Cultura

Boas notícias de Locarno para o cinema português: “Fogo do Vento”, de Marta Mateus, compete pelo Leopardo de Ouro

Marta Mateus, realizadora de “Fogo do Vento”
Marta Mateus, realizadora de “Fogo do Vento”

O festival de Locarno bate uma vez mais à porta do cinema português e volta a ter um representante nacional no concurso pelo Leopardo de Ouro: a longa-metragem de estreia de Marta Mateus, “Fogo do Vento”. Na secção Cineastas do Presente concorre “Hanami”, realizado na Ilha do Fogo pela luso-cabo-verdiana Denise Fernandes. Fora de concurso, Edgar Pêra apresentará o filme que realizou com Inteligência Artificial a partir de um cruzamento de textos de Fernando Pessoa e Howard Philips Lovecraft: “Cartas Telepáticas”. A 77ª edição do festival de Locarno decorre de 7 a 17 de agosto

“Fogo do Vento”, primeira longa-metragem de Marta Mateus, vai concorrer pelo Leopardo de Ouro de Locarno no próximo mês de agosto, anunciou esta manhã o diretor artístico do festival suíço, Giona A. Nazzaro. O novo filme da realizadora sucede à multipremiada curta “Farpões Baldios”, de 2017, e tal como esta foi rodado na região alentejana de Estremoz, acompanhando alguns dos protagonistas da obra anterior. “Um filme político que convoca a memória das gerações anteriores e nos transporta da resistência à ditadura salazarista ao tempo presente, numa reflexão sobre a guerra e a paz, marcando a importância do seu discurso no actual contexto mundial”, reza a nota de intenções da Portugal Film.

"Fogo do Vento", de Marta Mateus

“Farpões Baldios” (título grafado sem vírgula, objetivo e misterioso em simultâneo) foi uma viagem a um passado imemorial da vida dos camponeses e uma abordagem às convulsões políticas do pós-25 de Abril no Alentejo. “Como se o ontem tivesse amaldiçoado o hoje, sem que nos seja possível distingui-los”, escreveu-se então nestas páginas. No comunicado do filme agora enviado à imprensa, Marta Mateus propôs uma breve frase que talvez siga a mesma linha: “Às vezes gostamos de imaginar que o cinema tem força de feitiçaria.”

“Fogo do Vento” foi produzido pela Clarão Companhia, que a realizadora fundou com Pedro Costa, em colaboração com os coprodutores Fabrice Aragno, da Casa Azul Films (Suiça) e Richard Copans, da Les Films d'Ici (França).

Marta Mateus terá por companheiros de concurso alguns notáveis do cinema contemporâneo: o sul-coreano Hong Sangsoo (“By The Stream”), o chinês Wang Bing (“Youth (Hard Times)”, que dá seguimento à obra anterior de Bing estreada no concurso de Cannes 2023), o britânico Ben Rivers (“Bogancloch”), o alemão Christoph Hochhäusler (que rodou um policial em francês chamado “La mort viendra”) ou o francês Virgil Vernier (“Cent mille milliards”).

"Hanami", de Denise Fernandes, concorre na Cineastas do Presente

No concurso paralelo de Locarno, Cineastas do Presente, surge outra estreia portuguesa na longa-metragem: “Hanami”, da luso-cabo-verdiana Denise Fernandes. O filme foi escrito pela cineasta e por Telmo Churro e rodado na Ilha do Fogo. Denise Fernandes nasceu em Lisboa em 1990, filha de pais cabo-verdianos, e foi criada no Ticino. As suas curtas-metragens “Una notte” (2011) e “Nha Mila” (2020) tiveram estreia em Locarno. A parte portuguesa da coprodução de “Hanami” (Suíça/Portugal/Cabo Verde) envolve a O Som e a Fúria.



“The Lady with the Torch”, numa alusão ao inesquecível logo da Columbia Pictures, é a retrospetiva que Locarno dedica esta ano ao histórico estúdio da idade de ouro de Hollywood. Com curadoria do programador e cineasta iraniano Ehsan Khoshbakht, codiretor do festival Il Cinema Ritrovato de Bolonha, este ciclo de Locarno selecionou 43 títulos (alguns recém-restaurados) do final dos anos 20 ao final dos anos 50, obras de John Ford, Fritz Lang, Anthony Mann, Robert Rossen, Nicholas Ray, Frank Borzage, Frank Capra, George Cukor, Raoul Walsh, Phil Karlson, Budd Boetticher, entre outros.

O Leopardo de Honra deste ano será entregue à neozelandesa Jane Campion, já o ator e produtor indiano Shah Rukh Khan, uma das maiores estrelas do cinema do seu país, será homenageado com um Leopardo à carreira. Os franceses Mélanie Laurent e Guillaume Canet, a produtora Stacey Sher, a atriz francesa Irène Jacob, o sonoplasta americano Ben Burtt e o animador suíço Claude Barras serão igualmente homenageados.

A Piazza Grande durante o Festival de Locarno
Massimo Piccoli

Fora de concurso há outra estreia mundial portuguesa, “Cartas Telepáticas”, o filme que Edgar Pêra rodou com recurso à inteligência artificial a partir de uma correspondência imaginária que cruza textos de Fernando Pessoa e Howard Philips Lovecraft - duas influências maiores para o cineasta. Há dois anos que Pêra está a trabalhar no projeto (produção da Bando à Parte de Rodrigo Areias) e a testar as ferramentas da AI com propósitos artísticos, em “dança com o algoritmo” (a expressão é de Edgar Pêra).

Na secção Curtas de Autor há novas obras de Denis Côté e da dupla francesa Caroline Poggi e Jonathan Vignel, sem registo de filmes portugueses na competição Leopardos de Amanhã. Contudo, o português Carlos Pereira integra este concurso com uma nova obra de produção alemã intitulada “Icebergs” (nas mesmas circunstâncias de “Slimane”, que também se estreou em Locarno em 2023).

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