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“97% das pessoas em Portugal que podem ter um painel solar em casa ainda não o têm”

“97% das pessoas em Portugal que podem ter um painel solar em casa ainda não o têm”

A Otovo é uma empresa norueguesa que funciona como um marketplace e faz a ponte entre as famílias e as empresas que instalam painéis fotovoltaicos. O Expresso SER conversou com Manuel Pina, antigo diretor da Uber em Portugal e agora diretor geral da Otovo, que nos revelou que a empresa quer chegar ao final do primeiro ano em Portugal com mil instalações de painéis fotovoltaicos

Manuel Pina montou o negócio da Uber em Portugal de raiz e agora está a fazer a mesma coisa à frente da Otovo, uma empresa norueguesa que entrou no mercado português no verão do ano passado e funciona como uma plataforma online que ajuda as famílias a encontrar uma empresa para instalar painéis fotovoltaicos.

A principal inovação que a Otovo trouxe para o mercado português é o modelo de subscrição que “permite democratizar” o acesso ao autoconsumo de energia. Em vez de gastar 4 a 5 mil euros à cabeça para ter um painel no telhado, a família pode contratar um modelo de subscrição em que beneficia do serviço, da garantia e da monitorização do sistema e fica a pagar uma mensalidade.

No caso de subscrição a Otovo garante que a família poupa imediatamente: “Vamos supor o exemplo de uma família que paga 100 euros/mês de eletricidade. Dos 100 passa para os 60 euros com os painéis, portanto a família ficou com 40 euros no bolso. Desses 40 euros vai pagar, suponhamos, 30 euros de subscrição à Otovo. Na mesma sobraram 10 euros no final desse mês. No final de um ano estamos a falar de mais de um mês de eletricidade”.

Manuel Pina afirma que o mercado português ainda tem uma taxa de penetração muito baixa (basta andar pelas ruas e ver os telhados), na casa dos 3 a 5%. É este potencial de negócio e de crescimento que fez a Otovo vir para Portugal, um dos 13 mercados europeus onde a empresa norueguesa está presente.

O Manuel Pina esteve na Uber e agora mudou-se para a Otovo. Porquê esta mudança?
Juntei-me à Uber quando estávamos a construir um negócio em Portugal em 2014, exatamente com a mesma motivação que me fez juntar à Otovo, que é construir um negócio do zero e perceber se é um produto que tem espaço ou não. No caso da Uber, como no caso da Otovo, felizmente estávamos certos e, portanto, este é um produto que faz sentido. Estamos a falar de sistemas de painéis para as famílias poderem aproveitar melhor a exposição solar que os seus telhados têm, e estamos a falar de um mercado como Portugal que tem muito potencial.

A Otovo é empresa norueguesa, cotada na Bolsa de Oslo. Que empresa é esta, podia partilhar alguns números connosco?
A Otovo é uma empresa de norueguesa que começou em 2016. Nós estávamos a falar de Portugal e o potencial que tem para a produção de energia solar; a Noruega está eventualmente do outro lado do espectro, um país nórdico com menos disposição solar durante o inverno. Mas é também onde a necessidade para as famílias, sobretudo focadas no autoconsumo, existia mais porque a rede energética da Noruega tinha as suas complexidades que acabava por fazer com que as famílias pagassem bastante mais do que as famílias portuguesas, por exemplo. Começámos em 2016 e agora estamos presentes em 13 países europeus. Nós somos um “Marketplace” por excelência, ou seja, nós o que fazemos é ligar estas famílias que procuram estas soluções com as empresas instaladoras locais que fazem essas instalações.

Não somos uma empresa instaladora, através do nosso algoritmo damos a opção às famílias de poderem escolher as empresas que querem que instalem os seus painéis e também damos às empresas a opção de ter acesso a um mercado muito maior do que elas conseguiriam ter se fossem diretamente ao mercado.

