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“Parece que estamos a ir para o Rock in Rio mas depois é um silêncio”: o novo festival MEO Kalorama visto e sentido do lado de dentro

Meo Kalorama 2022
Meo Kalorama 2022
Rita Carmo

As comparações com o Rock in Rio, que no mesmo espaço se realiza de dois em dois anos, são inevitáveis. Mas agora que as portas do primeiro MEO Kalorama se abriram, podemos verificar que as diferenças são várias: o espaço é mais reduzido (mas nem se nota assim tanto), as marcas são em menor número, passando quase despercebidas, o ‘silêncio’ entre palcos maior. As primeiras impressões sobre o novo festival de Lisboa

Começou o festival MEO Kalorama, no Parque da Bela Vista, em Lisboa. Ao longo de três dias, de quinta a sábado, o festival co-organizado pela promotora portuguesa House of Fun e a espanhola Last Tour, trará a Lisboa nomes como Arctic Monkeys, Nick Cave and the Bad Seeds, Ornatos Violeta, Chemical Brothers, Kraftwerk, Disclosure e James Blake, entre outros.

O termo de comparação é, naturalmente, o Rock in Rio-Lisboa, que de dois em dois anos assenta arraiais precisamente neste parque lisboeta. Mas logo após a entrada, que se faz pelo mesmo pórtico do festival de Roberto e Roberta Medina, as diferenças saltam à vista.

Desde logo, a menor proliferação de estruturas tanto comerciais como de animação paralela ao cartaz musical gera uma sensação de maior silêncio e mais eficaz separação de sons, uma vez que a única projeção sonora existente é aquela que provém dos três palcos. A expressão ‘silêncio’ não é nossa. Júlio Alves, 26 anos, natural de Alverca, partilha com a BLITZ as suas primeiras impressões: “No caminho para cá parece que estamos a ir para o Rock in Rio, mas depois entramos e há uma calma maior. É um silêncio…”, diz-nos o fã de Chemical Brothers (e Nick Cave, que só atua no sábado) com quem falamos quando Fred, no palco Futura, apresenta uma sonoridade jazzística, e depois de Rodrigo Leão ter estreado o palco principal do evento, ainda com muito pouca gente na assistência. Não é um “silêncio-silêncio”, corrige Júlio, até porque não espera propriamente que os Chemical Brothers toquem baixinho. “Se calhar é por não estar a ver a roda gigante”, graceja, referindo-se a um dos divertimentos mais requisitados do outro ‘inquilino’ da Bela Vista.

Apesar da área útil ser menor - o festival ‘termina’ pouco para lá da zona onde se localiza a tenda VIP do Rock in Rio desde a edição inaugural de 2004 -, a menos aturada ocupação do espaço pelas marcas acaba por ‘arejá-lo’, mostrando uma extensão que a organização diz querer preencher sem descurar o conforto. A lotação, de acordo com declarações ao Expresso de Andreia Criner, diretora de comunicação, é de 40 mil pessoas por dia. João Costa, 43 anos, veio de Coimbra “especialmente para ver Kraftwerk”, nunca tinha estado no Parque da Bela Vista e compara-o ao Parque da Cidade do Porto, onde desde 2012 se realiza o festival Primavera Sound Porto. Espera “um festival sem sobressaltos, sem confusões”. À hora de ‘jantar’, contudo, vislumbrámos filas longas em algumas bancas de restauração, distribuídas em três ‘aldeias' do recinto.

O cenário principal, palco MEO, equivale ao palco Mundo do Rock in Rio, ‘alcatifado’ pelo verde natural do Parque da Bela Vista (e nas zonas mais próximas do palco por um tapete mais artificial). Por aí passam os maiores nomes do elenco, dos Chemical Brothers (cabeças de cartaz no dia de estreia, quinta) aos Arctic Monkeys (o mesmo estatuto no dia do meio, sexta) e Nick Cave & The Bad Seeds (nomes maiores da noite derradeira, sábado).

No espaço que no Rock in Rio, no passado mês de junho, se viu ocupado por uma área de alimentação e um pequeno palco com DJ residente de ‘sucessos’ rock está o palco Futura, que receberá artistas como Jake Shears, Marina Sena, Alice Phoebe Lou, Bruno Pernadas e o Club Makumba (e onde esta quinta-feira já se apresentaram Fred Ferreira e os D'Alva).

Na zona que no Rock in Rio corresponde à tenda VIP, e com a plateia a estender-se pela área da Rock Street (novamente, a facilidade de comparação com o único festival que se realiza regularmente no Parque da Bela Vista), encontra-se o palco Colina, dedicado às propostas de música eletrónica, de Kraftwerk a Róisín Murphy, de Peaches a Chet Faker. Está de ‘costas’ viradas para a ala da entrada/saída do festival, funcionando como um ‘segundo' festival, até porque ter uma zona de alimentação adjacente bem apetrechada.

A oferta de alimentação parece-nos algo ‘conservadora’, se comparada com aquela que se vê, por exemplo, no Primavera Sound portuense. Sendo um festival que terá as portas a encerrarem às 2h, com concertos a começarem às 17h, o período de permanência no espaço não é especialmente longo, sendo que por volta das 21h00 a afluência às zonas de restauração intensificou-se e provocou ‘engarrafamentos’. Das inevitáveis bifanas, kebabs e sandes de leitão aos pokés, sushi, ‘comida de rua’ asiática ou propostas que não carne, a variedade é razoável. As bancas de bebidas são visíveis ao longo do recinto, concentrando-se em ‘estações’, sendo a cerveja oficial (e, portanto, a única disponível) da marca espanhola San Miguel. Aqui não há filas, por enquanto. Com o pôr do sol não muito distante, foi com a eletrónica suave e ‘soulful’ de James Blake que a Bela Vista se embalou. Mas adiante, no cimo da colina, os colombianos Bomba Estéreo deram um espetáculo efusivo que teve direito a versão de Manu Chao.

O cartaz deste dia de estreia é o que se segue:

Palco MEO
23h30 The Chemical Brothers
22h10 2ManyDJs + Tiga
21h00 Years & Years
19h00 James Blake
17h00 Rodrigo Leão

Palco Colina
01h00 Moderat
22h00 Kraftwerk
20h00 Bomba Estéreo
18h00 Xinobi (live)
16h00 Curadoria Chelas É o Sítio

Palco Futura
01h00 Marina Sena
22h00 Jake Shears
20h00 D’Alva
18h00 Fred

Atualizado às 21h20

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: lguerra@blitz.impresa.pt

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