Economia

Prejuízos da Farfetch disparam 140% em 2019

José Neves criou a Farfetch em 2007
José Neves criou a Farfetch em 2007
Lucília Monteiro

Perdas do unicórnio totalizam 373 milhões de dólares, embora receitas tenham subido 69% para mais de mil milhões. Empresa luso-britânica não tem medo do coronavírus

A tecnológica fundada por José Neves agravou os prejuízos em 140% - ou 218 milhões de dólares - para 373,7 milhões de dólares (343,5 milhões de euros) em 2019, mostram os resultados apresentados esta quinta-feira em Wall Street. O EBITDA ajustado (resultado antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) foi negativo em 121,4 milhões de dólares (111,6 milhões de euros).

Só nos últimos três meses do ano, os prejuízos da Farfetch totalizaram 110,1 milhões de dólares (101,2 milhões de euros), mais 30% do que os registados no trimestre anterior e mais 1000% do que no mesmo período de 2018.

De acordo com o unicórnio (empresa avaliada em mais de mil milhões de dólares), o agravamento das perdas está relacionado com despesas de depreciação e amortização e com o aumento de perdas operacionais de 24,6 milhões de dólares para 126,4 milhões de dólares. E nem o aumento das receitas ou do valor transacionado foram suficientes para gerar resultados positivos.

As receitas da empresa luso-britânica aumentaram 69% para mais de mil milhões de dólares em 2019 e o valor bruto da mercadoria (isto é, o valor das transações realizadas) aumentou 52% para 2,1 mil milhões de dólares (1,9 milhões de euros). Concretamente, o valor total processado pela plataforma digital aumentou 39,9% para 1,9 mil milhões de dólares no ano passado, acima das previsões da empresa.

É isto que leva José Neves a mostrar-se satisfeito, apesar dos resultados líquidos negativos. “2019 foi um ano marcante para a Farfetch, uma vez que crescemos a nossa plataforma digital quase duas vezes mais rápido do que o sector da moda de luxo e melhorámos significativamente as margens do EBITDA ajustado [de -19% para -13,6%], à medida que caminhamos no sentido da rentabilidade.”

Mas os custos da empresa também dispararam. As despesas gerais e administrativas aumentaram 63,6 milhões de dólares (ou 112%) no quarto trimestre face ao período homólogo do ano anterior, refletindo a aquisição da empresa de calçado Stadium Goods (por 250 milhões de dólares) e da plataforma italiana New Guards (por 675 milhões de dólares). Em 2019, esta tipologia de despesa totalizou 345,7 milhões de dólares (317,8 milhões de euros).

As despesas com tecnologia também aumentaram 24,7% no quarto trimestre de 2019, especialmente a reboque do desenvolvimento de serviços na plataforma e da contratação de engenheiros informáticos, adianta a empresa. Além da plataforma de comércio online que agrega marcas de roupa e acessórios de luxo, retalhistas e consumidores, a Farfetch conta com negócios que passam pela venda de soluções tecnológicas a outras empresas, realidade aumentada para o sector do retalho, entre outros.

A Farfetch gastou ainda 5,6 milhões de dólares (5,1 milhões de euros) no trimestre em despesas legais e de consultoria, uma rubrica que não existia em 2018. Segundo explicou ao Expresso o diretor geral da empresa em Portugal, Luís Teixeira, estas despesas nada têm que ver com a ação coletiva que a empresa enfrenta nos Estados Unidos por alegadas “declarações falsas e enganadoras” aos investidores (relativas à sua entrada em bolsa), mas antes com as duas aquisições realizadas no ano passado, com as obrigações de compliance da empresa e com o financiamento obtido junto da tecnológica chinesa Tencent e da empresa de investimento com sede em São Francisco Dragoneer.

A empresa liderada por José Neves acredita que os resultados líquidos negativos - que se agravaram menos do que em 2018, altura em que multiplicaram por cinco - não a vão impedir de alcançar a rentabilidade em 2021.

“Olhando para 2020, estamos bem posicionados para continuar a ganhar quota de mercado e estamos a prever um forte aumento do valor bruto da mercadoria, com melhorias significativas no EBITDA ajustado, uma vez que pretendemos equilibrar as nossas iniciativas de crescimento com investimentos continuados no negócio no sentido de alcançar a rentabilidade em 2021”, declara o diretor financeiro, Elliot Jordan, em comunicado.

E nem o coronavírus mete medo à Farfetch - pelo menos para já. Até à data, o surto mundial com origem na China ainda não provocou um impacto nas ações da empresa, revela José Neves.

Apesar do peso do mercado chinês no negócio, o fundador da tecnológica está otimista. “Acredito que o nosso modelo de plataforma distribuída (...) torna o modelo da Farfetch particularmente resiliente à situação como se apresenta atualmente”, sublinha. “No entanto, as circunstâncias relativas ao coronavírus mantêm-se incertas e, portanto, estamos a monitorizar a sua evolução.”

Artigo atualizado às 12h35, com correção relativa às despesas legais e de consultoria

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