De onde vem este nome Otovo, significa alguma coisa?
Sim, o nome vem do fotovoltaico, é parte do meio da palavra fotovoltaico. Tanto em inglês, como em português e como na maior parte das línguas que nós falamos na Europa. Não tem necessariamente um significado profundo, é um nome que fica na cabeça, provavelmente na altura pensado para o público norueguês, mas que também funciona para o público português.

Qual é a estrutura da empresa em Portugal? Quantos trabalhadores têm?
Eu juntei-me à Otovo há um menos de um ano, no final de maio do ano passado, para sozinho montar um negócio do zero. Nós começámos a vender ainda com uma equipa relativamente pequena, éramos duas ou três pessoas quando começámos a vender os primeiros projetos na ideia de testar o mercado e perceber se o produto fazia ou não sentido. Fizemos isto durante cerca de dois, três meses e no final de agosto fizemos o lançamento oficial já depois de termos vendido alguns sistemas. Em termos de estrutura, o mercado português é gerido e dirigido por pessoas que estão a trabalhar em Portugal. Todas as pessoas estão baseadas aqui em Lisboa e nós tipicamente replicamos esta estrutura nos mercados onde funcionamos quase como se fôssemos uma “start-up” dentro do grupo.

Nós somos um “Marketplace” por excelência, ou seja, nós o que fazemos é ligar estas famílias que procuram estas soluções com as empresas instaladoras locais que fazem essas instalações.

Falando agora do vosso negócio, vocês basicamente fazem a ponte entre o consumidor que está à procura de um painel fotovoltaico e a empresa que quer vendê-lo. Como esteve antes na Uber, é abusivo dizer que este negócio é parecido com o da Uber, só que para o solar?
Não é abusivo. Eu diria que não é obviamente um negócio parecido, estamos a falar de indústrias completamente diferentes, mas que têm alguns princípios comuns. No caso da Uber, as empresas TVDE são empresas individuais, são empreendedores que começaram o seu negócio dentro daquele universo de passageiros em veículos descaracterizados; e aqui estamos a falar de empresas que fazem ou que já faziam instalações de sistemas fotovoltaicos e aquilo que nós lhes damos é sobretudo um canal alargado de vendas.

Em Portugal, o tecido destas empresas do solar fotovoltaico é tipicamente de empresas locais, que fazem regiões, como o Algarve, Lisboa, o norte e, portanto, são empresas que dependem muito do boca a boca, das recomendações dos seus próprios clientes e, portanto, podem não ter as armas necessárias para atingir o mercado todo. Nós somos o marketplace com presença nacional, continente ilhas. O que damos a estas empresas é a possibilidade de venderem sistemas não só fora da sua área da população, se assim o que quiserem, mas também a muito mais clientes.

Vocês não vendem os painéis, são um ponto de encontro entre consumidores e compradores de painéis.
Se calhar é mais fácil explicar o percurso de um cliente. O cliente que procura um sistema de painéis fotovoltaicos para a sua casa pode chegar ao nosso site e inserir a sua morada e em poucos segundos vai ter acesso a uma proposta inicial com base, por exemplo, na inclinação do seu telhado e na exposição solar. Isso é o que o nosso algoritmo faz de forma automatizada e o cliente tem acesso a essa proposta em segundos.

Mas pensamos que estas soluções devem ser customizadas, não só ao espaço que existe no telhado, mas também ao padrão de consumo da pessoa. Tipicamente, quando o cliente faz essa simulação, a seguir é contactado por um agente da nossa equipa de consultores comerciais que vai ter em consideração, por exemplo, qual é o consumo daquela família por ano, se tem ou não um carro elétrico, se tem um termoacumulador, se tem uma piscina, se tem uma bomba de água. Aquilo que fazemos é otimizarmos a dimensão do sistema de acordo com a poupança do cliente.

Depois vemos qual é o sistema ideal, com base na informação que foi submetida anteriormente por parte destas empresas instaladoras. Cada uma delas têm acesso a uma página pessoal, a uma página de empresa, onde podem inserir os seus dados, os seus custos e o preço a que estão dispostos a vender os serviços.

