
Tragédia orgástica ou drama geracional? A indefinição reina na série onde o português Nuno Lopes é o melhor ator em cena... mas não chega
Tragédia orgástica ou drama geracional? A indefinição reina na série onde o português Nuno Lopes é o melhor ator em cena... mas não chega
Crítico de Cinema
O centro da ação está em Ibiza. Na retaguarda do tempo está Manchester, 20 anos atrás. No centro da ação o ambiente é de fausto e desperdício, embora haja quem esteja acossado por dívidas ou más decisões.
No passado há cinco jovens que viviam naquelas casas de tijolos a indiciar proletariado — e com sonhos de rebentar com a origem de classe por via da música. Quatro desses cinco partiram para Ibiza e um deles, Alex, tornou-se um DJ lendário antes de desaparecer sem rasto.
Agora, uma intempestiva chuvada no deserto de Almería deixou a descoberto um cadáver mumificado. Alex fora assassinado e a irmã, Zoe, que ele deixara em Manchester e agora é mãe de família, resolve ir a Ibiza para tentar perceber o que acontecera e, em última instância, desvendar o matador.
Na mediterrânica ilha espanhola ela descobre um Alex que desconhecia e descobre-se num mar hedonista onde tudo parece possível, inclusive começar de novo. Este é o traço geral de “White Lines”, a nova série da Netflix com elenco multinacional onde se incluem os portugueses Nuno Lopes (num dos protagonistas, o melhor ator em cena, todas as nacionalidades incluídas), Paulo Pires (num papel secundário) e Rafael Morais (apenas episódico).
Mas há vários núcleos ficcionais, nenhum deles escavado com a profundidade que se vai indiciando possível, estratégia, quiçá, de argumentista a trabalhar o terreno onde tanto podem ser semeados dez episódios como 50, o que se traduz em alguma inconsistência nos personagens, mais delineados por intenção que em ato.
Do mesmo modo se indefine o tom, oscilando entre a tragédia orgástica onde até perfumes de incesto se inalam, a comezinha e pequeno-burguesa crise conjugal e o drama geracional. A série segue-se com interesse desigual, até se perceber, lá para o episódio sexto, que há guinadas de argumentista que não dá para acreditar.
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