Saúde

Gandra d'Almeida demite-se da direção executiva do SNS após a SIC noticiar acumulação de salários

Gandra d'Almeida
Gandra d'Almeida
ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Diretor executivo do SNS terá recebido 200 mil euros indevidamente antes de aceitar convite do Governo para dirigir saúde pública. Abandona o cargo sequência de uma investigação da SIC, tendo a demissão já sido aceite pela ministra da saúde, Ana Paula Martins

Gandra d'Almeida demite-se da direção executiva do SNS após a SIC noticiar acumulação de salários

Rui Gustavo

Jornalista

Apesar de considerar que a reportagem da SIC que noticiou a acumulação ilegal de cargos ter "imprecisões e falsidades" que "lesam" o seu nome, António Gandra d'Almeida demitiu-se esta sexta-feira do cargo de diretor executivo do Sistema Nacional de Saúde, um pedido já aceite pela ministra da Saúde.

Numa nota enviada aos órgãos de comunicação social, o militar explica: "Embora entenda que não cometi qualquer ilegalidade ou irregularidade, para defesa do SNS e, com não menos importância, para protecção da minha Família e do futuro que queremos seja de dignidade, pedi, hoje mesmo, a Sua Excelência a Ministra da Saúde, que me dispense de imediato do exercício das minhas atuais funções".

A Ministra da Saúde, "atendendo às circunstâncias e a importância de preservar o SNS", aceitou o pedido de demissão, agradecendo o "trabalho competente" realizado por Gandra d'Almeida e esperando que "a situação se esclareça no mais breve prazo". Para além disso, na mesma nota, anuncia-se que o substituto "será anunciado nos próximos dias".

Questionada pelo “Público”, a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) também adiantou que irá abrir um processo de inspecção.

Segundo a investigação da SIC, o agora ex-diretor executivo do SNS acumulou, durante mais de dois anos, as funções de diretor do INEM do Norte com as de médico tarefeiro nas Urgências de Faro e Portimão.

A lei diz que é incompatível, mas Gandra D'Almeida conseguiu que o INEM lhe desse uma autorização com a garantia de que não ia receber vencimento. No entanto, de acordo com os documentos a que a SIC teve acesso, Gandra D'Almeida recebeu mais de 200 mil euros por esses turnos.

Os contratos dos hospitais eram celebrados com uma empresa que Gandra D'Almeida criou com a mulher e da qual era gerente. Os contratos são claros, dizem que os serviços médicos seriam prestados pelo cirurgião geral nas unidades hospitalares, e que esse trabalho valia 50 euros à hora.

Gandra d'Almeida sustenta que a peça da SIC "contém imprecisões e falsidades que lesam" o seu "bom nome e, portanto, a condição primeira para que possa servir, com toda a liberdade o SNS, os seus profissionais e os seus utentes, e honrar o convite que" lhe "foi feito pelo Governo".

Um homem do Exército e especialista em cirurgia geral

O agora demissionário é licenciado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e é Tenente-Coronel Médico dos quadros permanentes do Exército e especialista em cirurgia geral. Tem a competência em gestão de serviços de saúde, emergência e medicina militar pela Ordem dos Médicos e ocupava o cargo de diretor-executivo do SNS desde maio de 2024. Tem 45 anos.

De acordo com uma noticia do Público, António Gandra d´Almeida também está a ser investigado pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) após uma denúncia anónima sobre um eventual incumprimento “das normas e orientações técnicas do Sistema Integrado de Gestão do Acesso (SIGA SNS)”. Segundo a denuncia, teria passado à frente nas listas de espera para uma cirurgia plástica.

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