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Coronavírus

“O mundo está ao contrário, as pessoas estão a viver a minha vida de antes”: como um doente obsessivo vê os tempos de pandemia

“O mundo está ao contrário, as pessoas estão a viver a minha vida de antes”: como um doente obsessivo vê os tempos de pandemia

Lavar as mãos muitas, muitas vezes, manter a distância física dos outros, lavar sempre a roupa ao chegar a casa. Os doentes com perturbação obsessiva compulsiva na área da contaminação, como M., sempre fizeram tudo o que o vírus nos ensinou, antes de ele chegar. E era doença. M. autodiagnosticou-se e, depois, desistiu de ser médica. Agora, vê este vírus regredir-lhe as melhorias no combate à sua doença, enquanto sente uma harmonia insólita em ser Pessoa Obsessivo-Compulsiva. “O mundo está ao contrário. Parece que as pessoas estão a viver a minha vida de antes, embora com menor sofrimento”

“O mundo está ao contrário, as pessoas estão a viver a minha vida de antes”: como um doente obsessivo vê os tempos de pandemia

Joana Ascensão

Jornalista

“O mundo está ao contrário, as pessoas estão a viver a minha vida de antes”: como um doente obsessivo vê os tempos de pandemia

João Carlos Santos

Fotojornalista

Chegar a casa voltou a ser horrível, “sempre horrível”. Os pensamentos de M. entrecruzam-se, enquanto descalça os sapatos para uma zona suja perto da porta, despe a roupa “automaticamente” para dentro da máquina de lavar e se refugia dentro do chuveiro.

Pode passar lá horas, com “coisas parvas” a sobrevoar-lhe a consciência. Talvez o cotovelo não tenha ficado bem lavado. Agora que tocou com ele na torneira, poderá ela ter ficado conspurcada. É preciso limpar. Pode passar lá horas. Uma, duas. Ficou mal lavado aqui, mal lavado ali. Sente a disseminar-se pela cabeça a possibilidade de ter contraído o vírus e, depois, o tormento de transmitir a doença a quem tem em casa.

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