Escolher, harmonizar, servir e guardar: tudo o que precisa de saber antes de comprar vinhos brancos
Adega Mãe
Existem várias regiões em Portugal onde a consistência e qualidade médias dos vinhos brancos é superior à dos tintos garantem os especialistas. A regra é, portanto, beber o que mais se gosta, ainda que, para as diversas situações, o mais difícil é mesmo escolher. Para ajudar o leitor nesta difícil tarefa siga as recomendações do crítico de vinhos Nuno Oliveira Garcia
“Existem várias regiões em Portugal onde a consistência e qualidade médias dos vinhos brancos é superior à dos tintos, sendo disso bons exemplos a dos Vinhos Verdes (em particular os Alvarinhos de Monção e Melgaço), os Açores (de qualquer das magníficas ilhas produtoras), bem como Bucelas e Óbidos (ambos da extensa região de Lisboa), e até - sendo mais discutível, mas estando 95% certo do que escrevo - a região da Bairrada”, começa por explicar Nuno Oliveira Garcia. Para este crítico de vinhos e advogado de profissão, “até o Douro e o Alentejo, de climas quentes e com solos por vezes favoráveis a tintos, e o granítico Dão produzem atualmente alguns dos mais exclusivos vinhos brancos do país. A regra é, portanto, beber o que mais se gosta, independentemente da cor”.
Para ajudar o leitor na sempre difícil escolha de um vinho branco, nas regras de harmonização, a etiqueta de serviço e até como tratar da guarda, Nuno Oliveira Garcia, deixa as principais recomendações para que nada falhe no momento da verdade.
Nuno Oliveira Garcia, crítico de vinhos e advogado
1 - Como escolher um vinho branco?
“O branco é o vinho mais versátil que existe! Bebo regularmente em todas as estações, enquanto reduzo muito nos tintos durante o verão. Essa versatilidade acarreta maior exigência na escolha, embora o cânone principal seja o que se gosta mais. Outra nuance a ter em atenção é a comida, caso o vinho a eleger não seja para consumo ‘a solo’. Teoricamente, épocas mais frias e pratos mais intensos exigem brancos encorpados, muitas vezes fermentados e/ou estagiados em barrica de carvalho, enquanto épocas mais estivais e refeições ligeiras intimam a presença de vinhos mais frescos e de acidez crocante. Os brancos, quando de qualidade, podem - e agradecem - ser guardados. Um branco do Dão, em especial da casta Encruzado, melhora com alguns anos em garrafa bem conservada, e será uma escolha certeira em qualquer ocasião. Quem gosta de brancos secos e com acidez mais vincada – apelidados de gastronómicos - terá mais facilidade em escolher vinhos de regiões atlânticas como a Bairrada ou os Vinhos Verdes, e quem não dispensa brancos sumptuosos e intensos encontrará boas opções um pouco por todo o Alentejo e o Douro, para não falar do Tejo e Beira Interior.”
2 - Quais as regras a seguir na harmonização de vinhos brancos com comida?
“Frescos e ácidos, ainda que com algum açúcar residual (que atenua o picante), são perfeitos para pratos exóticos como caril de gambas ou salada de caranguejo. Frescos, mas mais compactos, reinam à mesa com a maioria dos mariscos e peixes, desde que em confeções simples. Menos frutados e com notas mais lácteas, acompanham tanto peixes no forno como bacalhau, e emparelham de forma brilhante com queijos menos curados. Assim destruímos dois mitos: bacalhau e queijos com vinho branco (sim!), abrindo exceção para o bacalhau no forno e para os queijos mais curados e intensos. Também à sobremesa têm uma palavra a dizer, especialmente os colheita tardia, igualmente aptos para acompanhar alguns tipos de queijos (por exemplo azuis) e sobremesas à base de frutas. Os triunfais vinhos Madeira e Porto brancos, então nem se fala… de tão bons, o melhor é mesmo bebê-los com puro deleite a seguir à refeição sem demais acompanhamento.”
3 - Como e a que temperatura devem ser servidos os vinhos brancos?
“A regra principal é o arrefecimento, dependendo do gosto pessoal ou consoante o tipo de branco. A doutrina divide-se… Há quem entenda que um vinho encorpado e com vários anos em garrafa deve ser servido menos fresco, para que os aromas sejam exultados por completo, e há quem sustente que devem ser servidos mais frescos para que a prova seja mais equilibrada e viva. Indispensáveis são copos de tamanho, forma e fineza de vidro adequados, que hoje em dia se encontram com facilidade. Quanto mais cítricos no aroma e verticais em boca, menos largo deve ser o copo, sendo que ‘nenhum mal vem ao mundo’ em servir branco em copo de tinto, não sendo rigorosamente verdade o inverso. Muito importante é a ordem do serviço, privilegiando-se os brancos mais frescos, secos e exuberantes no início - servidos por volta dos 10 graus (abaixo disso os aromas esvanecem) – e os mais complexos e de colheitas mais antigas para o final - servidos a uma temperatura nunca superior a 13 ou 14 graus.”
Vinhos brancos
Herdade da Malhadinha Nova
4 - O que não pode falhar quando se opta por guardar vinhos brancos?
“A guarda dos brancos segue a mesma exigência dos demais vinhos: Lugar frio e escuro, com alguma humidade para manter as rolhas em forma. As ‘caves de vinhos’ procuram replicar o ambiente perfeito, mas só algumas são boas. Uma sugestão é ter em casa um frigorífico totalmente dedicado a vinhos brancos, onde pode guardar os que irá beber nos próximos 60 a 90 dias. Uma solução terrivelmente eficaz, pois esses vinhos, incluindo os de consumo estival, que aquecem rápido nos dias quentes, agradecem uma temperatura de 6 graus próxima da de serviço. Quanto a castas, as Encruzado, Arinto, Síria e Rabigato irão retribuir favoravelmente a guarda. O Alvarinho também evolui bem, muitas vezes para notas apetroladas e florais, assim como alguns exemplares de Antão Vaz, Loureiro e Viosinho (estes últimos só quando plantados em lugares e solos específicos). Genericamente, os brancos da Bairrada têm uma propensão lendária para a longevidade, o mesmo se podendo dizer de alguns vinhos do Dão e de Colares. A regra é não ter pressa nem medo que se estraguem. O mais certo é estar a bebê-los cedo demais!”
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