Há uma espécie de leilão entre as empresas instaladoras para o mesmo cliente?
É uma comparação. Com base nessa informação que nós temos na plataforma, vamos encontrar o sistema que é ideal para aquele cliente com base em três fatores. O preço indiscutivelmente é um deles. Nós queremos maximizar a poupança do cliente.

O segundo é a qualidade. Nós somos bastante exigentes e temos auditorias externas por empresas credenciadas. Nós somos uma empresa nórdica, seguimos esses padrões de forma religiosa, estamos a falar de um sistema que vai estar mais de 20 anos no telhado de uma pessoa. É importante que essa instalação seja duradoura e seja segura.

O terceiro fator tem a ver com a própria disponibilidade de instalação, portanto aquele que consegue entregar com o valor mais competitivo, com mais qualidade e com maior rapidez de instalação é aquele que vai ser escolhido.

Quem escolhe o fornecedor são vocês ou é o cliente?
Nós fazemos essa seleção. Mas é importante referir que nem sempre o instalador escolhido é o mais económico. Muitas vezes pode ser um que se calhar é um bocadinho menos competitivo, mas que tem entregado projetos com uma qualidade de excelência, e para aquele caso em particular a exigência tem que ser a excelência.

A partir daqui o cliente adjudicou e assinou a sua proposta online, sem nenhum contacto presencial connosco, e a partir daqui nós recolhemos algumas informações como fotografias do telhado, fotografias do quadro elétrico, todas as informações necessárias para registar o sistema e passamos essas informações ao instalador.

Para ter essas fotografias vocês vão à casa do cliente?
Nós tentamos evitar. A visita técnica, como é conhecida, pode ser evitada, eu diria, em mais de 80% dos casos. Há casos que não podes, porque existem complexidades, como a estrutura do telhado, etc… e pode ser necessário ser visto no local. Mas a maior parte das vezes estamos a falar de fotografias, de documentos, da planta da casa quando a fotografia não for de qualidade. Estamos a falar de um conjunto de informações que nós conseguimos obter sem ter que marcar uma data com o cliente. Nós tentamos evitar ao máximo que essa visita técnica exista e por isso é que pedimos um conjunto de informação, normalmente mais exaustivo do que as outras empresas.

A visita técnica, como é conhecida, pode ser evitada, eu diria, em mais de 80% dos casos.

Quando os instaladores fazem visitas técnicas não estão a receber dinheiro por isso, são momentos em que eles podiam estar a instalar e a receber dinheiro pelas instalações e que estão a perder em deslocações a casa do cliente a olhar para o telhado. É mais eficaz e mais eficiente para a operação dos próprios instaladores receberem a informação que precisam para instalar, usam essa informação, fazem as instalações e conseguem maximizar o seu rendimento com base em mais instalações e menos trabalho.

No vosso site dizem que o cliente não precisa fazer qualquer tipo de investimento inicial. Isto quer dizer que não compra o painel?
Aí entramos nos dois modelos de aquisição que a Otovo tem em Portugal e se calhar começo por esse que está a dizer que é o modelo de subscrição. Nós lançámos pela primeira vez em Portugal, e ainda somos os únicos que têm este modelo de subscrição, que permite que o cliente possa ter acesso a esse sistema sem ter que gastar dinheiro ou sem ter de o pagar à cabeça. Fica a pagar uma mensalidade que é normalmente, diria na larga maioria dos casos, inferior à poupança que o sistema em si vai gerar. Ou seja, no primeiro mês o cliente não investiu dinheiro nenhum, e no primeiro mês que o sistema estiver montado o cliente já poupou dinheiro. Às vezes são 5 euros, outras vezes são 10 euros, outras vezes são 20 euros. Mas tudo somado, se pensarmos na longevidade dos painéis solares, estamos a falar às vezes de vinte anos, estamos a falar de muito dinheiro.

E nesse caso, quem é que paga à empresa instaladora?
A empresa instaladora recebe sempre por projeto. A seguir a completarem o projeto, a empresa instaladora envia-nos uma fatura e nós pagamos a sete dias ou a 30 dias.

DianaCardoso

Nós lançámos pela primeira vez em Portugal, e ainda somos os únicos que têm este modelo de subscrição, que permite que o cliente possa ter acesso a esse sistema sem ter que gastar dinheiro ou sem ter de o pagar à cabeça.

Vocês funcionam aqui como se fossem um banco? Adiantam o dinheiro e depois recebem-no em prestações.
A subscrição não é necessariamente um financiamento. É um serviço que inclui, entre outras coisas, o sistema de painéis, mas inclui também uma assistência e a monitorização da produção durante toda a duração do sistema. Porque é que isto é importante? Quando nós compramos um carro ou um aparelho temos sempre em consideração qual é a garantia que o fabricante nos dá. Se o sistema se avariar ou se uma componente do sistema se avariar daqui a dez anos, pode estar ou não dentro da garantia do fabricante, nós vamos responsabilizar por substituir essa componente. O sistema de subscrição é um bocadinho aquela ideia da energia solar como um serviço.

Mas qual é o sistema mais vantajoso, este do modelo de subscrição ou comprar logo o equipamento todo?
O modelo de compra única exige o investimento à cabeça e, portanto, exige que as pessoas tenham que ter a disponibilidade de 4 ou 5 mil euros postos de parte e possam gastar. Se estiverem dispostas a gastá-lo, provavelmente estão dispostas a esperar seis ou sete anos para pagar o sistema, porque é o tempo que está a amortizar o sistema. Nós temos esse modelo de compra única precisamente porque acreditamos que existem casos de pessoas que preferem fazer isso.

Para mim ainda não é claro qual dos dois é mais caro, a subscrição ou a compra única?
Isto funciona um bocadinho como o renting automóvel, ou seja, obviamente se nós pensarmos durante toda a duração do sistema o valor total que o cliente vai pagar, tudo somado, todas as mensalidades somadas, vai ser superior ao valor se o pagasse hoje. Mas não estamos a falar necessariamente de juros, estamos a falar de serviços que estamos a prestar e esse serviço tem esse custo.

Este modelo de subscrição e a vossa plataforma são as duas inovações que trazem para o mercado português?
Obviamente que o modelo de subscrição é uma forma inovadora para as famílias terem acesso aos sistemas de painéis solares de que precisam, e posso dizer que mais de dois terços das nossas vendas em Portugal é no modelo de subscrição. O que significa que há um apetite e uma procura por este tipo de soluções.

Mas não é a única inovação. Se nós pensarmos como é que o mercado português estava organizado, as principais empresas, que ainda hoje continuam a ser os líderes, são as empresas que também comercializam energia, como a EDP, a Galp e outras que existam no mercado. São as empresas que têm uma carteira de clientes maiores, têm uma lista telefónica maior e são as empresas que mais vendem estes sistemas em Portugal. A motivação e o incentivo que este tipo de operadores ou comercializadores de energia tem para vender sistemas de painéis solares não é necessariamente o alinhamento com a maximização de poupança do cliente final. O que eles no fundo querem é continuar a vender energia e usam este tipo de sistemas como mecanismos de retenção de clientes. O que faz todo o sentido, é mais uma forma de conseguirem navegar num mercado altamente concorrencial.

Mais de dois terços das nossas vendas em Portugal é no modelo de subscrição. O que significa que há um apetite e uma procura por este tipo de soluções.

Nós não somos um comercializador de energia e acreditamos que o valor está em maximizar a poupança do cliente no final do mês. Se o Pedro quisesse instalar painéis em sua casa, se tiver telhado para isso, podia instalar dois, três, quatro, cinco, seis, sete ou oito painéis. Mas se calhar para o consumo que tem, quatro seriam o suficiente. Quatro poderiam servir para ter uma poupança de cerca de 40% na sua fatura de eletricidade. Três já só lhe dava uma poupança de 20% na fatura de eletricidade. Seis se calhar não ia ultrapassar a poupança dos 45%. Ou seja, existe um número certo para cada família com base no consumo de energia que tem. A importância da nossa equipa comercial é exatamente perceber qual é o sistema ideal para cada pessoa.

Quantas instalações é que já fizeram em Portugal e quantas empresas instaladoras estão registadas na vossa plataforma?
Sendo uma empresa pública e cotada de Noruega nós não damos dados locais de cada mercado. No caso dos instaladores, creio que na Europa toda temos mais de 800 empresas instaladoras. Em Portugal a maior parte das empresas que fazem este serviço estão registadas na nossa aplicação. Nem todas estão operacionais e nem todas recebem projetos porque nem todas cumprem aqueles três fatores que nós usamos para garantir as instalações.

No que diz respeito aos clientes nós não partilhamos os dados, o que posso dizer é que mais de dois terços das vendas são feitas no modelo de subscrição. Nós usamos um valor que é meramente indicativo que são as mil instalações dentro do primeiro ano de atividade e o que posso dizer é que estamos num ritmo bastante mais acelerado para atingir esse objetivo do que aquele que nós esperaríamos inicialmente. Portanto, para todos os indicadores que nós estamos a olhar, estamos a conseguir ultrapassar as expetativas e acreditamos que vamos atingir esse número muito antes de fazermos um ano de operações.

Das mil instalações no primeiro ano.
Exatamente.

As empresas de instalação que trabalham convosco pagam para estar na vossa plataforma?
Não, não têm qualquer custo. A única coisa que lhes pedimos é para nos dizerem qual é o valor a que estão dispostas a vender os seus serviços. As empresas podem, de uma forma bastante descritiva até, colocar quanto é que cobram por este painel, quanto é que cobram por aquele cabo, quanto é que cobram pela hora de trabalho ou quanto é que cobram pelo quilómetro de deslocação. Tudo isto vai ser tido em conta quando é calculado o valor do projeto. Ao valor do projeto nós colocamos uma comissão, e é aí que nós fazemos dinheiro.

Estamos a conseguir ultrapassar as expetativas e acreditamos que vamos atingir esse número muito antes de fazermos um ano de operações.

Quanto é que custa ter um painel fotovoltaico?
É muito variável de acordo com a família, varia com o consumo, com o espaço disponível, eu diria que um sistema normal anda entre os 3 mil e os 6 mil euros, eu sei que é um intervalo bastante grande, mas é para apanhar a maioria dos casos.

E estamos a falar de sistemas sem bateria. Obviamente que há uma possibilidade de se adicionar uma bateria ou um sistema de painéis fotovoltaicos. Um sistema de painéis solares só produz energia quando há sol. Quando não há luz solar não está a produzir energia. E as baterias são uma forma de reter a energia que foi produzida durante o dia para que esta possa ser usada durante a noite. Muitas vezes o custo da bateria é um custo bastante elevado. Num sistema de 3 mil euros conseguimos chegar quase aos 6 mil se tiver uma bateria acoplada. A bateria ainda é, dentro das componentes tecnológicas no sistema de painéis solares, a componente menos desenvolvida do ponto de vista de opções, de competitividade e de longevidade.

Tem ideia do grau de penetração destes painéis no nosso mercado?
Sim, estimamos que o mercado residencial esteja entre os 3 e os 5% de penetração. O que significa que a larga maioria, entre 95 e 97% das pessoas que podem ter um painel solar em casa ainda não o têm. E é fácil de ver. Eu, por exemplo, estou a olhar aqui pela janela, estou na zona de Alvalade, e aqui por baixo está um conjunto de telhados e de prédios baixinhos e a maior parte destes telhados não têm painéis. Nós conseguimos vender esse potencial na rua.

Se nós viajarmos pela Holanda ou pela Noruega, a maior parte dos telhados têm painéis solares e estamos a falar de países que têm um potencial de produção mais baixo do que Portugal. Portugal é o segundo país da Europa com maior potencial de geração de energia através de sistemas de energia centralizada.

