Economia

Bónus de €1,9 milhões para gestores do Novo Banco tiveram em conta “componente de interesse público”

Bónus de €1,9 milhões para gestores do Novo Banco tiveram em conta “componente de interesse público”
nuno fox

Byron Haynes defendeu trabalho da administração do Novo Banco, argumentou que os salários são os mais baixos do sistema português e acrescentou que não houve objeções do Banco de Portugal e do BCE

Bónus de €1,9 milhões para gestores do Novo Banco tiveram em conta “componente de interesse público”

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Bónus de €1,9 milhões para gestores do Novo Banco tiveram em conta “componente de interesse público”

Isabel Vicente

Jornalista

Bónus de €1,9 milhões para gestores do Novo Banco tiveram em conta “componente de interesse público”

Nuno Fox

Fotojornalista

O bónus de 1,9 milhões de euros que foi atribuído no ano passado à equipa de gestão de António Ramalho, no Novo Banco, foi decidido pelo comité de remunerações de forma “prudente e vigilante”, segundo garantiu o presidente desse comité e que é também presidente do Conselho Geral e de Supervisão, que fiscaliza a atuação da administração executiva.

Na sua audição desta terça-feira, 8 de junho, na comissão de inquérito, Byron Haynes afirmou-se “muito consciente” da situação do banco – que apresentou prejuízos superiores a mil milhões de euros no ano da pandemia de covid-19. “Garanto que todos os aspetos foram tidos em consideração. Não foram tomados com ligeireza”, declarou. “O desempenho do banco, a componente de interesse público foram tidos em consideração”, continuou.

“Estou ciente do interesse público e também é do interesse público ter um Novo Banco viável que invista nos seus clientes e a reter a melhor equipa de líderes disponível que passou por estes períodos conturbados”, argumentou, quando questionado sobre o facto de os bónus atribuídos – mesmo que só pagos a partir de 2022 – penalizarem o capital de um banco que recebe capitalizações do Fundo de Resolução (com impacto orçamental nas contas do Estado).

Bónus compensam salários mais baixos

“Atribuímos bónus 7% mais baixo que em 2019, mas, ao mesmo tempo, verificámos e garantimos que os pagamentos só serão feitos posteriormente”, disse Byron Haynes, lembrando que em 2019 tinham sido atribuídos em torno de 2 milhões de euros.

O presidente do Conselho Geral e de Supervisão lembrou que o valor foi atribuído, mas só será pago a partir de 2022 (embora não tenha referido em que anos em específico), já que a Comissão Europeia proíbe a distribuição de bónus até ao fim deste ano, por conta do plano de reestruturação em curso no banco. Byron Haynes lembrou que há vários “mecanismos de ajustamentos de risco”, que podem baixar o montante a pagar.

“Podíamos ter pago bónus a partir de 2017 e decidimos não o fazer”, comentou. Só aconteceu em 2019 e 2020.

Depois, Byron Haynes comparou os salários fixos de António Ramalho (400 mil euros, mas só recebendo cerca de 375 mil euros, com uma parcela diferida para após 2022) com os restantes grandes banqueiros nacionais, dizendo que “é o valor mais baixo”. “O Novo Banco tem a média mais baixa”, continuou, sem referir, porém, que depois os bónus atribuídos são mais altos que em parte desses mesmos bancos, como noticiou o Expresso.

“Acredito que o conselho de administração executivo e os trabalhadores do banco fizeram um trabalho extraordinário, de lealdade, tenacidade e trabalho árduo, cumprindo os compromissos da Direção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia”, defendeu.

Sem objeção de supervisores

Byron Haynes defendeu que não houve objeções dos supervisores, nomeadamente Banco Central Europeu e Banco de Portugal, em relação aos bónus. “É um processo com maior rigor, estão plenamente cientes da atribuição de bónus, do não pagamento, dos mecanismos de riscos e incluídos na política de remuneração, em cumprimento de todos os requisitos”, disse, acrescentando que “não houve qualquer objeção aos bónus decididos”.

António Ramalho já tinha defendido, também, que a Comissão Europeia não levantava problemas por estar a ser atribuída esta remuneração variável ainda durante o plano de reestruturação, ainda que só pago posteriormente.

De qualquer forma, o Fundo de Resolução - que funciona junto do Banco de Portugal - rejeitou pagar por estes 4 milhões, descontando o valor às injeções pedidas pelo banco. O Ministério das Finanças também é desfavorável ao pagamento.

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