Ambiente

Onda de calor ameaça glaciares suíços: desde 1954 que não era preciso subir tanto para chegar aos 0ºC

Gelo coberto com espuma isolante, num esforço para evitar derretimento, no glaciar do Ródano (2022)
Gelo coberto com espuma isolante, num esforço para evitar derretimento, no glaciar do Ródano (2022)
FABRICE COFFRINI

Temperaturas extremas que deixaram Europa sob alerta afetam também degelo em região que registou no ano passado maior perda de gelo desde que há registos

A onda de calor que está a afetar a Europa e deixou duas dezenas de países sob alerta pode também contribuir para a agravar ainda mais a perda de gelo nos glaciares da Suíça.

Segundo uma publicação feita esta segunda-feira pelo serviço de meteorologia suíço na rede social X (ex-Twitter), a linha dos zero graus atingiu uma altitude recorde no país. Para alcançar a temperatura de congelamento, os balões do MeteoSchweiz tiveram de chegar aos 5299 acima do nível do mar. Há quase 70 anos que não era preciso atingir altitudes tão elevadas para chegar aos 0ºC.

Agora, com uma nova onda de calor a atravessar a Europa, os especialistas temem que os glaciares estejam novamente sob ameaça. “Com o isoterma dos zero graus muito acima dos cinco mil metros, todos os glaciares dos Alpes estão expostos a degelo - até nas mais elevadas altitudes”, alertou o glaciologista Daniel Farinotti em declarações à AP. “Este tipo de eventos são raros e prejudiciais à saúde dos glaciares, uma vez que subsistem da neve acumulada nas altitudes elevadas. Se estas condições persistirem a longo prazo, os glaciares serão irreversivelmente perdidos.”

Segundo o serviço de meteorologia suíço, esta é apenas a terceira vez que a altitude de congelamento fica acima dos cinco mil metros. Num verão típico, o isoterma deve rondas os 3500 a quatro mil metros.

O valor desta segunda-feira supera o novo recorde que tinha sido registado em julho de 2022. O ano passado viria a tornar-se num dos anos mais devastadores para a região, quando segundo a entidade responsável pela monitorização (GLAMOS), os glaciares perderam 6% do seu volume. De acordo com a AP, trata-se de mais do dobro do que era até agora a maior perda anual, que tinha sido registada em 2003.

O degelo no país não é um fenómeno novo, mas os cientistas alertam que as alterações climáticas estão a contribuir para uma aceleração da situação. Segundo um estudo divulgado há um ano na revista científica “The Cryosphere”, citado pela AP, os cerca de 1400 glaciares suíços perderam cerca de metade do seu volume em 85 anos (entre 1931 e 2016). Cerca de 12% perdeu-se só nos últimos seis anos do estudo.

A perda de gelo tem sido de tal forma acentuada que se multiplicam as notícias sobre os corpos e objetos em tempos cobertos de gelo que estão agora a emergir. No ano passado, foi possível alcançar os destroços de um avião que se tinha despenhado em 1968. No final do mês passado, foram encontrados os restos mortais de um alpinista alemão desaparecido em 1986.

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