Em termos de poupança mensal, quanto é que uma família típica pode poupar com estes painéis? Ou se quiser, quantos anos levo a recuperar o meu investimento?
A poupança que nós estimamos de forma até um bocadinho conservadora, ou seja, se a família não mudasse o padrão de consumo, estamos a falar de cerca de 40% de redução da fatura da eletricidade. Vamos supor que uma família tem uma fatura de eletricidade de 100 euros por mês. Com o sistema adequado ao seu consumo pode reduzir a fatura para cerca de 60 euros. Temos de nos lembrar que se o sistema não tem bateria, a família precisa de continuar a consumir energia durante a noite, tem de a ir comprar à rede.

A poupança que nós estimamos de forma até um bocadinho conservadora, ou seja, se a família não mudasse o padrão de consumo, estamos a falar de cerca de 40% de redução da fatura da eletricidade.

Mas existe um conjunto de coisas que essa mesma família pode fazer para poupar ainda mais. Uma delas é vender o excedente da energia que produz. Nós produzimos energia solar nos nossos telhados, mas não a consumimos toda para a nossa casa. Parte dessa energia é reposta na rede. Em Portugal é possível a qualquer pessoa vender essa energia. Eu não faria disso um negócio para a minha casa, mas ajuda a aumentar a poupança no final do mês. O preço depende da operadora e hoje em dia há um conjunto de oportunidades, desde operadoras grandes a comunidades de energia que estão dispostas a comprar o excedente de energia das pessoas.

Depois de instalar o painel, posso chegar ao pé do meu comercializador de energia e dizer-lhe que quero vender o excesso de energia que produzo. É isso?
É possível. Obviamente que cada comercializador terá as suas condições diferentes. Se o cliente nos pede, a própria ERSE tem uma lista de comercializadores em Portugal que compram energia e nós partilhamos essa lista.

Outro truque para a família poupar, é que a família pode passar a estar no regime bi-horário, ou seja, a pagar mais pela energia durante o dia e menos durante a noite. Isso vai fazer com que quando a energia é mais cara, a família esteja a produzir porque ainda é dia. Quando a energia lhe é mais barata, é quando ela precisa de consumir energia da rede.

Finalmente outra das coisas que nós notamos nas famílias depois de instalarem os sistemas é que alteraram ou ajustaram o seu padrão de consumo. A máquina de secar roupa ou máquina de lavar roupa que trabalhava à noite passou a trabalhar durante o dia e isso faz com que a poupança seja ainda maior. E já agora há um último, um último fator, aí não depende da ação da família, que é o preço da energia. Se o preço da energia aumentar, a poupança gerada por nós termos a nossa própria fonte de produção de energia vai ser maior.

E sobre o tempo que levo a recuperar o investimento?
Sobre o retorno do investimento, no caso da compra única, mais uma vez depende muito dos sistemas, mas 6 ou 7 anos é o suficiente para se pagar a totalidade do sistema. Mas mais uma vez, nesses casos é necessário ter o dinheiro para investir inicialmente.

No caso da subscrição a pessoa poupa imediatamente. Vamos supor aquele exemplo da família dos 100 euros. Dos 100 passa para os 60 euros, portanto a família ficou com 40 euros no bolso. Desses 40 euros vai pagar, suponhamos, 30 euros de subscrição à Otovo. Na mesma sobraram 10 euros no final desse mês. No final de um ano estamos a falar de mais de um mês de eletricidade.

Por isso é que vocês no site falam em democratização do acesso, porque permite às pessoas aceder, mesmo não tendo à cabeça o dinheiro para investir.
Sim, há uma nuance neste ponto que é bastante importante e que pode tornar-se ainda mais relevante nos próximos meses. Tem a ver com os próprios subsídios e os próprios incentivos do Governo e do Fundo Ambiental. Com este tipo de subsídios, em geral, as famílias têm de ter o dinheiro primeiro para receberem o reembolso mais tarde por parte do Estado. Mas têm que ter esse dinheiro posto de parte. O modelo de subscrição não exige isso. Acreditamos que também essas famílias que não têm o dinheiro inicial, mas que estão dispostas a fazer parte da transição energética, também devem ser incluídas neste tipo de planos ou incentivos como o do Fundo Ambiental.

