E, porém, há sol. A meteorologia tem dias, e este ameaçou ser mais chuvoso do que até agora demonstrou. No dia de arranque do Primavera Sound Porto, mais económico na sua alternância entre dois palcos, coube a Georgia estrear o relvado do palco Vodafone, aquele onde até 2022 atuaram todos os cabeças de cartaz (sobre mudanças, vá por aqui), isto é, o palco onde a disposição se assemelha mais aproximadamente a um anfiteatro natural: palco ao fundo, colina para descer (e depois subir).
Surgida a meio da década passada, Georgia Barnes serviu no Porto uma pop com nostalgia dos anos 80 mais sintéticos e início dos 90 mais ácidos, eletrónica no sistema nervoso, ou não fosse filha de Neil Barnes, uma das metades dos influentes Leftfield.
Num suado ‘one-woman show’, a artista britânica cantou, atirou-se a teclados e, sobretudo, à bateria (pads, sobretudo) para ‘pintar’ com cores mais noturnas uma ainda verdejante pista de dança. Ao nosso lado, Nuno Filipe, nascido na margem norte do Douro há quatro décadas e hoje residente na margem sul do Tejo, compara-a “Ibiza à tarde”.
Alturas houve em que esteve perto dos Daft Punk mais melódicos, uma direção que ainda não sabemos se seguirá no seu terceiro álbum, “Euphoric”, previsto para o fim de julho. Dir-se-ia, porém, que Georgia nunca deixou de ser uma artista electro-pop, nunca negligenciando o poder de uma melodia e a expressividade de uma voz.
Para o fim, e para aqueles que desceram a colina para vê-la, guardou uma musculada versão de ‘Running Up that Hill (A Deal with God)', a canção de 1985 que 2022 abraçou e 2023 conserva.
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