Pedro Abrunhosa: “Não quero que o presidente Putin vá procriar consigo próprio, quero é que ele pare com a guerra”
Pedro Abrunhosa
Rita Carmo
Considerando que a Rússia, através da embaixada em Portugal, o ameaçou implicitamente, Pedro Abrunhosa sublinha: “No momento em que chutarmos para canto esta intimidação russa, nós portugueses, estamos a dizer claramente que vamos estar caladinhos porque temos muito medo deles”
"Esta é uma música que tem 30 anos e que se chama 'Talvez Fo***', a letra é explícita e fala dos vários conflitos que existiam há 30 anos. Começa por dizer 'há bombas em Belfast e em Beirute', 'há fascistas em Berlim e em Moscovo, o discurso que de velho se faz novo'. Reitero que estas frases têm 30 anos, mas infelizmente algumas delas mantêm-se atuais", explica Pedro Abrunhosa em entrevista à TSF/DN, enquadrando o contexto em que foi criada a canção publicada originalmente em 1995 e que dedicou no início deste mês ao regime russo e a Vladimir Putin num concerto em Águeda, motivando uma reação formal da Embaixada da Rússia em Portugal.
"Neste caso, o tirano que é visado é aquele que sabemos que tem ambições imperialistas e czaristas, e que está a provocar uma onda de indignação e dor", acrescenta, revelando que o momento "foi pensado": "A minha postura de palco não é propriamente emocional, as manifestações políticas ou cívicas são pensadas".
"Não quero que o presidente Putin vá procriar consigo próprio, quero é que ele pare com a guerra. Isto é claramente uma metáfora, mas também é um sinal de respeito pelo povo russo. Sou um russófono por cultura, a Europa também é baseada numa Rússia cultural, uma Rússia que vai beber há grande música, ao grande cinema, à grande tradição da literatura. Não são palavras contra os russos, são palavras contra os mísseis russos", esclarece o músico, que se diz satisfeito com a posição do governo português - "não quero levar isto a um incidente diplomático maior" -, mas ressalva que "uma chamada do embaixador para um pedido de explicações não ficaria mal", bem como "alguma solidariedade institucional" por parte do Ministério da Cultura.
Considerando que a reação de condenação que recebeu da Embaixada da Rússia é "uma ameaça implícita" do governo russo, Abrunhosa acredita que a intimidação se estende a todos os cidadãos portugueses. "No momento em que calarmos esta ameaça, no momento em que chutarmos para canto esta intimidação russa, nós portugueses, estamos a dizer claramente que pedimos desculpa e que vamos estar caladinhos porque temos muito medo deles", declara.