Um casal está de férias à beira-mar numa solarenga praia portuguesa, ela tem uma criança no ventre a meio da gestação, aguardam a chegada de quem está para nascer com natural expectativa. Cá fora, um vírus decretou outro regime de tempo que condicionou tudo à nossa volta e pôs as nossas vidas do avesso. O casal é formado por dois cineastas. Apesar da situação delicada em que se encontram a nível privado, eles perguntam-se, contudo, que filme se poderia fazer nessa situação. O mundo do cinema está paralisado pela pandemia, à semelhança de tantas outras atividades, as produções não podem arrancar, cenas de intimidade, um simples beijo são extravagâncias estritamente interditas. Pior do que isso: as medidas de apoio devido à covid-19 tardam a chegar à cultura e não encontram, sequer, uma situação definida, com atores, técnicos, todo um ramo profissional parado à espera de melhores dias. Ainda assim, a ideia não lhes sai da cabeça: que filme se poderia fazer?
Os cineastas em questão chamam-se Maureen Fazendeiro e Miguel Gomes. Aconteceu assim, tal e qual, estávamos em julho de 2020. Um mês depois, mesmo sem um método de trabalho planificado e encorajados por uma coprodução improvisada (O Som e a Fúria/Uma Pedra no Sapato) que avança pela carolice com audácia, sem rede e sem subsídios (apenas um apoio minoritário da RTP), Maureen e Miguel isolam-se numa casa com um amplo jardim que está livre naquele período estival, cedida pela família de um dos produtores, ali para os lados do Magoito, Sintra.
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