Saúde

Doentes ligeiros encaminhados pela linha SNS24 esperam mais do que os restantes no acesso às urgências

Doentes ligeiros encaminhados pela linha SNS24 esperam mais do que os restantes no acesso às urgências

No total, a ERS recebeu 674 reclamações sobre a Linha SNS 24 em oito anos, e 4% dos utentes queixaram-se da falta de dispensa no pagamento da taxa moderadora nas urgências

O tempo de espera médio para os utentes que sejam referenciados pela Linha SNS24 tende a ser superior ao dos restantes doentes, segundo concluiu um estudo divulgado esta quinta-feira pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS), motivando o regulador a emitir um alerta de supervisão aos estabelecimentos públicos de saúde devido à gravidade da situação.

Numa nota publicada no seu site, a ERS explica que, analisando o período entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2022, e “considerando 3 (três) graus prioridades clínicas (urgente, pouco urgente e não urgente)”, apurou-se que “o tempo médio de espera foi superior no caso dos utentes previamente referenciados pela Linha SNS 24, embora a diferença no tempo médio de espera se tenha revelado menor à medida que a prioridade clínica aumenta”.

Os dados, analisados pelo Diário de Notícias, apontam que o tempo médio de espera por doentes não-urgentes encaminhados pelo serviço telefónico foi de cerca de 1 hora e 30 minutos, enquanto que os doentes não-urgentes sem referenciação prévia esperaram em média cerca de 1 hora e 12 minutos; para os doentes “pouco urgentes” que chegaram às urgências pelo SNS 24, o tempo foi de 56 minutos, mas para os restantes doentes “pouco urgentes” foi de 47 minutos.

O estudo não fala sobre episódios clínicos mais graves, considerados emergentes (pulseira vermelha) ou muito urgentes (laranja), já que o objetivo da Linha SNS 24 é precisamente evitar a ida às urgências de doentes não-urgentes.

No total, a ERS recebeu 674 reclamações relativas à Linha SNS 24 em mais de oito anos, das quais 58% dizem respeito ao encaminhamento de utentes para unidades de cuidados de saúde primários sem capacidade de atendimento.

As reclamações registaram-se entre 1 de janeiro de 2015 e 31 de maio de 2023.

No período em análise, verificou-se que 58% dos utentes encaminhados para unidades de Cuidados de Saúde Primários (CSP) obtiveram consulta até 72 horas após o seu encaminhamento, sendo que, destes, 49% foram admitidos até 24 horas após o contacto da Linha SNS 24, dentro do tempo máximo de resposta garantido previsto para atendimento por motivo relacionado com doença aguda.

Por seu turno, 42% dos utentes encaminhados pela Linha SNS 24 não conseguiram uma consulta no centro de saúde até 72 horas após a sua referenciação, "não tendo sido possível apurar, contudo, se tal ocorreu por falta de iniciativa dos utentes e/ou por falta de capacidade dos estabelecimentos de saúde visados".

"Da análise ao período mais recente, considerando apenas os dados entre 1 março de 2021 e 31 de dezembro de 2022, é de salientar que 80% dos utentes admitidos nos CSP até 72 horas após a referenciação pela Linha SNS 24 foram observados na primeira hora após a sua admissão, em cumprimento dos TMRG [tempos máximos de resposta garantidos] aplicáveis neste contexto", refere.

Considerando o rácio de reclamações por 100.000 habitantes, foi registado um maior volume (424 queixas) na Administração Regional de Saúde de Lisboa (ARS) Lisboa e Vale do Tejo.

"Entre os anos de 2018 e 2019, o número de reclamações associadas à Linha SNS 24 cresceu aproximadamente 219%, tendo sofrido uma variação negativa de 49% em 2020, ano em que se iniciou a pandemia, e retomado a tendência de aumento em 2021 e 2022, face ao ano anterior, (39% em 2021 e 64% em 2022)", observa.

Já no que se refere à atribuição de dispensa no pagamento da taxa moderadora, o estudo concluiu que, em 2021 e 2022, 4% (23.845) dos utentes não beneficiaram de tal prerrogativa, sendo certo que 3% de reclamações analisadas fazem menção a esse facto.

“Nos termos do artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 113/2011, de 29 de novembro, na sua atual redação, as instituições hospitalares integradas no SNS deverão garantir que a cobrança de taxas moderadoras é dispensada no atendimento em serviço de urgência nas situações em que há referenciação prévia pelo SNS, encontrando-se aí incluída, a referenciação prévia efetuada pela Linha SNS 24”, acrescenta a entidade.

A Linha SNS 24 (808242424) viu o seu volume de chamadas telefónicas aumentar 513%, entre 2019 e 2022, devido à pandemia de covid-19.

Citando dados dos Serviços Partilhados do Ministérios da Saúde (SPMS), o estudo, iniciado em 2023, sublinha que o volume de atividade do serviço de atendimento, triagem e acompanhamento de utentes (STAE) passou de 1.331.675 para 8.164.523 chamadas telefónicas por ano.

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