
Há néones, reclames, tabuletas e outras sinaléticas que contam a história gráfica de uma Lisboa desaparecida. Podemos vê-los na exposição “Luzes da Cidade”
Há néones, reclames, tabuletas e outras sinaléticas que contam a história gráfica de uma Lisboa desaparecida. Podemos vê-los na exposição “Luzes da Cidade”
Jornalista
Fotojornalista
Uma cidade sem recordações é uma cidade pobre. A afirmação não é sua mas podia muito bem ser. Fascinada, desde criança, pelas luzes de Lisboa, a designer Rita Múrias apercebeu-se, em 2014, que a capital portuguesa vinha a despir-se, aos poucos, dos antigos letreiros de néon e resolveu criar, com o marido, Paulo Barata Corrêa, também ele designer, um projeto que tem como objetivo ajudar a preservar a parte mais brilhante da memória coletiva dos lisboetas. Através de processos de conservação, catalogação e pesquisa — que contribuem, igualmente, para o doutoramento que Múrias está a desenvolver —, os luzidios e coloridos letreiros de uma cidade em constante mutação, cada vez menos disposta a enaltecer o seu passado, ganharam uma nova vida.
A Letreiro Galeria, uma associação cultural sem fins lucrativos, nasceu, portanto, há seis anos e já resgatou cerca de 250 peças: dos antigos néones do Hotel Ritz e da livraria do “Diário de Notícias” no Rossio, passando por reclames de marcas de roupa interior, pastelarias ou cabeleireiros, tudo cabe no armazém do casal. Parte desse acervo pode agora ser visitado na exposição “Luzes da Cidade”, patente no espaço Stolen Books, no bairro de Alvalade. Entre outros, estão expostos letreiros da pastelaria Sul América, da sapataria Helio, da Óptica Roma, do cabeleireiro Eleonora, da loja de malas Durbel e da churrasqueira Hó Galego. “O letreiro da Sul América é o que mais tem causado emoções nesta exposição”, revela o designer, depois de explicar que a seleção dá especial enfoque às memórias do bairro. “Uma senhora que ia lá lanchar desde pequenina com a avó, que faleceu há pouco tempo, saiu daqui visivelmente emocionada. Um casal da nossa idade, que sempre morou em Alvalade e se encontrava lá desde criança, veio cá com os filhos. Saíram embevecidos e contentes”, revela. O projeto arrancou com o objetivo principal de preservação de património, mas rapidamente os dois designers perceberam que as histórias de quem se vê obrigado a desfazer-se dos letreiros que iluminam os seus estabelecimentos (e de quem passou décadas a viver sob os seus reflexos) só validam e engrandecem o seu entusiasmo.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: MRVieira@blitz.impresa.pt