Os fundos mais sustentáveis do mercado têm “80 milhões de euros de ativos sob gestão"
O BPI foi a primeira sociedade gestora a vender no mercado fundos de investimento com a classificação máxima de sustentabilidade, validada pelo artigo 9º do regulamento SFDR. Adérito Oliveira, responsável pela área de sustentabilidade da BPI GA, revela ao Expresso SER que têm sido sobretudo os particulares a comprar o produto
Foi em maio do ano passado que o BPI lançou no mercado nacional uma nova família de fundos de investimento mobiliário designada de “BPI Impacto Clima”, os primeiros em Portugal com a classificação máxima em termos de sustentabilidade. São cinco fundos que cumprem todos os requisitos de transparência exigidos pelo artigo 9º do Regulamento 2019/2088.
As regras europeias obrigam a indústria dos fundos a respeitar o Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis (Sustainable Finance Disclosure Regulation – SFDR). Como tal, as sociedades gestoras são obrigadas por este regulamento a classificar os seus produtos financeiros em três categorias, de acordo com o grau de sustentabilidade. Estas categorias são definidas nos artigos 6º, 8º e 9º do tal regulamento SFDR.
Os produtos financeiros classificados como fazendo parte do artigo 9º do SFDR são aqueles que dão aos clientes a garantia mais segura de que estão a investir num produto que aposta em empresas sustentáveis. Adérito Oliveira, responsável pela área de sustentabilidade da BPI GA, explicou ao Expresso SER que em maio de 2022, a sociedade gestora foi a primeira em Portugal a lançar fundos com este carimbo, denominados “BPI Impacto Clima”. Atualmente, estes cinco fundos já contam com “80 milhões de euros de ativos sob gestão”, segundo a contabilização feita por Adérito Oliveira.
O gestor garante que têm sido sobretudo os investidores particulares a comprar estes produtos “que contribuem para os objetivos de desenvolvimentos sustentável (ODS) das Nações Unidas, em particular, os relacionados com a ação climática”.
Sobre a rendibilidade do produto, a APFIPP (Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios) ainda não tem dados para estes fundos por estarem há menos de um ano no mercado, mas Adérito Oliveira opta por colocar alguma água na fervura: “Estes fundos permitirão ir ao encontro das preferências dos investidores em matérias de sustentabilidade, e a rentabilidade deixa de ser a variável dominante – terá que haver um equilíbrio entre a rentabilidade que é possível gerar considerando os riscos e as oportunidades em termos de sustentabilidade”.
O BPI foi o primeiro a lançar fundos que cumprem com os requisitos de transparência do Artigo 9º do SFDR. Porquê esta aposta? A aposta na sustentabilidade não é de agora, é um trabalho que temos vindo a realizar ao longo dos últimos anos. Como sinal do nosso compromisso, em 2019, a BPI Gestão de Ativos foi a primeira sociedade gestora de fundos de investimento mobiliário a aderir aos Princípios para o Investimento Responsável (PRI), iniciativa da comunidade financeira e fomentada pelas Nações Unidas para contribuir para o desenvolvimento de um sistema financeiro mais estável e sustentável através da implementação de seis princípios. Fomos também os primeiros a aderir ao Climate Action 100+, uma plataforma de diálogo colaborativo que visa diminuir a pegada carbónica das 100 empresas mais poluentes do mundo. Em 2021, formalizámos a adesão ao Global Compact das Nações Unidas, comprometendo-nos com os dez princípios relacionados com Direitos Humanos, Direitos Laborais, Meio Ambiente e Corrupção.
Dando continuidade a este caminho de investimento sustentável e responsável, em maio de 2022, lançámos a gama “BPI Impacto Clima” composta por cinco fundos. Estes são os primeiros fundos portugueses que cumprem com os requisitos de transparência do artigo 9º – considerado o mais exigente – do Regulamento 2019/2088 de divulgação de informações relacionadas com a sustentabilidade.
Subjacente a este lançamento está a consciência de que, apesar de cada um de nós poder e dever, através das nossas ações individuais contribuir para a ação climática, tal não é suficiente. As empresas, através dos seus processos industriais, são as maiores responsáveis pela emissão de gases com efeitos de estufa. Entendemos que é também da inovação e da transformação destes processos que se podem alcançar resultados com impacto nas alterações climáticas e na mitigação dos seus efeitos.
O BPI tem atualmente 5 fundos que cumprem os requisitos para serem classificados com artigo de 9 no âmbito do SFDR. Qual tem sido a receção do mercado? Apesar do contexto de mercado desfavorável em 2022, o fundo teve uma boa recetividade junto dos clientes e das equipas comerciais, e as diversas ações de comunicação, dinamização e formação realizadas, relacionadas com o investimento sustentável, foram também acolhidas com muito interesse em diversos pontos do país.
A nova gama de Fundos de Investimento Sustentáveis, “BPI Impacto Clima”, foi criada em maio de 2022 e já conta com cerca de 80 milhões de euros de ativos sob gestão.
Como é que são escolhidas as empresas/ativos para integrar estes fundos com o carimbo do artigo do 9? Os nossos fundos “BPI Impacto Clima” visam investir em atividades económicas que contribuem para os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) das Nações Unidas, em particular, os relacionados com a ação climática.
