
João Paulo Martins revela os maiores segredos do mundo dos vinhos
Os vinhos que hoje selecionei são todos da região de Champagne e todos se vendem por cá. Nunca é demais recordar que qualquer vinho espumante feito fora daquela região francesa não deve ser apelidado de champanhe. A região é prolífica em marcas; conhecemos algumas porque já provámos, outras que ouvimos falar e já vimos os rótulos, mas há uma imensidão de marcas que não imaginamos de onde vêm. A razão de ser de tanta marca é o assunto desta crónica. Todas as garrafas de Champagne indicam, através de uma sigla com duas letras, o tipo de produtor/empresa que comercializa o produto. Como se vê na sugestão da semana, à frente do nome do produtor de cada vinho que sugiro, vêm duas letras e são elas que identificam a casa. Escolhi três produtores com designações diferentes, entre as sete possíveis, que são: NM — Négociant Manipulant; RM — Récoltant Manipulant; CM — Coopérative de Manipulation; RC — Récoltant Coopérateur; SR — Societé de Récoltants; ND — Négociant Distributeur e MA — Marque d’Acheteur.
Quase todas as grandes marcas que conhecemos e já provámos entram na categoria NM — empresas que compram uvas aos lavradores e comercializam com as suas marcas, do Moët & Chandon à Veuve Cliqquot e todas as outras; os RM são os produtores/engarrafadores que comercializam os vinhos com a sua marca e feitos com as suas uvas, como Eric Rodez; as adegas cooperativas (cerca de 100 na região) comercializam os vinhos feitos com as uvas dos seus cooperantes. São verdadeiros gigantes — como a Nicolas Feuillatte — que, após a criação da empresa em 1972, lançou em 1976 esta marca emblemática; hoje abrange 5000 viticultores, é a marca mais vendida em França e a 3ª no mundo, com 10 milhões de garrafas. Há cooperativas com nomes sonantes, como Devaux, Collet ou Castelnau, entre inúmeras outras. A marca Palmer foi criada em 1947 por sete famílias e, ainda que incluída na designação CM, não é uma adega cooperativa. A sigla RC corresponde a uma ‘fórmula’ bem interessante: o produtor entrega as uvas na cooperativa e recebe vinho engarrafado para poder fazer ele o estágio e dégorgement, podendo posteriormente comercializar com a sua marca própria. É este modelo que faz o número de marcas no mercado disparar para, dizem-me, mais de 3000, nomes para nós desconhecidos. As grandes superfícies que comercializam champanhe de marca própria entram na categoria MA. A sigla SR identifica um conjunto de produtores que usam a mesma adega para fazer cada um o seu vinho com a sua marca; os que têm a sigla ND identificam um distribuidor que não vinifica (compra já feito) e apenas distribui vinho com a sua marca. Um particular pode também adquirir garrafas de vinho pronto numa cooperativa para posteriormente comercializar com a sua marca. Há alguns preceitos legais a cumprir (tem de estar inscrito como comprador) mas não é complicado e a garrafa indicará: produzido por X para Y (nome do comprador). Um champanhe com o meu nome? Olha, se calhar não ficava mal...
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