Economia

Farfetch acusada de informação enganosa nos EUA. Queixosos avançam para tribunal

José Neves é o fundador e presidente da Farfetch
José Neves é o fundador e presidente da Farfetch
D.R.

Várias sociedades de advogados anunciaram ações legais coletivas contra a tecnológica luso-britânica. Motivo: não deu alegadamente toda a informação ao mercado e enganou os investidores. Este tipo de ações é comum nos EUA

Várias sociedades de advogados nos Estados Unidos moveram ações legais coletivas contra a Farfetch, em nome dos investidores que adquiriram títulos da empresa fundada por José Neves desde que esta entrou na bolsa de Nova Iorque a 24 de setembro de 2018. Glancy Prongay & Murray, Rosen Law Firm, Bragar Eagel & Squire e Schall Law Firm são algumas das empresas que estão a liderar as ações.

As investidas, que têm vindo a ser divulgadas na imprensa norte-americana, acusam a empresa luso-britânica de lesar os investidores, alegando que o prospeto submetido ao regulador do mercado norte-americano (SEC, na sigla inglesa) no âmbito da Oferta Pública Inicial (IPO) tinha “declarações falsas e enganadoras”. De acordo com os queixosos, a tecnológica fundada por José Neves não revelou que poderia estar sujeita a uma grande volatilidade de preços. Estes criticam ainda o que consideram ser “uma estratégia ineficiente” que conduz a perspetivas de crescimento abaixo do esperado.

No Financial Times, a Bragar Eagel & Squire anunciou que “uma segunda ação coletiva foi submetida no Tribunal Federal dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova Iorque em nome de todos os investidores que adquiriram títulos da Farfetch Limited entre 21 de setembro de 2018 e 8 de agosto de 2019 ou de acordo com a Oferta Pública Inicial (IPO) em setembro de 2018”. E acrescenta que “os investidores têm até 18 de novembro de 2019 para se apresentarem no tribunal como requerentes principais na ação”.

Contactada pelo Expresso, a Farfetch diz apenas que “não comenta processos que estão a decorrer”.

As ações coletivas começaram a surgir logo após a apresentação de resultados da Farfetch, a 8 de agosto, que registou prejuízos de 89,6 milhões de dólares no segundo trimestre deste ano. Isto numa altura em que a empresa anunciou também a aquisição, por 675 milhões de dólares, do New Guards Group e a demissão do seu COO (diretor de operações), nota a Bragar Eagel & Squire, uma das empresas que representa os queixosos.

Também em julho a Condé Nast, um dos investidores iniciais da Farfetch, acabaria por vender a sua participação na empresa, alegando preocupações com a gestão, nomeadamente relacionadas com os custos de marketing.

Logo depois da apresentação de resultados, o preço por ação da empresa caiu 8,12 dólares (ou mais de 44%) para perto de 10,13 dólares por ação a 9 de agosto deste ano, o que motivou as queixas. A Farfetch está neste momento a valer 8,59 dólares por ação, um valor que contrasta com os 20 dólares que chegou a cotar em setembro de 2018 aquando da entrada em bolsa.

Em concreto, as sociedades de advogados dizem que os investidores não foram informados sobre a possibilidade da “venda por retalho em larga escala estar sujeita a grande volatilidade de preços dos bens de luxo”, nem que o negócio central da empresa “estava vulnerável a esta pressão de preços” ou que poderia levar a empresa a seguir uma política de “aquisições agressivas”.

No documento submetido pela Farfetch ao regulador de mercado norte-americano, no âmbito do IPO, a empresa reconhece que um investimento nas suas ações ordinárias Classe A “envolve um elevado grau de risco”, que deve ser considerado.

Entre os diversos riscos elencados, refere que o seu sucesso está dependente da capacidade de atrair clientes, apontando o perigo do “preço [de venda] não corresponder às expetativas dos consumidores” e do mercado dos produtos de luxo parar de crescer - o que poderá fazer com que “resultados, condições financeiras e perspetivas sejam negativamente afetados”. Refere ainda que a Farfetch já teve “prejuízos no passado e pode continuar a registá-los no futuro”, sem dar garantias de que vai conseguir alcançar a rentabilidade.

“O nosso negócio, condição financeira ou resultados podem ser afetados de forma adversa por qualquer um destes riscos”, lê-se no prospeto enviado à SEC. “O preço de negociação e valor das nossas ações classe A pode cair na sequência destes riscos” e o investidor “perder todo ou parte deste investimento”.

Este tipo de ações legais conjuntas é relativamente frequente nos Estados Unidos, através de sociedades de advogados que procuram queixosos para serem ressarcidos por eventuais perdas que tenham tido junto de determinadas empresas. Foi o que aconteceu recentemente à tecnológica Slack, contra a qual foi movida uma ação coletiva em nome de investidores que adquiriram ações da empresa - alegando, tal como no caso da Farfetch, que o prospeto enviado ao regulador do mercado norte-americano é falso ou enganador.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mjbourbon@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate