Chapéus há muitos. São brancos e a maioria diz “JMJ, Lisboa 2023”. Lavam-se os pés no Tejo, há sombra debaixo do Arco da Rua Augusta, protetores solares, borrifadores. Às três da tarde, no Terreiro do Paço, os peregrinos usam o que podem para sobreviver aos 28 graus do primeiro dia da Jornada Mundial da Juventude. A estação de Metro do Marquês de Pombal está fechada. Depois dos concertos, o caminho para o Parque Eduardo VII, ou “Colina do Encontro”, na terminologia da organização do evento, faz-se a pé, pela Rua Augusta, Rossio, Restauradores e, depois, pela Avenida da Liberdade acima.
Para-se nos restaurantes, nos gelados, nas pastelarias, mas, nas lojas nem por isso. Ainda perto do rio, os tuk tuk tentam a sua sorte, só que, em vez de clientes, arranjam problemas com a polícia. “Desculpe, tenho de me ir embora daqui porque já estão a multar aquela mota”, diz ao Expresso um guia turístico, ao volante, depois de confessar que o dia lhe está a correr mal. “São muitos, mas não querem nada destas coisas. Se pararem aí é pelos restaurantes, para comer. O dia está a correr muito mal”.
Na Avenida da Liberdade, as lojas estão abertas, mas os funcionários estão à janela a ver passar os peregrinos. Sorriem e acenam. Quase a chegar à Avenida Fontes Pereira de Melo, um casal de moradores tem uma conversa acesa com um agente da Polícia Municipal: “Então, mas eu sou morador e para chegar a casa tenho de ir dar a volta ao El Corte Inglés ou ir quase até aos Restauradores?”.
Pequenos percalços que os peregrinos não sentem. “O primeiro dia das jornadas está a ser tranquilo”. David Cardoso veio de Portimão com um grupo de jovens que foi acolhido por uma paróquia de padres jesuítas. São 25 pessoas de várias nacionalidades e passaram a última semana envolvidos numa experiência sobre ecologia. A única forma que tem de saber se a cidade está a reagir bem à enchente de peregrinos é através das pessoas que vê nos transportes públicos. “Por enquanto, só tenho recebido sorrisos”. O grupo parou na passagem da Rua Augusta para o Rossio para se abastecer de água e comprar gelados.
A missa de abertura da Jornada Mundial da Juventude, presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, começa às 19h. Os peregrinos cobrem o alcatrão da Avenida da Liberdade, numa imagem idílica. Esvoaçam bandeiras de todas as nacionalidades, da Coreia do Sul à China, da Polónia a Portugal, dos Estados Unidos à Argentina. As quase mil árvores que aquela avenida tem não conseguem abafar os cânticos esporádicos que os grupos de jovens vão soltando a plenos pulmões. De uma ponta à outra, o sentimento é comum: todos estão em contagem decrescente para a chegada do Papa a Portugal.
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