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“Com o ‘Cinco Minutos de Jazz’ as pessoas podiam ouvir e perceber se gostavam ou não de jazz”: as reações à morte de José Duarte

“Com o ‘Cinco Minutos de Jazz’ as pessoas podiam ouvir e perceber se gostavam ou não de jazz”: as reações à morte de José Duarte

O músico Mário Laginha e o radialista David Ferreira são algumas das personalidades que já reagiram à morte do divulgador e crítico de jazz José Duarte

O divulgador e crítico de jazz José Duarte morreu esta quinta-feira, aos 84 anos, e desde que a notícia foi confirmada o seu desaparecimento tem motivado diversas reações. Contactado pela BLITZ, o pianista e compositor Mário Laginha destaca a importância do programa ‘Cinco Minutos de Jazz’, criado por Duarte em 1966.

“Penso que a marca maior que ele deixa é ter sido fundador do ‘Cinco Minutos de Jazz’ numa época em que o jazz não entrava mesmo na rádio”, começa por dizer Laginha, “é verdade que eram só 5 minutos, mas foi uma maneira inteligente de conseguir entrar numa rádio generalista. E teve uma longevidade imensa. Na realidade, o programa acaba com ele. Essa, eventualmente, é a marca mais relevante ou pelo menos mais visível, mas ele foi um amante de jazz e um divulgador”.

Sobre a importância de um programa que esteve no ar por mais de 50 anos, o músico acrescenta ainda: “fez com que as pessoas quebrassem aquela resistência que acontece muito em relação ao jazz. Muitas vezes dizem que não gostam mas na realidade não conhecem. Isso é um papel importante que o ‘Cinco Minutos de Jazz’ tinha: as pessoas podiam ouvir e perceber se gostavam ou não”.

Pedro Adão e Silva, Ministro da Cultura, reagiu no Twitter à morte de José Duarte, partilhando a seguinte mensagem: “O desaparecimento de José Duarte deixa a Cultura de luto. Em Portugal, o seu nome confunde-se com a história do Jazz, que divulgou de forma apaixonada, incessante, por todos os meios, rádio, televisão, jornais e como programador. ‘Jazzé’, nome que gostava de se chamar, é responsável pelo amor ao Jazz de várias gerações, tendo sido um verdadeiro impulsionador da democratização do acesso a este género musical entre nós. Esta capacidade de partilhar conhecimento, fomentar o gosto e formar públicos será sempre uma das mais nobres missões de quem trabalha em Cultura. Todos aqueles que hoje gostam de Jazz devem muito ao José Duarte. À família e aos amigos expresso o meu sentido pesar”.

O diretor da rádio Antena 1, Nuno Galopim destaca, em declarações à BLITZ, “o entusiasmo na forma de divulgar uma música que ele não queria que se esgotasse nos já convertidos. O José Duarte pensava a divulgação do jazz para além daqueles que eram os adeptos, conhecedores e melómanos já com experiência jazzística”. Sobre a importância do programa “Cinco Minutos de Jazz”, acrescenta: “ele fez muitos outros programas, ‘A Menina Dança’ entre muitos outros mais, mas um pequeno formato era fundamental para aquele efeito do pequeno toque de contacto que faz com que se possa despertar uma curiosidade. Escolhia um tema, falava um pouco e se alguém que estivesse a ouvir e não tivesse uma ligação com o jazz escutasse, de repente, tinha ali uma porta aberta. Conseguiu ao longo de anos, levar o jazz a sucessivas gerações de melómanos. Os primeiros cinco discos de jazz que eu comprei foram todos de nomes que descobri nos programas do José Duarte".

Pedro Moreira, presidente do Hot Clube de Portugal, considera que “a grande marca que o José Duarte deixa, no fundo, é a paixão que tinha pela música”. “A obra e a carreira dele enquanto divulgador são conhecidas e foram muito importantes, com a criação do Clube Universitário [de Jazz], logo no final dos anos 50, a atividade toda dele na rádio e televisão, foi também um dos pioneiros a ter um site de jazz no início dos anos 2000 e é um autor com uma bibliografia super interessante, mas acho que o impacto que deixa é a paixão dele. Tinha uma personalidade muito forte, por vezes algo controversa. A relação dele com o Luiz Villas-Boas era complexa, com altos e baixos, com algum confronto e alguma competição, mas tudo isso em nome de quê? De uma paixão por aquela música”, acrescenta.

“Fui entrevistado por ele várias vezes, tínhamos uma boa relação, conheci-o ainda nos anos 80, e ele não resistia a uma pequena provocação nas perguntas que fazia, até em parte por causa do meu pai [o contrabaixista Bernardo Moreira], que era de um campo completamente diferente, para não dizer oposto, em termos de estética”, recorda Pedro Moreira em declarações à BLITZ, “a marca dele era não ter receio de lançar uma ideia para cima da mesa, mesmo com uma certa provocação ou alguma possível controvérsia. Não era má vontade, nem vontade de incomodar ou ferir alguém, era a paixão pela música e a visão que ele tinha dela”.

Em declarações à Antena 1, o radialista David Ferreira e antigo editor, destaca José Duarte como “uma pessoa que gostava muito de música e que fazia as pessoas gostar de música”. “Foi uma grande figura da rádio, fez vários programas, mas o ‘Cinco Minutos de Jazz’ continua a ser um programa absolutamente de referência, com uma belíssima voz que o Zé tinha e uma grande musicalidade”.

No Twitter, Pedro Filipe Soares, deputado do Bloco de Esquerda, escreve: “Foram 5 minutos de Jazz por dia, pequenas sementes subversivas daquela música estranha que tinha vários mundos dentro. E aquela voz no início, a cadência do anúncio ‘1, 2, 3, 4, 5 minutos de jazz’, era a marca inconfundível. Obrigado José Duarte, até Jazz”.

João Moreira dos Santos, autor do programa ‘Jazz a Dois’ e investigador da história do jazz em Portugal, também se pronunciou sobre a morte de José Duarte. “É uma grande perda, porque o José Duarte foi uma das três grandes figuras do jazz em Portugal. A primeira foi o Luiz Villas-Boas, a segunda foi o José Duarte e depois o Duarte Mendonça. E já não temos nenhum", defende, em declarações à Antena 1, “o ‘Cinco Minutos de Jazz’ foi um programa absolutamente marcante. O José Duarte contribuiu também muitíssimo para a mediatização do jazz, tornou-se quase um sinónimo do jazz em Portugal. Vamos sentir falta dele, sem dúvida”.

Em comunicado, o Jazzlogical, um dos mais antigos sites sobre jazz em Portugal, de Leonel Santos, despede-se de “um dos protagonistas notáveis do Jazz nacional”. “Era um ativista, um militante e um divulgador com dotes invulgares de comunicação. Faleceu hoje. Personalidade complexa (não o somos todos?), nos últimos anos, também afetado por doença prolongada, a sua atividade diminuiu, mas a história do Jazz nacional não pode ser escrita sem o nome de José Duarte, onde ocupa lugar cimeiro”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: blitz@impresa.pt

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