Cultura

“Boom” de livros de autores portugueses contemporâneos na América Latina

A segunda maior feira do livro do mundo abre portas este sábado em Guadalajara, no México, mas já provocou um "boom" na literatura. Quase meia centena de obras de autores de língua portuguesa nunca antes traduzidas para castelhano estão agora disponíveis por causa da participação de Portugal como convidado de honra na Feira de Guadalajara. Romances de José Luís Peixoto, Lídia Jorge, Gonçalo M. Tavares e José Eduardo Agualusa são os mais traduzidos para castelhano, mas há também antologias de poesia de Ruy Belo, Adília Lopes, Manuel Alegre, Nuno Júdice, Gastão Cruz e Sophia de Mello Breyner Andresen e ainda livros de contos, ensaio e banda desenhada

Cada vez que Portugal é país tema de uma feira internacional do livro, o Estado português lança um programa especial de apoio à tradução de obras através da Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas (DGLAB) em parceria com o Instituto Camões. Foi o que aconteceu a propósito da Feira do Livro de Guadalajara, a maior do mundo em língua castelhana, que este ano acolhe Portugal como convidado de honra. No pavilhão da feira, que abre portas a milhares de editores, autores, tradutores e leitores este sábado, estarão à venda mais de 6 mil exemplares de 500 títulos de autores nacionais e africanos de expressão portuguesa, muitos deles traduzidos agora pela primeira vez para castelhano por causa deste fundo especial de apoio à tradução.

“A Feira do livro de Guadalajara tem um grande peso na edição de literatura na América Latina e, efetivamente, existia um défice de pedidos de apoio à tradução de editores naquele país. O que esperamos agora é que este “boom de traduções” permita que no futuro suba o número de pedidos de tradução”, esclarece José Manuel Cortês, subdiretor da DGLAB, responsável na área do livro e do apoio à internacionalização da literatura portuguesa.

Dados da DGLAB

Além do programa de apoio à tradução que é lançado todos os anos desde 1993, para este evento em concreto foi aberto “um programa específico de apoio a editores da América Latina que estivessem presentes na FIL de Guadalajara”. Daí resultou a tradução de 49 obras para 28 editoras diferentes, num investimento total do Estado português de quase 116 mil euros. Do ponto de vista do livro, “este é o objetivo fundamental da participação numa feira internacional – que haja maior representatividade de autores de expressão portuguesa”.

Segundo José Manuel Cortês, “Fernando Pessoa já era muito pedido, assim como António Lobo Antunes, e até José Luís Peixoto, já para não falar na obra de José Saramago, que já está quase toda traduzida nos países da América latina”, mas com este novo apoio apareceram muitos pedidos para autores mais jovens, como Afonso Cruz, João Tordo, José Eduardo Agualusa e Gonçalo M. Tavares. Há também estreias de autores como Ana Teresa Pereira e Manuel Rui, que chegam assim pela primeira vez ao mercado latino-americano. O romance é claramente o género mais pretendido pelas editoras, mas há também muito interesse pelas antologias de poesia, contos, ensaios e até guias sobre Lisboa, um piscar de olhos a futuros turistas latino-americanos.

D.R.

Este fundo especial para a FIL de Guadalajara apoiou a tradução de 25 obras, que vão ser agora publicadas por editoras mexicanas. Só a editora Trilce vai disponibilizar dois livros de banda desenhada, quatro livros de poesia contemporânea (Manuel Júdice, Gastão Cruz, Manuel Alegre e Ruy Belo) e os dois guias sobre Lisboa. Ainda no âmbito de editoras mexicanas será publicada uma antologia de quatro escritoras portuguesas contemporâneas (Ana Teresa Pereira, Rita Pea, Luísa Monteiro e Luísa Demétrio Raposo) e uma série de obras de autores como Pepetela, Manuel Rui, Lídia Jorge, Gonçalo M. Tavares, Tiago Rebelo e José Luís Peixoto - o escritor português mais pedido através deste fundo de apoio da DGLAB.

Curiosamente o país que mais obras portuguesas quis traduzir depois do México é a Colômbia, com 15 obras, de autores como Ricardo Araújo Pereira, Afonso Cruz, Eduardo Lourenço, Adília Lopes, Paulina Chziane, Sophia de Mello Breyner Andresen, Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro. Na Argentina três editoras publicam quatro obras de jovens autores: José Eduardo Agualusa, João Tordo e o ilustrador André Letria.

A 32ª Feira do Livro (FIL) de Guadalajara começa este sábado e dura até 2 de dezembro. Durante nove dias estarão no México cerca de 40 escritores portugueses, assim como vários artistas e criadores, para apresentar um vasto programa de concertos, exposições e espetáculos sob o mote “O futuro é a aurora do passado” (citação do escritor Teixeira de Pascoaes). Além de debates e entrevistas a escritores, a FIL terá também eventos sobre Ciência e atividades para profissionais do sector do livro, empresas e gastronomia.

O prémio Nobel da Literatura Orhan Pamuk estará presente na abertura da Feira, para receber a Medalha Carlos Fuentes, e a poetisa Ida Vitale, recentemente galardoada com o mais importante prémio em língua castelhana, Cervantes, receberá o prémio FIL de Literatura. António Lobo Antunes, Charles Simic, Leila Guerriero e Leonardo Padura são outros dos autores mais célebres que vão estar entre os cerca de 800 escritores que passarão pela feira. Números das últimas edições dão para ter uma ideia do que é esperado: mais de 800 mil visitantes, mais de 20 mil profissionais do sector do livro, quase 50 países representados por editoras e mais de três mil jornalistas na cobertura do evento.

Para satisfazer a curiosidade dos leitores latino-americanos, no pavilhão de Portugal haverá uma livraria com mais de 3 mil exemplares em língua portuguesa e mais de 6 mil exemplares em castelhano de 500 obras nacionais e africanas de expressão portuguesa.

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