Euronext junta 2500 pessoas para debater finanças sustentáveis e lança novo índice de biodiversidade
Camille Leca, responsável pela área de ESG do Grupo Euronext
A Euronext, plataforma que agrega várias bolsas europeias, incluindo a portuguesa, realizou um grande evento dedicado à sustentabilidade e aproveitou para anunciar várias novidades: um novo índice, um serviço para consultar o perfil ESG das emitentes e ainda a criação de uma fundação. Ao Expresso SER, a responsável pela sustentabilidade do grupo, Camille Leca, refere que há três empresas nacionais que ainda podem ambicionar entrar no novo índice sobre biodiversidade
É o primeiro grande evento sobre sustentabilidade da Euronext, a plataforma pan-europeia que agrega as bolsas de Amesterdão, Bruxelas, Dublin, Milão, Oslo, Paris e Lisboa. Foi entre 4 e 8 de setembro que se realizou a Euronext Sustentability Week, um evento dedicado a discutir temas relacionados com as finanças sustentáveis e com o ESG (sigla inglesa para ambiente, responsabilidade social e governança).
Camille Leca, Head of ESG and Sustainable Finance do grupo Euronext, falou com o Expresso SER para fazer o balanço deste evento: “Esta primeira edição foi um grande sucesso. Cerca de 2500 participantes nas conferências, seminários e webinars externos, e mais de 110 oradores, oriundos de nove países europeus, juntaram-se à Euronext ao longo da semana para debater as finanças sustentáveis. Em Milão, por exemplo, foram realizadas 1400 reuniões entre empresas e 190 investidores nacionais e internacionais e 40 analistas de ações e ESG”.
A responsável pela área de sustentabilidade da bolsa pan-europeia garante ainda que este evento “passará a ser recorrente e será um pilar na agenda ESG da Euronext. A sustentabilidade é um tema que, felizmente, veio para ficar e acreditamos que a nossa organização tem um papel a desempenhar nesta área”. Acresentou que “este é um momento crucial para as finanças sustentáveis e as empresas estão a tentar navegar nesta jornada. Ao compartilhar pontos de vista e experiências, acreditamos que isso é útil para todos os que querem e têm de percorrê-la”.
Camille Leca assegura que ficou impressionada com o envolvimento das empresas (cotadas e não cotadas) nos temas que estiveram na agenda desta semana dedicada à sustentabilidade: “O que posso partilhar é que saímos destas reuniões com uma visão mais clara sobre tendências, necessidades, constrangimentos, que serão motivo de reflexão para o desenvolvimento dos nossos produtos e serviços e da nossa própria estratégia”.
A Euronext Sustentability Week, em Bruxelas.
jopauwels.com
Um novo índice e um agregador de informação ESG
Por falar em produtos e serviços, a Euronext aproveitou o evento para anunciar o lançamento de alguns novos produtos, como o “My ESG Profile” que é uma nova plataforma que compilará o perfil ESG de 1900 emitentes. “Esta ferramenta vem democratizar o acesso à informação e mostrar o esforço que estas quase duas mil empresas estão a fazer para cumprir os requisitos ESG. Isto dará visibilidade aos seus esforços e permitirá aos investidores aceder e comparar facilmente a informação. O que oferecemos como extra é a possibilidade de as empresas adicionarem a esta informação padronizada, outras informações que considerem relevantes, como relatórios dedicados, vídeos ou quaisquer outros materiais”.
Mas quem vai controlar se as empresas não vão aproveitar este novo “palco” para fazer greenwashing? Camille Leca explicou ao Expresso SER que “as empresas cotadas já têm de reportar estas matérias nos seus relatórios e contas. O que faremos, com base na inteligência artificial, é reunir informações desses relatórios anuais e apresentá-las de forma padronizada, para que os investidores possam comparar facilmente os resultados ESG das empresas que desejam acompanhar. Este reporte não depende da ação das sociedades cotadas e resulta de dados auditados”.
Outra novidade que a Euronext deu aos emitentes e investidores nesta semana sobre sustentabilidade é que a bolsa passará a ter um novo índice que vai juntar as empresas mais sustentáveis em termos de biodiversidade. Vai chamar-se “Euronext Biodiversity Enablers”.
Camille Leca explica que é o primeiro índice de referência mundial que tem uma pespetiva de dupla materialidade, ou seja, por um lado avalia se as receitas das cotadas estão relacionadas com ecossistemas de biodiversidade e, por outro lado, analisa a forma como as empresas impactam na biodiversidade e no ambiente. As empresas que farão parte deste novo índice virão do Euronext World, que é composto pelas 1500 maiores empresas mundiais. Este índice mundial inclui empresas dos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Reino Unido, países nórdicos e outros países europeus.
A Euronext Sustentability Week, em Paris.
Cotadas portuguesas fora do ínidce
A responsável pela área de sustentabilidade da Euronext confirma que o novo índice não terá nenhuma empresa portuguesa, mas alerta que há três cotadas portuguesas que fazem parte do Euronext World Index e, como tal, mais tarde poderão vir a integrar o novo índice sobre biodiversidade caso cumpram os requsitos exigidos. São elas a Galp, EDP e Jerónimo Martins.
“As empresas portuguesas não foram incluídas neste novo índice de biodiversidade por uma das duas razões: ou não cumprem os critérios, ou têm pares que cumprem os critérios e têm um impacto mais positivo – pois as pontuações são construídas para cada empresa em comparação com os seus pares”, explica Camille Leca que recorda que as empresas portuguesas estão presentes noutros índices ESG europeus da Euronext, “nomeadamente noutros relacionados com a biodiversidade, outros que classificam com base no impacto na água e nos oceanos, índices de igualdade de género, entre outros”.
A criação da Fundação Euronext foi outra das novidades que a bolsa deu ao mercado na Euronext Sustentability Week. E para que vai servir esta fundação? A Head of ESG and Sustainable Finance do grupo explica que a fundação “pretende promover o apoio às comunidades locais e aos projetos implantados em toda a Europa nas áreas da literacia financeira, da diversidade e inclusão, e dos recursos marinhos. Os apoios filantrópicos e educacionais da Euronext, realizados através de iniciativas que envolvam financiamento e/ou voluntariado, nomeadamente para capacitar os jovens, promover a sustentabilidade e fortalecer as nossas ligações com as comunidades locais, passará a funcionar sob a égide da fundação Euronext”. A Fundação será financiada pela própria Euronext e fará parcerias locais, nomeamente em Portugal.