Queda do GES. Salgado acusado de 65 crimes, acusação tem 4117 páginas (mais do que a Operação Marquês)

Há 18 pessoas arguidas no processo e 7 empresas. Defesa do banqueiro diz que esta “acusação ‘falsifica’ a história do Banco Espírito Santo”
Há 18 pessoas arguidas no processo e 7 empresas. Defesa do banqueiro diz que esta “acusação ‘falsifica’ a história do Banco Espírito Santo”
Jornalista
Jornalista
O Expresso apurou que Ricardo Salgado está acusado de 65 crimes no âmbito da queda do universo Espírito Santo: 29 de burla qualificada, 12 de corrupção, nove de falsificação, sete de branqueamento, cinco de infidelidade, dois de manipulação de mercado e um de associação criminosa. A Procuradoria-Geral da República, que emitiu esta terça-feira um comunicado sobre a acusação, não revelou nessa nota os nomes dos 25 arguidos nem de quantos crimes estão acusados - mas refere que causaram um prejuízo total de 11,8 mil milhões de euros.
O Expresso apurou também que há mais dois membros da família Espírito Santo - José Manuel Espírito Santo e Manuel Fernando Espírito Santo - acusados, além do próprio Ricardo Salgado. O processo de acusação tem um total de 4117 páginas, número que supera as 4083 da Operação Marquês, que envolve José Sócrates.
A defesa de Ricardo Salgado já emitiu esta terça-feira à noite um comunicado em que diz que o ex-líder do BES “não praticou qualquer crime” e que “esta acusação ‘falsifica’ a história do Banco Espírito Santo”. A defesa de Salgado acrescenta que enquanto o antigo banqueiro “esteve no BES não houve lesados”.
Os advogados enfatizam que, “durante todo o inquérito, as provas foram escondidas” de Salgado, “apesar dos insistentes e reiterados pedidos” da defesa “contra essa obstrução, mesmo depois de ultrapassados todos os prazos de um putativo segredo de justiça 'interno', que funcionou para a defesa mas não existiu para, ao longo do tempo, distorcer a verdade na praça pública”.
José Maria Ricciardi, primo de Ricardo Salgado e antigo presidente do Banco Espírito Santo de Investimento (BESI), também já reagiu à divulgação da acusação do Ministério Público no processo que vai julgar responsabilidades sobre a derrocada do BES e do grupo familiar com palavras duras: "Não podia na altura sequer imaginar a extensão e gravidade das fraudes e crimes praticados e dos prejuízos causados a terceiros". Ricciardi, que está arrolado como testemunha no processo, diz que "tinham razão de ser" as iniciativas que empreendeu "nos anos de 2013 e 2014 para tentar alterar a Governance” do GES e do BES, "afastando o Dr. Ricardo Salgado", o que, do seu ponto de vista, teria evitado "o colapso do grupo e do banco".
A investigação à queda do Grupo Espírito Santo, a cargo do DCIAP, concluiu que 25 arguidos (18 deles pessoas) cometeram crimes económicos e financeiros que causaram prejuízos de 11,8 mil milhões de euros. É esta a acusação do Ministério Público, que poderá agora ser desafiada na justiça pelos visados. Ricardo Salgado é a principal face deste processo, mas a acusação não refere os nomes.
O Ministério Público tem pelo menos mais três processos relacionados com a derrocada do Grupo Espírito Santo, um deles ligando-o a políticos estrangeiros. Por isso, os factos desses processos não constam da acusação do processo principal, anunciada pela Procuradoria-Geral da República esta terça-feira.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: RGustavo@expresso.impresa.pt