Já foi escrito que Dylan foi crescendo para além da pureza folk, para ir ter ao mundo mais selvagem e ameaçador do rock'n'roll, e o que se ouve então de especial é ele a tornar-se Bob Dylan. Subscrevo. E 'Like a Rolling Stone' é a prova superior disso.
Mas voltemos atrás, e só por poucos anos: ele sempre foi ele mesmo. Começa por despejar um saco de referências, blues, folk, espirituais e de quem fez o trabalho antes dele, Guthrie.
Como se o filho mais novo invocasse o direito à sua maquia da herança, antes de outros deixarem a marca menos fértil no terreno. Quando ouvi o 'Blowing in the Wind' corri (mesmo) a comprar o LP, bendita a hora.
The freewheeling Bob Dylan. Em roda livre. Sim, mostrei a canção aos meus pais. Porque sabiam de música e partilhávamos os diferentes universos.
Riram-se embaraçadamente da voz dele. Riram-se e para mim foi, lembro-me, humilhante. Mas aprendi uma coisa que persigo e acarinho desde então - nem sempre o meu gosto vai ter de coincidir com o dos outros. Era o que o Dylan sentia quando chegou ao 'Like a Rolling Stone'.
Tinha já cumprido o seu papel de ícone de uma geração e seu representante e dado sinais de alerta em relação a uma mudança estilística de rumo. Um texto torrencial de 20 páginas, desancando uma jovem mulher que já teve tudo e agora está sem nada. Uma arrogância trabalhada até lhe dar a forma de canção. Usa um refrão sintético de três acordes clássicos - "How does it feel (...) with no direction home (...) like a rolling stone" - para expor alguém à sua agora verdade. E, no fim, a libertação: "When you got nothing/ you got nothing to lose.
Já não tens nada a provar. Ganhaste a prova. Passou-se com Dylan, a partir dessa canção.
Proclamou-a em várias ocasiões a sua melhor. Claro que sim.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt