Entre 2007 e 2011, Susana Nobre trabalhou no Centro de Novas Oportunidades, nas zonas de Alverca e de Vila Franca de Xira, filmando entrevistas de inscrição de muitas pessoas desempregadas que acorreram ao programa. Esta experiência tornou-se depois fonte de inspiração importante, materializada nos filmes “Vida Activa” (Doclisboa, 2013) e na curta “Provas, Exorcismos” (Quinzena dos Realizadores de Cannes, 2015). Esta última, já com uma moldura de ficção inspirada por uma experiência de documentário, era um olhar sobre o desemprego em Portugal. Joaquim Veríssimo Calçada, de 63 anos, emigrante português nos Estados Unidos que trabalhou como taxista em Nova Iorque entre as décadas de 1970 e 1990, foi uma das personagens de “Provas, Exorcismos” (mais tarde, a cineasta voltou a filmá-lo em “Tempo Comum”) e é “deste embalo”, como Susana Nobre nos disse ontem ao telefone, que surge “No Táxi do Jack”, ótimo e arriscado filme, a única longa-metragem portuguesa da presente edição de Berlim (escolha da secção Forum).
Joaquim Calçada é transmontano de nascimento, voltou à casa de família em Alhandra quando regressou a Portugal nos anos 90, encontrando um país muito diferente da ditadura que ele deixara quando zarpou para a América, onde viveu mil histórias. Por cá, encontrou trabalho na OGMA - Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, de Alverca, mais tarde foi dispensado, algo que o obrigou a 'recolher carimbos' de presença em empresas indicadas pelo Centro de Emprego para justificar um subsídio. Estava a escassos meses da reforma.
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