Ómicron: Pfizer e Moderna apresentam eficácia superior a quase todas as outras vacinas (e mostram dados sobre a dose de reforço)
ERIC GAILLARD/REUTERS
Os últimos estudos apontam para menor eficácia de quase todas as vacinas conhecidas, excetuando as da Pfizer e da Moderna, que parecem conseguir desacelerar as infeções. As duas empresas apresentaram estudos que indicam um sentido único: a 3.ª dose. “Depois de uma terceira dose, a nossa vacina confere aparentemente uma proteção entre 70 a 75%”, disse o CEO da Pfizer ao “Le Monde”. Neste texto também cabem cocktails e comprimidos
As outras vacinas disponíveis - incluindo as da AstraZeneca, Johnson & Johnson e as fabricadas na China e na Rússia - fazem pouco ou nada para impedir a disseminação da Ómicron, segundo os primeiros estudos que estão a ser publicados.
Os testes conduzidos até agora foram feitos em laboratório - e não (ainda) no “mundo real”. As respostas imunitárias dos humanos não podem ser totalmente reproduzidas em ambientes tão controlados mas podem ser mimetizadas, até certo ponto. E o que se sabe é que, por exemplo, as vacinas chinesas Sinopharm e a Sinovac - que constituem metade de todas as doses administradas no mundo - oferecem quase zero proteção contra a infecção por Ómicron.
Um estudo da Universidade de Hong Kong, que analisou o sangue de 25 pessoas vacinadas com o Sinovac, descobriu que, em laboratório, nenhuma das 25 amostras produziu anticorpos suficientes para bloquear as células invasoras da nova variante. A equipa disse ser expectável que o mesmo aconteça com a da Sinopharm. A China vacinou mais de mil milhões de pessoas com uma destas vacinas, o que pode ser um problema, mas os cientistas que conduziram o estudo continuam a aconselhar um reforço com uma das duas vacinas.
O problema é que a falta de vacinas que impedem a disseminação, principalmente nos países menos desenvolvidos, afeta a progressão da pandemia nesses mesmos lugares e, depois, em todos os outros, já que é nos focos de maior propagação que nascem as novas variantes. E aqui não estamos a falar de doses de reforço – estamos a falar da primeira imunização. África, por exemplo, é um continente com cerca de 1,4 mil milhões de pessoas que recebeu só 404 milhões de doses da vacina e onde apenas 7,8% da população está totalmente vacinada.
Resultados da Moderna e Pfizer
Os estudos com a vacina da Moderna mostram resultados mais promissores. Esta segunda-feira, a empresa anunciou que o reforço com a atual dose autorizada de 50 miligramas (metade da dose que foi dada nas primeiras vacinas) eleva o nível de anticorpos no sangue 37 vezes; a dose total, 100 miligramas, aumenta-o 83 vezes. As reações adversas, como seria de esperar, também são mais fortes no último caso, mas não oferecem razão para alarme, segundo o próprio fabricante, que, para já, vai focar-se em produzir doses extra da sua vacina original. No início do ano pode haver um reforço desenvolvido especificamente para a Ómicron.
“Para responder a esta variante altamente transmissível, a Moderna continuará a tentar desenvolver um reforço específico da Omicron para testes clínicos, caso seja necessário no futuro”, disse Stéphane Bancel, diretor executivo da Moderna, no comunicado que foi publicado a par com os resultados do estudo.
Como escreve Melissa Hawkins, professora de Saúde Pública na American University, em Washington, num artigo para a revista “ The Conversation”, no geral, “os dados iniciais reforçam que uma terceira dose ajudaria a aumentar a resposta imunológica e a proteção contra o Ómicron, com estimativas de eficácia de 70% -75%”.
A Pfizer também relatou que as pessoas que receberam duas doses de sua vacina são suscetíveis à infeção de Ómicron, mas que uma terceira injeção melhora a atividade dos anticorpos contra o vírus. O estudo é pequeno e preliminar, avisa a própria farmacêutica, mas parece demonstrar que três doses conseguem provocar no corpo humano o nível de anticorpos à Ómicron que as duas doses “normais” tinham conseguido contra as outras variantes. Foram testadas apenas 39 amostras de sangue.
Albert Bourla, diretor executivo da Pfizer, e Ugur Sahin, diretor executivo da BioNTech, disseram, em comunicado, que embora duas doses ainda possam prevenir doenças graves causadas pela Ómicron e que esta variante não parece afetar de forma significativa o poder das chamadas “células T”, que matam as células infectadas com covid-19. Em entrevista ao “Le Monde”, Sahin foi mais específico: “Depois de uma terceira dose, a nossa vacina parece conferir uma proteção entre 70 a 75%”
Cocktails e comprimidos
Além da imunização, as várias farmacêuticas envolvidas no desenvolvimento das vacinas também estão a apresentar estudos sobre medicamentos que possam tratar a covid-19, depois de contraída. Na sexta-feira, a AstraZeneca disse que o seu “cocktail de anticorpos” Evushed tem “capacidade neutralizante” contra a Ómicron.
O que é um “cocktail de anticorpos”? Um anticorpo é uma proteína produzida por células do sistema imunológico que tem a forma e o tamanho certos para se prenderem a um ponto específico de alguma coisa que esteja a invadir o nosso sangue, como um vírus ou bactéria. Ao “colar-se” a esse material invasor, o anticorpo pode impedir que as nossas células sejam infetadas por esse corpo estranho ou marcá-lo para que o nosso sistema imunitário o destrua. Os cocktails conhecidos, como o que o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump tomou, são uma combinação de dois ou mais neutralizantes de vírus, que normalmente se completam. Os dados que explicam este comunicado da AstraZeneca são esperados “muito em breve”.
A Pfizer também anunciou recentemente que o seu antiviral, conhecido como Paxlovid, reduz o risco de hospitalização ou morte em até 89% em pacientes de alto risco, de acordo com os resultados finais do ensaio que confirmam dados anteriores. Embora a maior amostra deste estudo tenha sido realizada quando ainda era a Delta a variante dominante, outros testes, em laboratório, mais recentes, mostraram que o medicamento continua a funcionar contra o Ómicron.