A nossa estratégia de gestão tem como objetivo investir em empresas alinhadas com os ODS 7-Energias Renováveis, 12-Produção e Consumo Sustentáveis e 13-Ação Climática, sendo um pilar importante da carteira. Na componente de obrigações investimos sobretudo nas “ESG Bonds” – obrigações verdes (green bonds) ou sustentáveis (sustainable ou sustainability-linked bonds), que cumpram com os padrões relevantes.
Na seleção de ativos, bem como na alocação entre obrigações e ações, é tido em conta o perfil de risco de cada fundo da gama. Os fundos estão divididos em níveis de risco, permitindo que os investidores tenham uma oferta adequada ao seu perfil de investimento. Construímos uma gama constituída por fundos com diferentes níveis de risco e exposição acionista para responder a cada perfil. Desde fundos com menor risco (e menor exposição acionista) como o "BPI Impacto Clima – Moderado", fundos de risco médio (e exposição acionista intermédia) como “BPI Impacto Clima– Dinâmico” e até fundos de alto risco (e maior exposição acionista) como o "BPI Impacto Clima – Agressivo". Os fundos "BPI Impacto Clima – Ações" e o “BPI Impacto Clima– Obrigações" são fundos que têm como objetivo investir na totalidade em Ações e Obrigações, respetivamente.
“As empresas, através dos seus processos industriais, são as maiores responsáveis pela emissão de gases com efeitos de estufa.”
Estão a pensar colocar no mercado mais produtos com esta classificação? A estratégia da BPI Gestão de Ativos assenta numa adaptação da oferta e das carteiras geridas às condições de mercado e aos seus clientes, pelo que revisitamos em permanência a necessidade de criação de novos fundos ou a adaptação de existentes.
Entendemos que a sustentabilidade é um tema que vai ocupar cada vez mais espaço na oferta de produtos de investimento. Esta visão será certamente considerada em futuras alterações da oferta.
O BPI também é uma das gestoras com mais fundos com a classificação de artigo 8. Qual é o montante sob gestão destes produtos, com categoria 8 e 9? Neste momento, temos a seguinte distribuição: 2.026 milhões de euros de fundos com a classificação do artigo 8º, e 80 milhões de euros de fundos com a classificação do artigo 9º.
Há muita procura por fundos com características ESG? Que tipo de investidores compram estes produtos? Os fundos com este tipo de características têm tido bastante procura a nível global. O interesse começou por clientes institucionais, mas a notoriedade dos temas ESG e a crescente preocupação com temas de sustentabilidade por parte da população em geral está também a fazer crescer o interesse por parte de clientes particulares.
As colocações da nossa gama de fundos “BPI Impacto Clima”, em particular do BPI Impacto Clima - Moderado e BPI Impacto Clima - Dinâmico vêm sobretudo de clientes particulares.
Em termos de rendibilidade, os fundos com caraterísticas ESG já são competitivos? Há que ter em consideração que há uma grande diversidade de fundos que podem evidenciar diferentes níveis de incorporação de fatores ESG, desde abordagens de exclusões ou temáticas, como os fundos que seguem índices denominados ESG, até aos com objetivos de investimento sustentável, como os fundos de impacto.
A rentabilidade dos fundos com exclusões significativas ou objetivos de sustentabilidade mais exigentes pode ser impactada não só pelas condições gerais dos mercados, mas também pelas estratégias que seguem, dos objetivos que perseguem, das classes de ativos em que investem, tal como acontece na generalidade dos fundos de investimento.
A integração de informação sobre considerações ambientais, sociais e de governance (ESG) no processo de investimento deverá permitir uma avaliação robusta dos riscos e oportunidades que poderão ser usadas para gerar uma rentabilidade a médio prazo alinhada com o nível de risco de cada produto.
Acima de tudo, estes fundos permitirão ir ao encontro das preferências dos investidores em matérias de sustentabilidade, e a rentabilidade deixa de ser a variável dominante - terá que haver um equilíbrio entre a rentabilidade que é possível gerar considerando os riscos e as oportunidades em termos de sustentabilidade.
Ou seja, a escolha de investir em fundos com exclusões ou objetivos de sustentabilidade não se deve basear apenas em expetativas de rentabilidade, e a estratégia deve estar alinhada com os princípios e valores do cliente (e da gestora de ativos) bem como com os seus objetivos de investimento em termos de risco e de rentabilidade.
A alta do preço da energia por causa da guerra não veio tirar algum brilho aos produtos financeiros ESG em termos de retorno? Os fundos com objetivos de sustentabilidade procuram capturar rentabilidade no longo prazo e a sua rentabilidade, sobretudo no curto prazo, pode ser impactada pelas circunstâncias económicas e geopolíticas.
Consideramos que a subida expressiva dos preços da energia a que assistimos reforça a importância da incorporação da sustentabilidade aquando se avaliam oportunidades de investimento. A menor dependência energética face a fornecedores com interesses instáveis e divergentes, reforça a competitividade das economias que lideram a transição energética evitando/minimizando o impacto e a incerteza dos eventos geopolíticos nas suas economias. Isto explica, em grande medida, o excelente desempenho relativo da península ibérica, por exemplo.
A aceleração dos preços da energia reforçou a importância de investir para acelerar a transição energética não só pela sustentabilidade do planeta, mas também para acelerar a competitividade das economias e das empresas num fator de produção tão importante como o preço da energia.
Ainda assim, alguns produtos mais ligados a exclusões de setores, indústrias ou determinadas características ESG (por exemplo ratings ESG acima de determinado patamar ou que excluem petrolíferas) podem ver o seu desempenho mais afetado e vir a sentir menos procura por parte de institucionais e particulares.