Economia

Lucros do Santander caem para metade em Portugal

Pedro Castro e Almeida, presidente executivo do Santander em Portugal
Pedro Castro e Almeida, presidente executivo do Santander em Portugal
Nuno Fox

A provisão para reestruturar, de 164,5 milhões de euros, pesa nos resultados do banco, que também tem vindo a perder margem. Banco teve quase 400 saídas no último ano e quer ainda fechar rescisões com 685 trabalhadores

Lucros do Santander caem para metade em Portugal

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Os resultados do Santander em Portugal em 2021 continuam a comparar desfavoravelmente com as contas do ano passado. No primeiro semestre, caíram para metade. O que mais contribuiu para a descida foram os custos com a reestruturação. O presidente executivo Pedro Castro e Almeida diz em comunicado que está a levar "ao limite o compromisso" com os trabalhadores, e estará esta quinta-feira no Parlamento para falar disso.

"No primeiro semestre do ano, o resultado líquido ascendeu a 81,4 milhões de euros (-52,9%), impactado pela constituição, no primeiro trimestre, de uma provisão no valor de 164,5 milhões de euros (líquida de impostos), para fazer face ao processo de reestruturação do banco", indica o banco no comunicado de resultados.

A situação não é muito diferente do que acontece com o grupo no seu todo, onde há custos de reestruturação de 530 milhões de euros. O grupo liderado por Ana Botín - presente em geografias tão distantes como do Reino Unido ao Brasil e com sede em Espanha - teve um lucro de quase 3,7 mil milhões de euros, o que compara com o prejuízo histórico de 10,8 mil milhões que tinha alcançado no primeiro semestre do ano passado.

Regressando a Portugal, a margem financeira do banco deslizou 4%, para 385 milhões de euros (que o banco justifica com a “redução dos spreads de crédito”), mas houve evoluções positivas nas restantes rubricas que compõem o produto bancário (os proveitos de um banco).

As comissões dispararam 11%, para 203 milhões de euros, e os resultados de operações financeiras deram o grande contributo, ao somarem 61% para 147,5 milhões de euros (são, específica a entidade, “proveitos de natureza não recorrente da gestão da carteira de títulos”, graças à venda de dívida pública). É assim que o produto bancário, na soma de todas elas, sobe 8,7% para se situar nos 716,6 milhões de euros.

Já saíram quase 400 profissionais e foram fechadas 100 agências

Da mesma forma, os custos de exploração do banco cederam 1,2% para 284,2 milhões de euros, ajudados sobretudo com a quebra das despesas com pessoal. É esta rubrica que o banco presidido por Pedro Castro Almeida quer aliviar ainda mais, razão pela qual tem em curso o processo de reestruturação que pretende eliminar 685 postos de trabalho (preferencialmente por revogações por mútuo acordo e reformas antecipadas, mas, não cumprindo o objetivo, pode haver medidas unilaterais).

Ainda que tenha este processo em cima da mesa, que afetará 11% do quadro de pessoal, o Santander já verificou uma forte saída de profissionais, com uma diminuição de 398 postos de trabalho face a junho de 2020, totalizando o seu quadro 5765 trabalhadores no fim de junho deste ano. Só no primeiro semestre, deu-se a saída de 215 funcionários.

Houve um corte de 75 agências no mesmo semestre (ou 108, se a comparação for com junho de 2020), tendo agora a rede um total de 368 balcões no país. Este tema levará Castro Almeida à comissão parlamentar de Trabalho esta quinta-feira, 29 de julho, num dia em que também serão ouvidos outro banqueiro com um processo idêntico em curso (Miguel Maya, do BCP), e os sindicatos do sector.

Com produto a subir e custos a cair, a situação do banco melhoraria, não fosse depois a constituição de provisão para a referida reestruturação, em que o banco mete já de lado esse encargo para reconhecê-lo antecipadamente nos resultados.

Assim, a rubrica de provisões, que pesava 39 milhões no primeiro semestre de 2020, agora tem um contributo negativo de 259 milhões. O dinheiro será para “a otimização da rede de agências e investimentos em processos, digitalização e tecnologia, com a consequente redução do número de colaboradores”. Já as imparidades para crédito deslizaram 32% para 68,8 milhões.

“Em junho de 2021, a carteira de crédito ascendeu a 43,4 mil milhões de euros, subindo 3% face ao período homólogo”, indica o comunicado de resultados, referindo que a grande melhoria sente-se no crédito a particulares.

Do outro lado do balanço, “os recursos de clientes totalizaram 45,6 mil milhões de euros, o que representa um crescimento de 5,9% face ao valor registado no período homólogo, traduzindo o contributo positivo da evolução dos depósitos (+4%) e o aumento expressivo dos fundos de investimento (+36,6%)”.

Os indicadores mais importantes do banco apontam para um retorno sobre o capital (ROE), que mede a atratividade das instituições, de 3,5%, afundando face aos 8,2% homólogos. A nível de capital, o Santander continua a apresentar um rácio CET1 (o mais exigente na medição da solvência) de 21,8%, comparável a 19,7%. Já o rácio de exposições não produtivas recuou ligeiramente para 2,5%.

(notícia atualizada às 8h30 com mais informações; corrigida às 9h00 para retificar número de saídas do primeiro semestre)

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