E é aqui que formatos como o podcast “Ser ou Não ser” e outros semelhantes, podem ter um papel fundamental. Na tentativa de simplificação dos temas, a um nível que seja mais facilmente inteligível por todos, contribuindo para a normalização destes tópicos. E, por outro lado, dando bons exemplos e inspirações para a ação, que nos façam sentir motivados e úteis, diariamente, nesta tarefa titânica de mudar o mundo. Não de uma vez, mas passo a passo. Um dia de cada vez, e à escala possível.
Como diz uma boa amiga, psicóloga especialista em temas relacionados com o medo – o medo é nosso amigo. Concordo, na medida em que nos alerta. Mas quando ele nos bloqueia, temos de o desconstruir. Vou tentar exemplificar como o medo pode facilmente surgir, pela simples leitura de notícias (o medo e a falta de vontade de ouvir falar sobre estes temas, optando por desporto, humor ou escárnio de outrem):
- Em 20 de Março deste ano, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – grupo de cientistas estabelecido pelas Nações Unidas, para monitorar e assessorar toda a ciência global relacionada às mudanças climáticas) lançou o 6º relatório de síntese sobre alterações climáticas. No relatório afirma que existem boas iniciativas em todo o Mundo, a todos os níveis (desenvolvimento de tecnologias promissoras de baixo carbono e um maior compromisso por parte de nações e de empresas), mas… não o suficiente para manter o aquecimento global em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Pelo contrário, mantendo-se a situação atual, existirá um aquecimento de 2,5° C até ao final do século;
- Kaisa Kosonen, coordenadora política do Greenpeace diz, em reação ao relatório: “Esqueçam Ilhas Tropicais desertas e gerações futuras”. Mais à frente, afirma que “os Lobos estão à porta”. Para terminar com um apelo: “Há um papel para cada um”. Nos comentários ao mais recente relatório síntese do IPCC para a preparação do COP28, em Novembro, no Dubai, afirma ainda que “a nossa casa está a arder”. Não sei o que sentem, mas pessoalmente não me sinto muito motivado com estas palavras;
- CNN Brasil – título de notícia em 8 de agosto deste ano: “Mundo atinge limite pré-colapso com aquecimento global de 1,5°C em julho”;
- Em 2022, O Secretário-Geral das Nações Unidas, em Declarações ao jornal The Guardian, afirmou, antes do início da COP27: “Não há como evitar uma catástrofe se ambos não chegarem a um acordo neste sentido”, referindo-se à necessidade urgente de um acordo climático entre os países ricos e os países em desenvolvimento. E acrescentou: “Neste momento, estamos todos condenados.”
- A semana passada, na abertura da Cimeira Climática, António Guterres afirmou que a “humanidade abriu as portas do Inferno”. E acusou as empresas que tentam atrasar a transição energética.
Não questiono a verdade científica que está na base destas afirmações, apesar da constante ambiguidade e incerteza da informação que vamos recebendo de fontes diversas e igualmente fidedignas. Nem sequer a necessidade de alertar para a ação, por parte das entidades responsáveis. Tudo isso tem razão de ser. Mas, apesar de compreender os argumentos dos que dizem que o homem só aprende à força e no limite (pela negativa), continuo a acreditar na importância de inspirar pela positiva. Como?
1) Desmistificando e explicando o problema de uma forma simples – a compreensão pode diminuir o grau de angústia, e dar orientações para soluções;
2) Comunicando, de forma clara, informativa e inspiradora, o que várias pessoas, organizações e países já estão a conseguir implementar, com resultados muito positivos – não é preciso reinventar a roda;
3) Apontando menos dedos ao que está mal feito, e apoiando a construção de caminhos viáveis e implementáveis no curto prazo, dando pistas concretas, a todos e cada um dos agentes económicos.