Cultura

Pessoa, a identidade portuguesa, as questões da modernidade: temas do pensamento de Eduardo Lourenço

Pessoa, a identidade portuguesa, as questões da modernidade: temas do pensamento de Eduardo Lourenço
José Caria

Era o nosso maior ensaísta, e encarnava uma figura de intelectual como já quase não existe

Luís M. Faria

Jornalista

O desaparecimento de Eduardo Lourenço leva para a História e para a memória o homem que em Portugal, mais do que qualquer outro, encarnava entre nós a figura do intelectual no sentido mais nobre. Falecido esta terça-feira aos 97 anos, Lourenço viveu muitos anos fora de Portugal, mas uma das suas interrogações principais, talvez a principal, foi a identidade portuguesa, explorada em livros como "Heterodoxia" e "O Labirinto da Saudade".

Consciente de que Portugal tinha falhado passos essenciais na instauração da modernidade, o seu cosmopolitanismo era daqueles que recusam soluções e ortodoxias fáceis de vários tipos. A reflexão sobre Fernando Pessoa também ocupa um lugar chave no seu pensamento, em obras como "Fernando Rei da Nossa Baviera". Ensaísta maior do nosso tempo em Portugal, a sua obra foi distinguida com prémios importantes, entre eles o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon.

Eduardo Lourenço de Faria, para lhe dar o seu nome completo, nasceu a 23 de maio de 1923 em São Pedro do Rio Seco (Almeida), uma aldeia da Beira. Fez a escola primaria na terra natal e o liceu na Guarda antes de se transferir para o Colégio Militar quando o pai, militar de profissão, foi destacado para Nampula. Momento importante foi a ida para Coimbra, onde cursou Histórico-Filosóficas.

A partir dos anos 50, foi leitor de português em universidades alemãs e francesas, acabando por se fixar em França como professor de filosofia. Viveria décadas em Vence (sul de França), com a sua mulher, a hispanista Annie Salamon, falecida em 2013. Uma vez jubilado, ainda foi conselheiro cultural português em Roma, antes de se tornar administrador não-executivo da Fundação Gulbenkian.

As honras formais não chegaram cedo, mas quando vieram foi em catadupa. Condecorações oficiais portuguesas e francesas, Premio Camões em 1996 e Premio Pessoa em 2011, entre muitas outras. Em 2016, Marcelo Rebelo de Sousa nomeou-o conselheiro de estado.

Ainda em anos recentes, não era raro vê-lo a caminhar por Lisboa. A sua disponibilidade generosa mantinha-se, fosse participando em eventos culturais fosse através de entrevistas, prefácios ou outras formas de intervenção.

Numa entrevista dada a José Carlos de Vasconcelos em 2018, quando estava prestes a fazer 95 anos, explicou que "um dos meus defeitos, talvez o maior, é não saber dizer que não".

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