O Fundo Ambiental continua ativo?
Já esteve aberto até ao ano passado, entretanto fechou e o Governo já disse que vai reabrir, mas ainda não reabriu. Não temos uma data ainda para que isso aconteça.

Aquilo que aconteceu nas versões anteriores é que só pode concorrer ao fundo quem tem o dinheiro de lado para investir no sistema em primeiro lugar, porque o fundo exigia como condição que o sistema tivesse sido pago e instalado pelo cliente. No modelo de subscrição, da forma como ele existe hoje, se as regras não mudarem, é pouco provável que o modelo seja elegível para o Fundo Ambiental. Mas é precisamente essa a importância do modelo porque permite que as famílias que ficam de fora até do Fundo Ambiental possam na mesma aderir ao autoconsumo por não precisarem desse investimento inicial.

Em Espanha nós tivemos um conjunto de incentivos parecidos com o do Fundo Ambiental onde o modelo de subscrição também era elegível, ou seja, as pessoas podiam na mesma aderir ao autoconsumo sem ter que ter um dinheiro para investir inicialmente e serem reembolsadas pelo próprio Estado. Era uma forma de fazer com que o dinheiro chegasse à família sem que a família tivesse de o ter gasto primeiro.

Quando entraram em Portugal, o vosso CEO (Andreas Thorsheim) dizia que somos “um dos países da Europa que mais podem beneficiar da energia solar”. Nós aproveitamos bem o nosso sol?
Sim e um não. Sim no sentido em que existe cada vez mais uma iniciativa de origem portuguesa no sentido de aproveitarmos o sol, mas ainda não atingimos esse potencial. Se pensarmos no mercado residencial, no mercado em que a Otovo se foca, não existem, ou não existiam até nós chegarmos, muitas funções orientadas para a maximização da poupança das famílias, ou seja, para aproveitar esse recurso e usá-lo no nosso interesse. Cada vez mais existem opções que permitem às pessoas aproveitarem esse recurso, mas ainda estamos longe do potencial que temos para o aproveitar.

Estes grandes players como a EDP e a Galp que também têm esse negócio podem fazer parte da vossa plataforma?
Não quero responder por eles. O que eu posso dizer é que nós temos uma parceria bastante bem-sucedida em França com a Iberdrola que também opera no mercado energético. Eles têm a sua oferta de sistemas de painéis fotovoltaicos, mas quem executa e quem faz a parte do dimensionamento, de instalação e projeto é a Otovo. É um bocadinho como marca branca nesse caso. Acho que existem inúmeras formas de parceria e de colaboração entre essas empresas.

Eu diria que existem várias formas e oportunidades de parceria neste caso. Mas nós somos uma empresa que acabou de chegar ao mercado português, temos algumas boas práticas que já foram testadas noutros mercados e que acreditamos que fazem sentido para Portugal. Neste momento o nosso foco é em crescer e levar cada vez mais famílias para o autoconsumo e ajudá-las na transição energética com o objetivo de poupar dinheiro.

Vocês têm concorrentes em Portugal a fazer a mesma coisa?
No caso da subscrição não existe e no caso do marketplace, do ponto de vista de relevância é possível que existam iniciativas a começar que eu ainda não conheço, mas tanto quando saiba a Otovo é a principal a operar neste segmento. Estamos a falar num mercado que era sobretudo ocupado pelos grandes operadores, pelas empresas que são comercializadoras, e depois temos os instaladores que faziam a venda diretamente nas suas localidades. Havia aqui um espaço no meio para um ator de dimensão nacional que não estava necessariamente a ser ocupado.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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