Saúde

Ter o plano de inverno pronto é bom mas "os nossos recursos vão continuar a faltar no próximo inverno"

Ter o plano de inverno pronto é bom mas "os nossos recursos vão continuar a faltar no próximo inverno"

Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, acha positivo que o plano de inverno esteja praticamente pronto, mas “não gostava que embandeirássemos em arco”. Os problemas no Serviço Nacional de Saúde vão manter-se, até que haja uma reestruturação profunda

O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares alerta que o facto de o plano de inverno estar "prestes a sair", como foi anunciado em entrevista ao Expresso pelo diretor executivo do SNS, não é garantia de que não haverá problemas.

Em entrevista telefónica à agência Lusa, um dia depois do diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) ter anunciado que tem o plano de inverno pronto e "prestes a sair", Xavier Barreto alertou: “Este planeamento com tanta antecedência é bom, mas que não se crie a ideia de que não vamos ter problemas.”

O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) aplaudiu os anúncios de Gandra D´Almeida fez, em entrevista ao Expresso, sobre a reorganização de urgências e sobre o plano de inverno, entre outras medidas, mas pediu cautela.

"Não gostava que embandeirássemos em arco achando que por termos o plano de inverno divulgado com três ou quatro meses de antecedência que isso é garantia de um inverno sem problemas. Isso não é verdade, lamento dizê-lo. Os nossos recursos vão continuar a faltar no próximo inverno e talvez no próximo verão", referiu.

Para Xavier Barreto, "a não ser que se façam mudanças estruturais com impacto como a reforma da rede de urgências, o enceramento de algumas urgências ou a alteração das equipas tipo, não se resolve o problema".

O presidente da APAH considerou que "cumprindo os requisitos de qualidade, é possível uma redução das equipas", mas alertou para a dificuldade em prever o que acontecerá no inverno.

"A DE-SNS pediu, e bem, ontem [quarta-feira] à noite aos hospitais que informem quais são as escalas que têm previstas para o inverno. Mas com quatro meses de antecedência não é possível fazer previsões. Há profissionais que não sabem se daqui a quatro meses estão doentes ou de licença", exemplificou.

O responsável lembrou, ainda, que parte significativa das escalas dos hospitais é garantida por prestadores de serviço, profissionais sem vínculo que se faltarem não podem ser responsabilizados disciplinarmente.

"Em alguns hospitais, mais de metade dos turnos são garantidos por prestadores de serviço (...) Se faltarem, legalmente não há consequências. Podemos não contratar, mas não podemos agir disciplinarmente. Há muitos fatores de incerteza", disse.

Ressalvando que a situação na saúde "não é culpa da DE-SNS", mas "sim das políticas de saúde de vários governos em vários anos", Xavier Barreto resumiu: "Vamos continuar a ter problemas e cá estaremos para os resolver".

Concentração em Lisboa “viável”

Xavier Barreto comentou ainda a ideia de concentrar urgências de obstetrícia em Lisboa, outra questão abordada na entrevista ao Expresso. "Do nosso ponto de vista [é uma medida viável] e já devia ter acontecido há mais tempo. É uma medida que já defendemos há muito tempo, que pode resultar em benefício da população, em benefício das grávidas. Faz muito mais sentido termos uma resposta mais efetiva e mais capaz num conjunto de maternidades", disse o presidente da APAH.

"Encerrar urgências em Portugal tem oposição dos autarcas, dos partidos da oposição que usam isso como arma de arremesso político (...). Temos apelado a um consenso alargado para as reformas na saúde que são necessárias fazer. Mas infelizmente, pelo que temos assistido, parece que estamos ainda muito longe disso", disse Xavier Barreto.

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