistifica por completo essa fantasia de que estamos a fazer mais outsourcing”, disse – aliás, Maya foi dizendo que a audição serviria para isso mesmo.

Sobre outro tema que tem sido referido pelos sindicatos e representantes dos trabalhadores, o líder do BCP adiantou que “nem toda a reconversão é possível”. Um trabalhador do balcão de Alhos Vedros não pode ser programador informático, exemplificou. Nem pode obrigar a mudanças de agências, continuou.

Por outro lado, Miguel Maya admitiu que há um “crescimento de horas suplementares”, mas recusou que seja por isso preciso mais contratações, porque são picos sazonais, como foram os da altura da subscrição de obtenção de financiamento garantido pelo Estado devido à covid. Os sindicatos contestam a ideia, e dizem que se tornou recorrente.

Não houve qualquer comentário sobre a acusação de concertação feita pelos sindicatos na audição da manhã desta quinta-feira, por o BCP estar a seguir práticas idênticas do Santander, que também tem revogações de 685 trabalhadores em cima da mesa. Ambos estão a trabalhar com a sociedade de escritórios CMS Rui Pena & Arnaut.

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